Surpreendemos a minha avó no dia do seu aniversário. Ela estava na praia com os meus pais e nós chegámos antes (enquanto ela bebia café junto à marginal) e deitámo-nos ao lado do estaminé deles, com o nosso próprio estaminé montado (cadeira, chapéu, toalhas). Como ela não reparou em nós quando chegou - estávamos deitados para baixo, com a cara virada para o outro lado - o meu pai começou a fazer graçolas a dizer que aquele casal ali ao lado - nós - não precisava ter-se posto tão em cima do espaço deles. Depois fez sinal à minha avó que ia roubar a nossa cadeira e assim fez, para pânico dela que começou a fugir envergonhada em direção à beira-mar, assumindo que o meu pai estava mesmo a tirar os pertences a um casal de estranhos. Nessa altura levantámo-nos e ela viu que éramos nós e fez-me uma placagem digna de NFL, com a felicidade de estarmos ali.
2.09.2016.
Hoje seguimos mais para norte para estar com a família do Moço. Levamos bagagem para 4 anos e só vamos estar fora 9 dias.
3.09.2016
Temos um despertador novo. Chama-se "sobrinho de dois anos" e de manhã, por saber que também estamos lá por casa, começa a chamar "tiooooooooo", "tiaaaaaaaa".
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Não me perguntei como fiz, mas dei com um pé no outro e rasguei um bocado de pele do calcanhar com a unha, qual Wolverine. Até jorrou sangue. Juro que tinha as unhas cortadas. Fiz a minha sessão de aeróbica ainda há dois dias (tenho muitas cócegas nos pés, já disse?).
4.09.2016
Entrou uma abelha do tamanho de um burro na cozinha dos avós do Moço. Atrás dela um abelhão de tamanho gigante-normal. Fiz a coisa sensata: pegar na criança e esconder-me no quarto. À falta de ferramentas apropriadas o Moço atordoou-a com laca da avó e apanhou-a com uma tenaz da lareira. Mas havia toda uma equipa de resgate: ele, o irmão, a mãe, a cunhada, os avós...mais gente que a combater os fogos.
5.09.2016 Hoje marchamos para o Gerês para um pouco de descanso e passeio a dois. O que é bom porque já assisti a pelo menos 23 procissões, mas apesar de ser tudo gente muito religiosa estão ansiosos para fazer de mim mãe solteira. Achei que ia tolerar as perguntas de "para quando um bebé" com relativa graça, até alguém me perguntar se eu já estava efetivamente grávida por estar mais gorda. Morri.
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Desorientámo-nos a caminho do alojamento no Gerês. Admiro o meu pai e avô que viajavam connosco por todo o país sem GPS. Eu perco ligação do Google Maps por 20 segundos e considero que estamos perdidos para todo o sempre.
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O quarto é lindo! Está tudo tão impecável que desfiz as malas todas (apesar de só cá ficarmos 4 noites e uma vai a meio) e arrumei as coisas nas gavetas e armários. Tudo. Depois escondi as malas que não cabiam nos armários atrás do cadeirão para não fazerem o quarto feio e desorganizado. O Moço está ligeiramente assustado com o meu ataque de OCD.
Guardamos sempre uns dias de passeio para Setembro. Muitos já foram de férias e vieram exibindo o seu bronze e o seu sorriso. Ambos se vão desvanecendo com o passar das semanas. Nós vamos agora buscar os nossos (sorrisos apenas que aqui o bronze não se pespega, apesar da opinião da doutora). Hoje vamos andar por Sesimbra (só um saltinho), depois subimos às festas da terrinha no Norte, passamos uns dias no Gerês e fazemos pit-stop em mais um par de sítios na descida para o regresso a Lisboa. Vêm conosco? O diário de bordo, vai-se fazer mais no Instagram e no Facebookdo que aqui. Mas o blog não fica ao abandono, prometo. Tenho sempre tantas palavras a transbordar...
[Já devíamos ser melhores. Pessoas que não usam protetor - de todo ou ao fim de uns dias porque já estão morenas (??). Pessoas que só frequentam a praia do meio-dia às três, sem qualquer tipo de chapéu. Pessoas que ensinam aos filhos estes mesmos hábitos. Sei que já disse, mas: já devíamos ser melhores.]
Lá diz o ditado (que acabei de inventar) que os precoces vão em Junho, os poupados vão em Julho, os populares vão em Agosto e os sábios vão em Setembro. Sábios porque os últimos a rir, riem melhor. E se é verdade que vão sofrendo enquanto vêem todos os colegas e amigos progressivamente virar de cor de lula a dourado invejável, têm sempre a tal semana em mente. Os outros vão ter de saber lidar precocemente com o fim das férias.
Felizmente estou cá para ajudar. Jovem, se regressaste de férias e te apetece mais enfiar a cabeça na máquina de lavar roupa em modo de centrifugação do que voltar à rotina, este texto é para ti. Segue os seguintes passos e faz uma transição mais suave:
Vai buscar areia à praia mais próxima (ou compra daquela dos gatos no Continente) e espalha à tua volta, no sítio onde passas mais tempo. Se é em casa e ainda moras com a tua mãe, explica que é para efeitos terapêuticos e depois ela terá oportunidade de aspirar. Se é no trabalho, diz ao chefe que no dia seguinte pode trazer a pazinha e brincar contigo. Aposto que lhe vai apetecer trazer a pá.
Arranja daquelas lâmpadas que usam para fazer crescer os pintaínhos e emitem uma luz muito forte e liga uma ou mais junto de ti. Tornas assim obrigatório o uso de protetor solar e óculos de sol. Vais suar que nem um porco...mas um porco em modo pseudo-férias.
Continua a vestir roupa de banho, adicionando progressivamente camadas. De forma que no primeiro dia estás só de calções (ou biquíni), no terceiro já envergas uma camisa de padrão floral e no sétimo já tens o fato completo com havaianas.
Arranja gravações que repitam os sons que se tornam familiares em ambiente de férias e põe a tocar ao longo do dia. Por exemplo, se passas férias no Algarve, colocas no background pessoas a falar Inglês. Se passas férias em Itália, colocas em background pessoas a falar brasileiro. Se foi uma semana a passear em Évora, uma gravação em loop com porreiro pá! de voz anasalada. E por aí adiante.
Reserva uma hora por dia em que possas estar sozinho, fecha-te na despensa e chora baixinho repetindo "para o ano há mais, para o ano há mais", libertando assim as energias negativas todas de forma concentrada. Se conseguires, chora para dentro do frasco onde guardas o arroz e já fica temperado.
Podia pedir desculpa pela dose de parvoíce desmedida neste post, mas como compreenderão, também estou a tentar sobreviver à TPF (Tensão Pós-Férias). Agora se me permitem, vou ali à despensa.
Não vás para um paraíso tropical na primeira semana de férias e para a Ericeira na segunda.
A Ericeria pós-trabalho pode ser um camarão tigre grelhado com molho de manteiga de alho para as torradas, mas depois de águas turquesa sabe a tremoços velhos. Sem sal.
Uma pessoa anda pelo Facebook ou pelo Instagram e deprime: fotos de gente em Paris, gente em Santorini, gente no Algarve, gente em todas as cidades e praias do mundo, a beber cocktails e de pés na areia, mochilas às costas, plenos de vida e paixão e sol na venta. E depois existe gente que até nos faz sentir agradecidos por estarmos exatamente onde estamos: obrigada, campistas!