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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

18
Fev16

O momento "AH"

Maria das Palavras

No curso de publicidade, aprendi a identificar (tentar pelo menos) aquilo que provoca um "AH" no consumidor. Lê-lo realmente e tentar perceber o que lhe acende a fagulha, salvo seja. Não é fácil, não se faz sem conhecimento profundo do público, não se atinge sempre. 

Isto porque hoje estava à espera que acendesse o verde para mim na passadeira e de cada lado da estrada estava uma mulher a fumar. Coisa fora-de-moda, mais que ultrapassada, de malefícios bem conhecidos, que já nem sequer é cool ou desculpa de socialização. E pus-me a pensar nisto. Não vale a pena explicar-lhes todos os dias (ponho-me eu no lugar de quem gosta delas e preferia que não fumassem) o que elas sabem de cor. Como não se pode forçar uma pessoa com a saúde em risco por excesso ou falta de peso a seguir uma dieta.

Um dia, sem discursos, sem vídeos de sensibilização, sem notícias da percentagem de mortes por cancro do pulmão, há qualquer coisa que lhes vai tocar profundamente. Vão ter o seu momento "AH". Vão tomar a decisão por si mesmas. E que orgulhosa que ficarei daquelas duas mulheres que vi na passadeira. Só precisam de tempo. Espero que vão a tempo.

 

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18
Fev16

Agasalho

Maria das Palavras

Hoje entalei as calças nas meias - não digam a ninguém. Saí mesmo de casa de calças entaladas nas meias.

Três camisolas. O casaco felpudo. Luvas. Gorro - aquele que me deixa só 3 centímetros de cara.

As botas de lenhador(a) bem apertadas com quatro nós cegos.

Tenho frio. 


Não tenho senão frio desde a semana passada. Vista o que vestir ou a queimar junto à lareira, como se fosse mais uma lasca de lenha a querer entrar. Não tenho senão frio.

Mesmo a sopa da minha mãe, que normalmente me deixa em vapores, não resulta. Talvez não possa resultar se não tenho fome e me fico por meia dúzia de colheradas que a língua quer travar. Não tenho fome mas tenho frio.

 

Chego a casa, ligo o pequeno ventilador que faz muito barulho. Deixo-o estar ligado para sempre - tão poucas coisas são para sempre e o ventilador ligado também não é - às vezes até adormeço com a dança ruidosa da ventoínha. Por estes dias parece que não oiço bem, sequer. Talvez o frio me tape um pouco os ouvidos. Me adormeça os sentidos todos. 


Hoje abusei. Dizia eu que até entalei as calças nas meias. As meias de algodão, porque debaixo das calças de ganga ainda tenhos os collants. Não deixo nada ao acaso. Não percebo como deixo o frio entrar, assim tão bem agasalhada. 

Depois tirei as luvas na entrada do edifício, cumprimentei rapidamente um cliente que já vinha a sair - atrasei-me outra vez. Por causa do frio. Passou bem? Tenho a mão gelada diz-me ele, pareço um bloco de gelo.

 

Acho que foi nesse momento que comecei a perceber. Pareço um bloco de gelo, disse ele. Esforcei-me tanto com mantas de lã e camadas de roupa e o ar condicionado do escritório sempre nos 35º, a porta bem fechada, o trapo a tapar a fresta. Esforcei-me tanto para não deixar entrar o frio. E o frio era meu. Estava dentro de mim, colado à pele, preso nos lábios, em cada músculo,  a correr-me nas veias. Tenho o frio no fundo do peito, no lugar do teu vazio. 


Afinal menti, esquece o que te gritei enquanto juntavas as tuas coisas no saco grande do ginásio - porque eu te disse que não valia a pena comprarmos uma mala grande, se nunca viajamos. Menti. Menti-nos. Menti-me. Interessa-me saber porque foste embora. Gostava de saber o que mudou ao fim de tantos anos. Tantos que já nem me lembrava que sem ti era fria como um bloco de gelo. Tantos que me esqueci que és tu o meu agasalho de tudo.  Tantos que confundi frio com tristeza, porque tu me protegias dos dois.

 

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