Um grande amor é um pleonasmo. Um amor é grande, da mesma forma que se sobe para cima e se entra para dentro. O amor não se quantifica. É ou não é. Não é maior nem mais pequeno. Não se ama muito. Ama-se e isso já diz tudo. É por isso que não se pergunta a uma criança se gosta mais do pai ou da mãe. É por isso que não deves perguntar quanto é que te amo. O amor é um sentimento que não se mede aos palmos. Se existe, é absoluto. Se não é absoluto, não é amor.
Eu até me considero uma pessoa de inteligência aceitável, mas há fenómenos que não consigo entender. Estive durante muito tempo a tomar balanço para vos confrontar com isto. Segundo estudos científicos (que acabei de inventar) cerca de 98% da população delira com momentos de lazer sentados à sanita. Não estamos a falar de dificuldades ao nível das tripas - estamos a falar de puro gosto por estar sentado em loiça branca a encetar as mais diversas atividades: jogar nos iPads ou telefones ou ler, contam-se entre as preferidas.
E eu, que só passo o tempo estritamente necessário sentada em loiça sanitária fria, não entendo porque é que estar de calças para baixo, a ficar com as pernas completamente dormentes ao ponto de qualquer pessoa normal se perguntar se estaria paraplégico é algo apetecível.
Não ha sitios melhor para se sentar a ler ou a jogar? Ou estar sossegado, mesmo sozinho? O sofá da sala, o tapete do quarto, os degraus do prédio, um banco de jardim, uma pilha de roupa, um templo budista?
...ver um filme brega no cinema e ir uma reunião dos AA?
Vamos até lá a olhar por cima do ombro, sabemos que não vamos fazer nada de errado (pelo contrário, até), mas há uma certa sensação de vergonha inerente e que está sobretudo na nossa cabeça. E, depois, entramos na sala e de repente estamos num espaço seguro: afinal estamos todos para o mesmo!