Estava aqui a pensar...As pessoas puseram-se do lado da Charlie Hebdo (que fazia humor negro, racista e religioso e o diabo a quatro) porque explodiu...Será que se o Sinel de Cordes explodisse também passavam a advogar a liberdade do humor dele?
(o único sentimento mais forte dos tugas do que o ódio pelo humor é a paixão pelos coitadinhos...)
[Para qualquer comentário que se assemelhe com "ele nem tem piada", "o humor tem limites" ou "espero que ele morra" vide resposta aqui.]
Pronto, o homem chateou-se e agiu mal. Certo. Mas chamar-lhe "crime" acho abuso. "Crime" era ele matar a mulher e ainda deixar as despesas do funeral pendentes. Agora tratar logo de tudo, fazer o enterro, e poupar a dinheirama que se ia gastar com a Servilusa? Está ali na fronteira do serviço público, digo eu.
Pode brincar-se com tudo, embora não o possamos fazer ao pé de toda a gente.
Não tem a ver com a proximidade do problema até: há paraplégicos que são os primeiros a espalhar piadas sobre o problema que têm, cegos que dizem "estou a ver, estou", familiares de pessoas que o cancro levou (como eu) que são os primeiros a contar anedotas sobre o assunto. Mas a máxima de alguém que gosta de contar anedotas do género "O que é pior do que um bebé num caixote do lixo? Um bebé em dez caixotes do lixo.", deve ser "conhece o teu publico".
[a série #humorsemfronteiras tem o alto patrocínio da minha capacidade de abstração e riso]
Pode brincar-se com tudo, embora às vezes ainda não seja o momento adequado. O típico too soon. Por exemplo, posso contar a anedota "Mãe, posso brincar com o avô? Podes, mas depois arruma os ossos na caixa" ou "Mãe, não gosto do avô! Está bem, come só as batatas", mas não o posso fazer na semana do funeral do meu avô.
[a série #humorsemfronteiras tem o alto patrocínio da minha capacidade de abstração e riso]
Aparentemente pelo menos uma (a Galinha da Vizinha), mas outras têm costelas bem giras de humor negro, que eu sei (como a M.J. ou a Magda). No blog faço sempre uma auto-censura ao que escrevo porque não me apetece aturar gente que diz que "com isso não se brinca" e por isso mal se dá por ela - basta quem me conhece na vida real a revirar-me os olhos. Também há quem se ria comigo, dessas situações que respeita muito (como doenças) mas não vê como limite, porque rir faz bem à alma, mesmo quando se vive de perto aquilo com que se brinca. Aliás, normalmente, para deslindar o limite de cada amigo faço-lhes um teste que chamo de teste touchdown que consiste em mostrar uma imagem e ver a reação das pessoas. Não vos vou mostrar a imagem para que continuem a ver-me como uma princesa sensível (ahahaha) mas se forem espertinhos chegam lá.
Isto tudo para introduzir uma confissão de um desejo e um pedido de ajuda.
Por exemplo, na versão original da Cinderela (ou numa das versões) as manas feias mutilam os próprios pés cortando bifes de chispe e dedinhos para que consigam calçar o sapato de cristal que o príncipe anda à experimentar às donzelas do reino para encontrar a sua amada. Ou a famosa história da Capuchinho vermelho não se desenrola quando o lobo engole a avózinha inteira: ele destripa-a, corta-a aos bocados e oferece-a de jantar quando chega a neta. Sai um Kompensan para a mesa do canto, certo?!
Enfim, tenho muita curiosidade em conhecer estas versões, que têm séculos e por isso não têm o recato do pau que já nem se atira ao gato. Sou hábil de Google e já encontrei algumas versões em português e inglês que parecem ser isto mesmo, mas tendo em conta portes, dinheiros e afins, quero comprar à confiança. Portanto: alguém já ouviu falar disto e sabe por experiência o nome exato do livro ou livros (em português ou inglês) onde posso encontrar estas versões politicamente incorretas?
É o que esta notícia me faz lembrar. Se o amor dependesse das rugas ou outras mudanças físicas, não o era.
*A mulher acorda depois do parto e o médico quer trazer-lhe o filho. Mas adverte-a que ele não tem bracinhos. Ela diz que não faz mal "é meu filho e hei-de amá-lo sempre". Então o médico diz que o vai buscar, mas acrescenta que ela se deve preparar porque ele também não tem perninhas. A mulher diz "traga-mo, amo-o porque e meu filho, incondicionalmente". O médico vai buscar o bebé que afinal é só uma orelha. A mãe pega nele, emocionada e diz junto à orelha "Amo-te muito, meu filho". E diz o médico: "Vai ter de falar mais alto, que ele é um bocadinho surdo".
Sou amante e defensora do humor negro todos os dias, não só quando há atentados terroristas. Pode brincar-se com tudo, que rir não aleija, só ajuda a tornar mais leve - às vezes (muitas vezes) ajuda a chamar a atenção. No entanto, sei que não posso partilhar piadas sádicas com toda a gente. Sei que, por exemplo, tenho de me abster de o fazer neste blog, sob pena de ferir susceptibilidades de quem não entende o humor da mesma forma. De quem advoga a liberdade de expressão, mas a prefere no quintal dos outros - e assim também eu peco, no meu exercício de não querer ofender ninguém. Por isso, palmas, para a franqueza de Rui Sinel de Cordes. Dono de um humor tão perverso, que chega a ser dos meus favoritos.
Nota só para os mais fortes: Vejam o espetáculo Black Label de Rui Sinel de Cordes, no Youtube. Eu disse só os mais fortes.