Estando longe, ele encarregou-se de mandatar alguém para se certificar que eu comia a meio da tarde - sabendo bem que quando me embrenho no trabalho me esqueço do frio, do calor, da fome, que possuo articulações que podem atrofiar (apenas nunca do sono).
Nunca sei exatamente onde ficam os limites do que devo partilhar aqui ou não. Em teoria, sei: tudo o que é da esfera muito íntima fica de fora. Na prática, escrevo coisas neste blog que jamais diria em voz alta e parece-me que isso é mais íntimo que o número da segurança social. Assim sendo, vou levando a coisa como me apetece e dentro de bom senso.
Alguém notou num comentário: não tens falado do Moço. E é verdade. A explicação é simples, mas não a tenho partilhado tanto como o tempo que ocupo a pensar nela e, olhando para trás, parece-me de mau tom, visto que tanto vos chaguei (e continuo a chagar) com a mudança que levou a minha vida e até me roubou tempo para escrever aqui mais e melhor.
O que se passa é que o Moço deixou de morar comigo. Pelo simples facto de ainda estar a trabalhar em Lisboa e eu me ter mudado para norte já há uns meses. Parece que o fim desta situação está à vista, apesar de ainda não ter data marcada. No entanto, passamos muito pouco tempo juntos e há muito menos episódios típicos nossos para vos contar. Já para não dizer que eu sou completamente inapta para relações à distância (tenho confirmado, mas já desconfiava), visto que gosto pouco de falar ao telefone para mais que coisas práticas e no geral sou estranha de saudades.
Tudo somado e dividido, tenho tido menos tempo para o Moço do que para o blog (sim, ainda menos) e isso reflete-se em cada texto. Mas está tudo bem, agradecida pela preocupação. Continuamos a ser os mesmos tontos apaixonados - mesmo quando passamos vários dias que mal falámos, quando tudo o que falamos são ninharias, até quando nos zangamos a sério. E isso é que interessa.
Deste Sábado ficam-me dois eventos na memória e nenhum mete terços ou bolas. O primeiro tem carroceis, farturas, gelados de máquina, a minha família e o meu sobrinho pela primeira vez num cavalo roxo, na feira de Maio. O segundo começou de manhã comigo a cantarolar ao ouvido do Moço, para o acordar, a música que levaria mais longe o nome de Portugal à noite. Têm os dois a mesma importância para mim. São memórias igualmente felizes e inesquecíveis.
E as palavras que ecoam são "tia, outra vez?" e "a música não é fogo de artifício, é sentimento".
Engraçado como se parecem. Dizem a mesma coisa. Falam de amor. As coisas mais bonitas da vida não são as mais caras ou que mais cativam a vista. As coisas mais bonitas da vida, tantas vezes, são as que sussurram em vez de gritar.
Sei que já não escrevo há muito tempo, mas assim que acabou o mundial de futebol começámos a fazer a peregrinação para Fátima e não houve tempo a perder. A partir do Cartaxo ainda é um bela distância. Quase não chegámos a tempo e perdemos dois familiares pelo caminho. Primeiro a tia Teresa, vítima de desidratação. Ela estava sempre a beber de uma garrafa do Luso e achávamos que estava a tomar bem conta de sim, mas afinal era Gin (como é que ninguém estranhou a azeitona na garrafa?). E, já na na reta final, um primo foi esmagado pelo joelho de uma devota sobre-nutrida ali na zona de Alcanena. Tinham avisado o pessoal para ter cuidado com as beatas, mas ele no último fôlego confessou que achava mesmo que estavam a falar das pontas de cigarros.
No entanto, não só por estas desgraças, mais valia não termos lá ido. O caracol Antunes, que é um amigo do pai e foi conosco, desapareceu quando já estávamos à entrada do recinto. Não é que quando chega o Papa é que o vemos, bem em cima do terço gigante, todo NU (sem a casca a tapar a santa trindade) a gritar pelo Benfica?
Foi uma vergonha. A mãezinha sentiu-se mal e perdeu o final da missa. Já o Felismino gravou e queria pôr no Youtube porque diz que dá dinheiro se fizermos alguma coisa original e o segmento dos caracóis ainda não foi bem explorado.
Eu estou só muito cansado de andar com a casa às costas de um lado para o outro. Para o mês que vem já faço 3 anos e o pai diz que posso tirar a carta de me colar a uma mota. Sinto que vai ser libertador, apesar de a mãe dizer que é perigoso. Acho que é porque uma vez um caracol lá da terra tirou carta de se colar ao carro, mas depois, sem se aperceber, colou-se a um daqueles carrinhos da feira. Ainda hoje lá anda às voltas e não consegue sair.
Uma ranhoca,
Martim
[Todas as entradas do Diário do Martim Caracol, aqui.]
O Papa vai ganhar o campeonato, o Benfica vai à final da Eurovisão e o Salvador está em Fátima, né? É que os meios de comunicação não têm falado muito sobre isto e eu estou meio baralhada.
[Desculpem, sei que não devia estar a pôr os três eventos no mesmo saco. Afinal um deles envolve um bocadinho menos de corrupção e dinheiro.]
Todos os dias de manhã: Deus, que cansaço...Hoje chego a casa e não faço nada! Trato da comidinha, visto o pijama, e vai ser só sofá e séries. E dormir cedo!
Todos os dias à noite: Vou só arrumar aquilo e pôr a roupa a lavar. E dar ali um jeitinho. E preparo já comida para amanhã também. Oh...isto está tudo desorganizado, vou só tratar disto. Mas agora é que é: zombie mode. Não, espera, tenho de ligar o PC para enviar aquilo. Ah, já agora encomendo aquela cena que não convém esperar. Já que tenho o computador ligado vou um bocadinho ao blog. Como é que já é quase meia noite!!! Vou só ver um episódio da série e depois vou logo dormir. E agora vou só ler umas páginas e depois é logo dormir. Caramba, amanhã é que tenho de me deitar cedo...