Às vezes vou à caixa de rascunhos do blog. É riquíssima, juro-vos. Posts que nunca verão a luz do dia, outros que são publicados muito depois de terem sido escrito (quando já não me importo de partilhar), outros que não percebo bem porque publiquei e ao lê-los agendo logo para vos mostrar. Alguns não passam de ideias, tópicos à espera que vos descreva a minha reflexão ou conte aquela história. Uns quantos são tão parvinhos (sim, mais que o habitual) que só não percebo porque os mantive sequer como rascunhos - mas não os apago na mesma. Alguns, se eu tivesse paciência, quase podia pôr 300 páginas à volta deles e embrulhá-los num livro. É todo um outro blog. Iam gostar de ver.
Rir. Daquele riso que vem e fica tanto tempo que nos esquecemos o que era afinal tão engraçado. O riso que transborda em lágrimas e faz doer muito a barriga. Que começa estridente, pega com espasmos e acaba numa careta contraída e silenciosa. Que nos põe no chão a rebolar, mas nenhum ROFTL consegue transmitir. Que fica ali suspenso ainda durante uns minutos depois da última gargalhada e nos faz largar outra vez a rir com uma simples troca de olhar com um cúmplice de riso. Que faz o meu pai olhar para mim, muito sério, com ar "já chega, não"?
Ocasionalmente - qualquer coisa como uma vez por mês - quando estou sozinha em casa e meio sem vontade de fazer nada encomendo uma pizza. Uso a aplicação móvel e normalmente (e porque sou uma esquisitinha com ingredientes) a escolha é sempre a mesma: uma carbonara com pepperoni em vez de cogumelos. Nham nham.
Desta última vez não me apetecia mesmo nada. Nem a pizza do costume. Pensei então variar. Pizza de atum: tem queijo, atum e azeitonas. Era preciso tirar as azeitonas (eu avisei que era esquisitinha). Então fiz o pedido: tira azeitonas, põe extra bacon. Pumbas.
Ao fim do tempo de espera estimado, toca a campainha. Lá vem ela! Armo o barraco: sentada no sofá, TV ligada, sala a meia-luz, travessa no colo com a pizza e a bebida à frente. Assim que abri a embalagem reparei no erro: não tinham tirado as azeitonas.
Ora bolas. Mas paciência.
Comecei a comer. A pizza não sabia assim muito a atum, mas era boa. Na verdade, comecei a pensar, a pizza não sabia nada a atum. Então olhei bem para ela. A pizza não tinha atum.
No pedido da aplicação, em vez de tirar as azeitonas para pôr o bacon, tirei o atum para pôr o bacon. Fui eu que me enganei.
E nem consigo imaginar o quanto devem ter gozado comigo os senhoras da Telepizza que receberam o meu pedido: SAI UMA PIZZA DE ATUM SEM ATUM, PARA ENTREGA AO DOMICÍLIO!
Já me disse a mim, disse à mãe, ao pai, ao irmão dele e à minha irmã, aos avós, ao chefe, aos padrinhos, aos nossos amigos, ao barbeiro, aos vizinhos, ao funcionário da caixa do Continente, ao senhor do talho onde foi buscar espetadas para o almoço e ao funcionário dos correios. Creio até que terá escrito uma carta ao Pai Natal nas minhas costas. Estou a dizer-vos porque creio que são as únicas pessoas no mundo a quem restava avisar que o Moço quer uma PS4.
A família está toda junta. Em muitos casos, é a única vez no ano em que isso acontece. Além das pressas da cozinha onde se termina o bacalhau e as rabanadas à última hora, além das prendas que se rasgam, há minutos a preencher. Em minha casa, sempre houve jogos, teatros e canções improvisadas: a magia do Natal que faz dos adultos crianças e não passou à medida que eu e as minhas primas crescemos. A conversa surge naturalmente, mas sempre nos esmerámos para criar atividades que apressassem a meia-noite (mas que a apressassem de forma pastelona e recheada). Eis as minhas sugestões para ocuparem algum tempo do vosso Natal em família:
Jogos de tabuleiro. Andam sempre lá por casa, arrumados em cima de um roupeiro qualquer. Venham todos cá para fora, juntar-se à confusão da sala. Em família são especialmente engraçados os que envolvem mímica.
Jogos de cartas. Aquele jogo a que nem os avós resistem. Ideal enquanto alguns ainda estão na cozinha a ultimar delícias.
Jogos improvisados. Dizer uma palavra e ganha quem se lembrar primeiro de uma canção que a inclua? Um de cada vez fazer uma imitação de uma pessoa da família até os outros adivinharem? Cada um conta uma anedota e depois elegem o vencedor? Não tem de ser complicado, só divertido (e de preferência, incluir toda a gente - mesmo a tia rezingona que nunca quer jogar a nada).
Contos e histórias. Peguem num livro ou num tablet e pesquisem contos de Natal. Leiam para a família toda enquanto a lareira crepita. Não se zanguem com o vosso pai que adormeceu entretanto e usem o ressonar dele como efeito sonoro para a história. Ei: aqui está um conto de uma autora MA-RA-VI-LHO-SA.
Teatrinhos. Se alguém tiver paciência para ensaiar qualquer coisa, mesmo abandalhada, prometo risota total. Sempre o fiz com a minha irmã e as minhas primas. Escrevia textos que encenávamos. Normalmente pegando num fenómeno televisivo (o Big Brother, o CREDO do Herman SIC), anedotas pesquisadas na net e num livro do António Sala (!) que andava lá por casa e episódios familiares: juntar tudo, bater bem e fazer rir. Este ano prometi uma reencenação do que se passou durante o ano com a família - vamos lá ver o que sai.
[A artista Philippa Rice desenhou esta e outras ilustrações baseadas na sua vida com o namorado Luke Pearson., mas nalguns casos diria que veio cá a casa.]