Imagine-se uma pessoa que não é amada. Que experimentou um beijo entusiasmado e depois foi fechada numa cela vazia e quieta, sem saber se é para sempre, só com a recordação desse beijo. Por quanto tempo se sentirá viva sem propósito algum?
Não é isso que fazemos aos livros que colecionamos? Lemos todas as páginas, mais sofregamente, ou devagar, a saboreá-las. Depois fechamos a capa, encostamo-los ao peito, felizes pela leitura, tristes porque terminou. Gostámos tanto. Jamais nos poderíamos desfazer dele. Guardamo-lo na prateleira. Não o damos porque já está usado, não o vendemos porque o queremos conosco, não o emprestamos porque sabe Deus que podemos não o ter de volta, não o relemos porque já sabemos a história e gostamos de ser surpreendidos. E ele fica ali arrumado, qual peça decorativa, a ser tocado pelo espanador, volta a abrir-se se alguma vez no meio da limpeza tem a sorte de cair ao chão.
E não me digam que sou ridícula (apesar de ser verdade) e que os livros não têm vida. Quando muito, têm várias. Então fica a questão: os livros morrem por não serem lidos?
Se assim for, nem toda a gente mata os livros (há quem se desfaça delas, quem os empreste com leveza, quem os releia incontáveis vezes), mas eu mato. E mais assassinos haverá por aí. Penso se serei capaz de deixar de ser egoísta e fazer o melhor pelo espécime em papel. Fazer até uns trocos ou fazer outra pessoa feliz. Mas sobretudo isto: ressuscitar o livro. Ou deixá-lo viver. Ser lido. É a mesma coisa. Está bem, eu vou dormir...
Ali mesmo ao pé da porta do hospital e não foi capaz de entrar. Olha m'ésta a querer ser levada em braços como se fosse rainha da pátria. Eu já fui operada três vezes às minhas hérnias e tive de apanhar sempre o autocarro para o Santa Maria e andar um bocado ao sol.
E nem para ligar a pedir ajuda! Levou mais de 15 minutos a ser convencida que a chamada para o 112 não gasta saldo e mesmo assim ainda pediu a alguém porque tinha feito a manicure há pouco e não queria estar a lascar o verniz quando pegasse no telemóvel.
Tanta gente nas urgências, doente, sem ter sequer lugar para se sentar e a sofrer em pé...e logo aquela queria esperar deitadinha. Há gente muito preguiçosa é o que é. Oiça o que lhe digo, menina.
Sempre fui menina para me meter em coisas que fazem cócegas no estômago. Se quando era pequenina a máxima adrenalina se conseguia naquelas chávenas do carrossel grande bem presa entre pai e mãe, quando cresci isso estava já longe de me satisfazer a gula por feira popular. Nunca conheci a de Lisboa - infelizmente - e em Leiria só temos feira com diversões em Maio, pelo que sempre que há alguma coisa nas redondezas faço de tudo para marcar presença e dar uma voltinha. Tudo isto porque não posso andar aí a percorrer mais parques de diversões pelo mundo fora.
O grande problema está na companhia. Isto de gritar sozinha não tem o mesmo encanto. A minha irmã, deu-me a imensa felicidade de vencer o medo (que acho que tinha sido a minha mãe a inculcar-lhe, a bem da verdade, não devia querer perder as duas filhas em simultâneo num acidente com carrinhos coloridos a voar), mas - fina como é - só deixou que isso acontecesse quando a levei à Disney comigo. E eu varadinha de medo de ter pago uma fortuna pelo bilhete e ela não conseguir andar em nada. Correu bem.
E chegamos ao Moço. O Moço é um menino. Tem medo das cócegas na barriga. Não o consigo convencer a alinhar em nada com adrenalina. No entanto, no outro dia, estava eu de birra a querer ir-me embora de uma festa, e ele diz: ficamos mais um bocadinho e eu ando contigo no Kanguru. Nem sabe o que fez à vida dele: era tarde demais para recuar face aos meus olhinhos brilhantes de entusiasmo.
Arrependeu-se, esperneou, quis desistir, mas já não teve hipótese. Foi ele quem deu a ideia. Entramos no Kanguru, que é só por acaso uma das diversões mais ligeirinhas, apesar de ter potencial para partir colunas. Pronto, não é das mais ligeirinhas, sobretudo aquele não era - ao contrário deste da foto que tem cadeiras individuais, ainda era dos antigos, em que uma pessoa vai andando aos tombos de um lado para o outro a colecionar traumatismos enquanto aquilo salta e os mais magros arriscam-se a escorregar para o chão (ou não, ou não).
Aquilo começa a rodar e a saltar e nas primeiras voltas só estava a pensar que tinha feito asneira e nunca mais insistiria com ele para entrar numa coisa daquelas, tal era o seu ar assustado e enjoado, quase de entrega a Deus...Repetia o mantra "não gosto disto, pronto, não gosto disto".
Mas como todas as histórias que envolvem um casal: a mulher tinha razão. No fim já estava entretido e capaz de me acompanhar noutras andanças. Hoje o Kanguru, amanhã o mundo. Vão ver. Vão ver se não o ponho a saltar de um avião um dia destes. Ou talvez ande comigo nas chávenas, vá. Agarradinho.