A minha sogra tem um telemóvel novo. Já o pôs a uso mas ainda não comprou uma capa para o proteger. Quando o telefone toca (como aconteceu no outro dia no restaurante) é vê-la a abrir a mala, tirar a caixa original do telemóvel e sacá-lo de lá para atender. Sim, anda com o telemóvel dentro da caixa. E com a caixa atrás para todo lado.
No Domingo fiquei de me encontrar com uma desconhecida no shopping em Leiria porque uma amiga lhe tinha comprado uma coisa e eu podia ajudar na entrega. Para facilitar a identificação disse, por SMS, que já estava no sítio marcado e decidi usei a referência à roupa da minha minha irmã, que estava comigo, para ajudar: mencionei que ela estava de vermelho com um colete preto.
Quando finalmente nos encontramos, diz-me a senhora:
- Enganou-me! Isto não é vermelho [a blusa da minha irmã]. É grená!
Grená!! Para já palmas a quem se lembra de usar a palavra grená (não é certamente a blogger menos in do pedaço que o costuma fazer). Por pouco não nos desencontrámos. Porque eu fui incorreta do ponto de vista da paleta dos vermelhos.
Portanto, herdei a inscrição da minha irmã em Fevereiro. No Sábado passado pus os pés no ginásio pela terceira vez. A julgar pela experiência bem podem passar mais três meses sem lá pôr as unhas e entretanto acaba o período de fidelização. Fui a uma aula de cycling. Eu devia ter desconfiado quando o Moço me disse para irmos à aula e como parte do discurso de motivação proferiu as seguintes palavras: se te sentires mal, não pares, é melhor pedalares devagar.
Eu tinha ouvido coisas divergentes sobre estas aulas de cycling. Há pessoas que dizem que é a morte em pedais e uma amiga em particular diz que é a sua aula favorita e não custa nada (apesar de se cansar sempre a subir as escadas do meu prédio), pelo que depreendo que ela não faz a aula corretamente. Estava preparada para tudo, mas sabia que o meu orgulho não me ia permitir desistir a meio, pelo que levava um olho a tremelicar.
Eu percebi que a coisa ia correr mal logo quando estávamos de senha na mão, à espera de entrar na aula e havia uns rapazinhos a bater couro às meninas que iam para a aula, que estavam lá mais para a socialização que para o exercício. Mas mesmo empenhados na atividade esgotante que é a corte, nem por sombras consideravam ir à aula. Entretanto já passavam uns minutos da hora da aula e o instrutor não chegava. Perguntei ao Moço se havia toque de feriado e aí podíamos ir embora, mas ele disse que não era assim que funcionava.
Depois, quando efetivamente o instrutor chegou e entrou na sala sem acender as luzes pedi ao Moço que me confirmasse, por favor, que não íamos fazer uma aula a meia-luz, como se fosse um restaurante romântico. Devia ter comparando com uma discoteca. A música altíssima, daquela tipo txicabum e as luzes coloridas (juro). O instrutor no seu palco reduzido de microfone na boca a debitar frases motivacionais "vamos lá" e "última volta". MENTIROSO. Nunca era a última volta.
Eu até tinha previsto a parte da canseira, mas não tinha previsto que o pior sacríficio não seria rolar de pé, mas o puro e simples exercício de me sentar no selim. Ainda hoje me dói o rabo. E quando o instrutor repetia as frases que na terra dele deviam soar bem, mas na minha cabeça soavam a "sua fraca, se não consegues, vai-te embora daqui" eu juro que pedalava mais depressa só numa tentativa de arrancar a bicicleta do sítio e lhe passar por cima.
Eu era claramente a iniciada. A fila da frente com as meninas todas orgulhosas, de costas direitas e rabo empinado:
E eu, com uma tal de dor de rabo que já estava toda torcida e que só queria ver a morte de foice na mão a levar-me:
Era suposto a aula ser de 50 minutos, mas creio que durou três vidas e um quarto. Quando acabou o instrutor pôs-se à porta a cumprimentar quem ia saindo com uma espécie de high five. Deve ter um fetiche por mãos suadas, só pode. Saí dali para o balneário rapidamente, juro que não demorei nada, mas quando lá cheguei - PUMBAS - já estão quatro ou cinco gajas todas nuas a abanicar- a púbis. Juro que já se deviam ir a despir pelo caminho, só pode. E pronto, foi isto. Pelo que oiço dizer, com a continuação deixa de custar tanto. Nunca saberei. É que nunca mais ponho lá os pés. Ou melhor, o rabo.
