Vou num passeio com uns quatro (4, IV, four, quatre) metros de largura. Vou a escrevinhar no telemóvel, mas atenta. Reparo que vem um senhora a andar em direção a mim (ou eu a ela) e desvio-me para a esquerda ou para a direita - isso das direções é que é mais complicado para mim. Por coincidência ela desviou-se para o mesmo lado e tivemos de parar meio segundo. Sorri para ela, teve graça. Só que não. Ela abriu os braços carrancudos, como quem diz "sua anormal, andas ao telemóvel e obrigas-me a fazer o bailinho da Madeira para passar". Porque eu até adivinho para que lado ela se ia desviar, ou se calhar devia ter feito o pisca. Ela lá passou e eu só fiquei a pensar como a vida é feita de escolhas. Ela até podia não ter tempo, mas uma curva ascendente nos lábios não demora um centésimo de segundo. Não demora mais que a brusquidão da asa aberta. E ela também podia ter escolhido sorrir.
Comecemos o relato do passeio pelo início. Na segunda-feira passada, ainda antes de partir de Lisboa rumo a norte (aos poucos) fizemos o meu almoço de aniversário a dois no Elevador [não o da foto, mas bem perto no] restaurante do Hotel de Santa Justa****, a convite da Odisseias. Isto também fez logo com que o dia começasse bem, com direito a passeio pela baixa de Lisboa - antes de começar a chover torrencialmente, claro. As fachadas, as ruas com a calçada portuguesa, o próprio elevador de Santa Justa a coroar a zona (e a roubar o flash de todos os turistas na zona) e aquele cheiro inconfundivelmente português a...caril?!...
Pondo de lado todas as coisas boas deste início dos trinta também: choveu como se o céu fosse cair quando estava no meio da rua sem casaco nem chapéu, perdi o cartão multibanco, recebemos uma multa, ficámos presos numa estação de serviço. Isto só no meu dia de anos, porque nos seguintes tanbém consegui que a máquina fotográfica avariasse.
Uma sorte, é o que vos digo. Isto de eu não ser supersticiosa.
Exatamente uma semana depois - e apesar de ter andado com ele atrás - voltei a ligar o portátil. Achei que durante a semana ia ter saudades e não lhe ia resistir. Verdade que estive sempre ligada no telemóvel, que vi todos os emails (mentira, só abri alguns) e comentários (sem reponder que aquilo no telemóvel é um pincel), que continuei a fazer algumas publicações (mas tudo em modo short&sweet). Não estive completamente desligada, mas aos poucos fui deixando a semana passar, apontando tudo o que queria escrever no bloco de notas sem passar à ação.
O passeio foi uma delícia. Estivemos com amigos, com família, a dois, comemos muito bem, passeámos muito, tirámos fotos para caramba, adormeci enquanto o Moço lia quase todas as noites (quando é que passou a ser assim e não ao contrário?), tudo sem pressas, nem de começar, nem de acabar, em dias preguiçosos e cheios.
E se é verdade que o regresso à realidade custa sempre, é verdade também que hoje sabe um bocadinho melhor por ter chegado o momento de partilhar convosco tudo o que fui reunindo no bloco de notas ao longo destes dias. Não fossem as outras mil obrigações e hoje não saía daqui enquanto não escrevesse tudo...Que vício malvado que eu fui arranjar.
Como é que uma palavra tão cheia de ritmo e de dança nas sílabas, que parece que tem toques de tambor, que abre o "a" como quem fala de sotaque brasileiro e descomprometido, e pisa passos de samba com o barulho dos saltos, traduz o mesmo que "taciturno"? Como é que há palavras que combinam tão pouco com os seus significados? Peço desculpa. Terei acordado sorumbática...é o fim da viagem que se aproxima.