Eu estou aninhada no sofá com um livro (voltei a ler, deve querer dizer qualquer coisa). Ele está a ver a bola porque tem de fazer render a Sport TV que subscreveu só por um mês para ver o Porto empatar com o Benfica.
Só se ouve:
Não é para aí!
Grande jogada!
Ah, foi ao poste.
Devia ter cruzado.
...e afins.
Eu estou a ler. Não há mais ninguém na sala. Dentro da TV ninguém o ouve. Já lhe disse, mas ele continua.
Não espero de ninguém que goste de humor negro como eu gosto. Por isso uso-o a tempos certos e com as pessoas certas. Ninguém pode dizer que brinco com determinadas situações por não as viver. O meu avô, segundo pai por 18 anos, é a pessoa que mais falta me faz no mundo, mas sou capaz de brincar com a morte. A minha tia mais nova e bem próxima (todos me disseram sempre que eu era a cara chapada dela em nova), foi levada por um cancro, mas eu brinco com doenças. Acho que rir nos faz fingir, numa gargalhada, que qualquer situação pode ser um bocadinho menos assustadora. É um alívio bem-vindo.
Como digo, sei que nem todos gostam de piadas sem limites. Há muito que deixei de acreditar que toda a gente é possuidora de algum tipo de humor. E também já deixei de desejar que quem não compreende ou gosta de humor negro possa simplemente afastar-se dele em vez de crucificar quem o aprecia ou nele se refugia. Por isso, quase sempre, evito brincar com temas (ou tons) demasiado agressivos no blog, que possam ferir susceptibilidades: morte, doença, desastres, crianças, religião e nojos vários. Um filtro que no fundo também aplico no dia-a-dia, fora da esfera virtual, sempre que não conheço bem os limites da pessoa com que falo. No entanto, cometi o grave erro de não evitar um assunto que mexe ainda mais com os nervos do português comum: o FUTEBOL.
Sou sportinguista convicta e fiel. Já fui mais fervorosa e seguidora, mas passou-me por circunstâncias da vida que não têm a ver com as derrotas crónicas. Lá vai o tempo em que até preenchia as cadernetas de cromos com a equipa verde e branca em cada época. Quando vi esta imagem, ri-me muito. Sei que não é completamente verdadeira. É redutora. Considera apenas a modalidade futebol e os titulos no campeonato português. Mas nada disso interessa numa piada. Não é preciso análise estatística e sociológica ou provas de ADN. Não é preciso verificar factos. Só descontrair e deixar-nos levar. Erro meu. Grande burra (aponta o comentador). Aliás, ele diz burro, porque ficou tão cego de ver a imagem que já nem reparou que era publicação de uma Maria, que tende a ser um nome feminino.
Enfim, só me ri (mais uma vez). Mas ao mesmo tempo é triste que não se possa rir e brincar com mais um assunto - um que até devia ser só sobre entretenimento e nada sobre tragédia. Nem é falta de humor negro, é só falta de tolerância. Lamento muito que por não se saber brincar se tire ao futebol uma das suas maiores graças: a picardia SAUDÁVEL entre adeptos.
(Curioso como ninguém acha estranho um bebé ser sócio de um clube, mas toda a gente nos acha esquisitos por termos inscrito o nosso filho na biblioteca. Adiante.)
*E eu gosto imenso "da bola" e do meu Sporting, ok? Mas esta situação mostra a disparidade das nossas prioridades. As prioridades que passamos ao nossos filhos.
*sim, fui eu que inventei. Sim, é aplicável para além do futebol. E sim, a minha aposta é que ganhamos o Europeu a empatar os jogos todos. E não, não me importo.