Aproveitámos para sair do esconderijo hoje. Os humanos estavam distraídos com um tal de Netflix que ia chegar dos Estados Unidos hoje. O Felismino, que é sabido, diz que os humanos são muito de se entusiasmarem com coisas assim: vão ter a possibilidade de pagar por coisas que têm de borla e ficam aos saltos. Ele diz que é para não serem Inácios.
Entretanto o negócio da baba de caracol está a correr de vento em popa. Literalmente. Com o mau tempo, veio uma rajada e demos cabo do stock todo. Não sei se tenho coragem para começar a recolha toda de novo.
Uma ranhoca,
Martim
23 de Outubro de 2015
Querido Diário,
Por esta altura as coisas já deviam ter acalmado. Em Outubro ninguém nos anda a apanhar para nos cozer vivos e só temos de ter os cuidados básicos com os humanos: sair da frente deles para não sermos pisados.
Tem-se revelado uma tarefa especialmente penosa porque os humanos iam para a direita, começamos a ir na direção contrária e eles voltaram à esquerda. Fomos nós para a direita, eles voltaram a virar-se para lá. Uma confusão. Eles não se decidem e nós não sabemos para que lado fugir. O pai diz que o importante e escondermo-nos e não dar cavaco às opiniões dos outros. Não sei bem o que quer dizer com isso.
A nossa meta é chegar à margem sul porque dizem que por lá não há ninguém. Chamam-lhe deserto, mas o Felismino promete que tem plantas e não há camelos para nos pisarem. Se continuarmos a bom ritmo e os humanos pararem de mudar de direção em 2054 estamos lá.
Uma ranhoca,
Martim
[Todas as entradas do Diário do Martim Caracol, aqui.]
A vidinha como vai? (aiiii os “inhos” não é Maria? xD ahahaha)
Não sou muito de me lembrar dos sonhos, raramente me lembro deles com um principio, um meio e um fim, mas este por acaso lembro-me bem, e espero que me possam ajudar realmente a seguir com a minha vida para a frente, que eu cá julgo ser apenas indicador de mau presságio.
Sonhei então que o dia do meu casamento tinha finalmente chegado e eu estava muito feliz. Até descobrir que me tinha esquecido de alguns pormenores importantes para o dia.
Quando fui a vestir o vestido de noiva, descobri que me tinha esquecido de comprar a lingerie, tão importante para a noite de núpcias e muito importante para que as minhas marufas ficassem lá em cima, tendo em conta que o vestido era (e, é) versão cai-cai. O pânico... tive que ir sem soutien (o pavooooor) e o vestido parecia que me estava super largo e estava sempre a escorregar... Mas lá decidi que não era isso que me iria estragar o dia de princesa com que sempre tinha sonhado.
Eis que vou para a igreja, completamente desconfortável e a meio da cerimónia recordo-me que me esqueci de um outro PEQUENO pormenor, do local da boda. Não é que não tinha nenhum lugar para levar os convidados depois do belo casório? O pânico novamente... Começo a suar, a suar, a suar, e já nem ouvia nada que o padre dizia. Decido fingir que nada daquilo estava a acontecer, e levo a cerimónia até ao fim.
Entretanto, quando saímos da igreja, e me vêm perguntar onde vai ser a boda, eu com um ar envergonhado disse que teria que ligar para alguns restaurantes a ver se existia vaga para levar aquela gente toda, tendo em conta que me tinha esquecido desse PORMENOR!...
Só vejo os olhos do noivo a saltar... os olhos dos convidados e saltar... e quando eu estava mesmo a entrar em pânico, acordei! E felizmente vi que estava tudo bem, que podia continuar com a minha vidinha miserável de sempre!
Diga-me lá meninas, é melhor desistir disto do casamento, porque vai correr tudo mal, não é verdade?
Estava numa casa com 5 benfiquistas e 2 portistas, que me receberam já semi-equipados, com pinturas de guerra na cara. A leoa, sempre em minoria, já habituada. Não gritei nenhum dos golos (nem a ausência deles no Porto x Braga). Mantive uma serenidade honesta e um ligeiro sorriso. Que os irritou mais a todos do que se eu tivesse feito uma festa. Na vida, como nos dérbis, as vitórias que se sentem - que nos bastam sem a necessidade de as esfregar na cara dos outros - são as melhores.