Os taxistas têm os seus pontos de razão: a Uber opera com benefícios fazendo uso de um vazio legal, mas...eles fazem todas as coisas erradas para lidar com isso, em vez de aproveitarem para mostrarem que podem ser melhores (nem que seja a nível da educação australopiteca - salvo honrosas exceções, que profissionais bons e maus há-os em todas as áreas). Mas este post nem é bem sobre isso. Sei que a altura de falar sobre a polémica já passou. É mais porque o Moço contava a um colega, pró-taxista, que temos sempre apanhado taxistas que ou falam mal para nós ou nem falam para dizer boa noite e ele respondeu que talvez fosse ele, o Moço, que falava mal para eles.
Isto é de merecer uma gargalhada sentida. Para já, quem conhece minimamente o Moço sabe que ele só é bruto se lhe calcarem bastante os dedos mindinhos. Então assumir que ele entra no táxi e debita logo brutalidade ao ponto de mudar o mood outrora harmonioso do motorista é de loucos. Se calhar, o colega do Moço, acha que "falar mal" é pedir ao taxista para ir até uma localização que não apeteça ao senhor (ou pedir fatura). Portanto - e notem que isto não é contra os taxistas, mas apenas uma resposta ao comentário do colega do Moço - eis a sugestão do que o Moço deveria fazer ao entrar no Taxi, para não estar a "falar mal" ou melhorar o nível de educação e simpatia com que normalmente o meu rapaz já fala para os senhores taxistas que nos transportam. Partilho, porque talvez também andem a ser uns animais e pode ser-vos útil o guia de conversação.
"Muito boa tarde! Peço permissão para falar.
[permissão dada]
Estou aqui no aeroporto, lamento desde já por lhe ter entrado no táxi, sendo português, e ainda por cima sem bagagem. Gostaria de o compensar colocando o meu molho de chaves na bagageira, para que possa cobrar-me a taxa de bagagem.
[sai do táxi e vai colocar as chaves na bagageira]
Vou ali para Telheiras, mas sinta-se à vontade para ir via Barreiro, para ser mais aceitável para si o exercício de locomoção. Ah! Trouxe-lhe uma pequena lembrança de Paris, onde estive.
[passa-lhe um CD]
Aqui está um álbum best of do Art Sullivan. Caso goste, sinta-se à vontade para o pôr a tocar, em qualquer volume, durante o percurso. Mas não quero que se sinta limitado, oiça o que bem entender, ou vá a falar ao telemóvel - até lhe empresto o meu, se quiser, que tenho daqueles tarifários que não se paga mais.
[motorista prepara-se para arrancar]
Espere, espere.
[Moço tira um maço do bolso]
Tome aqui um cigarrinho para ir relaxado. Obrigada pela honra que me dá em ser seu passageiro e prometo a partir de agora falar apenas se quiser comentar a última jornada."
Coloca ali a lágrima com um nível de contágio equiparável ao da lepra. Vê alguém a lacrimejar e logo funga, a querer começar de enfiada. Toma todas as dores e alegrias, não só de amigos e familiares, como de qualquer concorrente de reality show numa TV próxima de si. Haverá vacinas para isto?
O meu pai sempre foi o homem mais trabalhador que conheci, apesar de isso se ter traduzido em muito poucos tostões ao longo da vida (um homem honesto neste país não chega a lado nenhum, diz ele com amargura). A única folga semanal chama-se Sábado e esteve largos anos sem saber o que era isso de tirar férias. Por isso, eu e a minha irmã, num 1 de Maio qualquer, decidimos dar-lhe uma prenda, penso que era um CD de fados. E ele? Ficou mal disposto, porque achou que estávamos a gozar com ele. Neste 1 de Maio não há dúvidas: só a mãe é que recebe prendas.