Não sei exatamente dizer se recomendo ou não este livro, mais um que não escolhi, que me chegou pela iniciativa do Livro Secreto. Sei que a determinado momento quis largá-lo e fico feliz que não o tenha feito. Eu explico. Para mim, o livro divide-se em três partes, (1) o início em jeito de comédia que é o diário de um adolescente trapalhão que dá erros crassos no português como "piçarvativo" mas a quem o avô lá do além obriga a que ganhe a rotina de escrever, (2) a altura em que nos acomodamos à escrita já sem erros, o que retira parte da graça à leitura à medida que o protagonista passa a ser um jovem adulto e (3) o final em que a escrita é sublime e percebemos sem sombra de dúvida porque este livro foi aconselhado e posto a rodar.
O melhor não é a estória, é mesmo esta evolução na escrita. Do torpe para o tão bom. Brilhante exercício de João Aguiar. E a lição, essa que não se deve perder. A que nos conta que o conceito de boa pessoa não tem fronteiras tão bem delineadas como às vezes nos fazemos crer. E que quase toda a gente se considera boa pessoa. Mesmo a professora que se envolve com o aluno. Mesmo o dono do clube que pede favores - pequenas ilegalidades - à troca. Mesmo o respeitável pai de família com segredos de breu. Todos, inclusivamente o protagonista, conseguem justificar as suas ações. Continuam a achar-se boas pessoas, na sua essência. Mas pode alguém que vende o corpo ser boa pessoa? E quem paga? E se for menor? Faz pensar.
Ontem foi um dia como outro qualquer. Teve momentos fantásticos e momentos menos bons. Estórias que ficam para rir e pormenores para esquecer. Fazer 30 não é diferente de fazer 29 e duzentos e quinze dias. É sempre uma pena que os dias se sucedam a tal velocidade. É sempre um prazer que saibamos o suficiente para lhes espremer o melhor sumo. É sempre uma pena que já não se tenha a leveza de toque ingénuo de quando se vira para os vinte. É sempre um prazer já ter aprendido tão mais.
E se houve diferença no dia que trintei para todos os outros, essa esteve nas pessoas à minha volta. Vocês também. As pessoas que se lembraram - e mesmo as pessoas que se esqueceram e ainda me hão-de falar disso de forma embaraçada. As pessoas que fizeram parte das outras décadas e que farão parte desta. Vocês também. Entre a família, a vida real, o passeio, as responsabilidades, esvaiu-se-me o tempo para agradecer a todos individualmente. Mas saibam que li tudo, senti tudo, agradeci tudo. Saibam que tornaram melhor o meu dia.
E agora fiquem para ver os próximos capítulos. É que eu trintei de vez...
O prometido é de vidro. Eu fiz anos, a prenda é para vocês. Sigam os passos abaixo para ganharem um bilhete familiar (2 adultos e 1 ou 2 crianças) para verem a peça de teatro Cinderela no Sábado 9 de Abril pelas 16h, em Lisboa. A peça é para miúdos e graúdos e prometo sorrisos do início ao fim.
Podem ler a minha opinião sobre a peça aqui (nada enviesada por me terem convidado, aquilo é genuinamente bom - aliás já vos tinha falado de outra peça da Byfurcação há muito tempo atrás) e participar, cumprindo os seguintes passos:
1) Gostem das páginas de Facebook da Maria das Palavras (aqui) e da Byfurcação (aqui).
2) Partilhem de forma pública o passatempo (Facebook, blog,...)
3) Preencheam o formulário abaixo. Tudo até dia 6 de Abril.
O vencedor será escolhido aleatoriamente via random.org, anunciado no blog e facebook aqui da Maria e será contactado por email. Deve depois responder a esse email que eu enviar até dia 7 para que possa dar os dados à Byfurcação. Por favor, participem apenas se estiverem disponíveis para assistir à peça naquele dia/hora.
Boa sorte!
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Eis a informação completa do espetáculo, caso estejam interessados:
CINDERELA | De 19 de Março a 08 de Maio | Sábados às 16h e domingos às 11h | Sala Polivalente do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (antigo Júlio de Matos) | Estacionamento gratuito no local Valor: 8,00€ a partir dos 3 anos (inclusive) reservas@byfurcacao.pt ou 93 810 96 44
A semana "pelos caminhos de Portugal" começa hoje, data de "mim". Combinei com o Moço que ia tirar uns minutos por dia para vos atualizar, aqui no blog ou, mais frequentemente no Facebook e Instagram. Mas se, mesmo assim, se aborrecerem de morte com a minha ausência, pois bem, cliquem no botão. As vezes que forem precisas.
A Byfurcação rapidamente se tornou a minha companhia de teatro favorita. E eu nem sequer pensava que havia de ter uma companhia de teatro favorita. Fazem abordagens frescas a bons textos, em palcos originais, e tendo visto apenas duas peças sinto-me capaz de as querer ver todas. Da primeira falei-vos aqui, a Vampíria, na Quinta da Regaleira. A segunda fui ver no Sábado a convite da Byfurcação (depois de me ter confessado fã, quase pedindo para me assinarem o peito com marcador permanente, não foram capazes de não me convidar) - a Cinderela.
Confesso-vos que fui para lá com o espírito da mula. Ia cá chateada com coisas minhas, era dia do pai e eu não estava ao pé do meu, pus-me a pensar na minha mãe que já não tem pai, fomos a uma almoço mal-combinado (odeio coisas mais combinadas - e mal combinado é diferente de espontâneo, atenção)...enfim. Tinha de pegar no meu mau humor e arrastar-me até ao Júlio de Matos (!) para ver uma peça que sendo para miúdos e graúdos, é de índole infantil. Até foi por estar assim mal-humorada que tive de ouvir isto. Foi remédio santo. Tive um sorriso pespegado à cara do início ao fim - um sorriso bobo pontuado com gargalhadas. O Moço a mesma coisa. Saímos de lá a cantar o título improvável deste post: heyyy, somos ratooooos...
Fiquei espantada com a reação de todas as crianças presentes no público. Fiz apostas com o Moço sobre qual seria a primeira mãe ou pai a ter de levar a criança lá para fora a berrar, mas com tanta vida no palco isso não chegou a acontecer. Sabem a proeza que é manter crianças quietas por mais de uma hora seguida? A única miúda que saiu de lá chateada foi aquela a quem roubaram o pai para ir fazer de príncipe ao palco - e ela não gostou nada da ideia de ver o pai a casar com outra mulher, nem que fosse a Cinderela. E eu saí muito alegre e airosa, com a certeza de ter gostado bastante mais desta peça do que das duas anteriores que fui ver ao teatro (Allô allô e Boas Pessoas, ambas garantidamente para adultos e com atores altamente reconhecidos pelo público).
Não tenho fotos, porque não eram permitidas e eu sou bem comportada (só no fim e tinha de enfrentar um mar de crianças), mas...talvez tenha bilhetes para oferecer. Interessados, há?
Note-se que ele fez os 30 há 5 dias e eu faço 30 amanhã. Estamos portanto naquele intervalo único de 6 dias do ano em que ele tem uma idade superior à minha. Agora adivinhem as vezes que eu tenho ouvido nestes últimos cinco dias, as seguintes frases:
- Quando tiveres a minha idade vais perceber.
- Pita.
Ou (a minha favorita):
- Eu também era assim quando tinha a tua idade.
Exato, muitas. Para não acharem que só sou eu que sou difícil de aturar.