Como sempre, muito adiantada, encomendei antes do final de Março as prendas criteriosamente selecionadas para o Dia da Mãe (para a mãe e para a sogra) num site online onde já tinha encomendado isto e aquilo. Sim, o dia da Mãe que aí virá em Maio. Já estabelecemos que sou apressada e que só não planeio com antecedência o que não me deixam, deixando a óbvia margem de manobra para oh sh*t.
Ora tratando-se de quase fim de Abril, lembro-me (só agora que a cabeça não dá para tudo) que nunca mais recebi a encomenda. Vou ao site e confirmo que já foi entregue há semanas...na minha morada de Lisboa - onde não moro vai para um ano.
Portanto alguém na sua vidinha recebeu em casa com o MEU nome (e não vou insistir, mas tenho bastante certeza que a nota de encomenda até leva nº de telefone) um leque de artigos que fazendo as contas dava-me para jantar fora duas vezes assim a lambuzar-me toda com o Moço num sítio bom, porque, caramba, tinha mesmo pensado bem no que dar às mulheres da nossa vida. Não contactou a marca, não devolveu aos correios. Fez que se tinha esquecido ou que achou que era prenda do amigo secreto de Natal a chegar em Abril?
Eu sei que a tolice foi minha, que assumi simplesmente que já teria corrigido a morada naquele site e devia ter tomado atenção. Mas sinto que foi feito um daqueles testes de deixar cair a carteira num jardim a ver o que as pessoas fazem e os novos habitantes da minha antiga casa chumbaram. Resta-me esperar que aquela racha que havia no quarto e o tornava húmido no Inverno lhes tenha dado tosse. Gangsters.
Quem mais se concentra tanto numa tarefa que só quando - horas depois - a dá por terminada, se apercebe que está varadinha de fome, cheia de frio ou calor e/ou com a bexiga a rebentar?*
*E antes de ir suprir as suas necessidades ainda escreve sobre isso no blog...
Este era o texto que eu nunca sonhei escrever. Depois da grande aventura do regresso de Londres que relatei aqui e aqui, escrevendo para vocês sentada no segundo aeroporto do dia, na segunda tentativa de regressar a casa. Eis o que sabia nesse momento:
1) Que o meu voo inicial tinha sido cancelando mesmo no momento em que íamos levantar voo por causa de uma "luz" que acendeu e não sabiam como apagar.
2) Que tinha um voucher de dez libras para conpensar a fome toda que poderia ter entre as 10h da manhã e as 19h55 (hora esperada de início do voo seguinte) que não ia chegar.
3) Que já tinha gasto o dinheiro que devia ter sobrado para comida em compras desnecessárias em dois aeroportos diferentes.
4) Que às 22h30, correndo tudo bem, já estaria em Lisboa.
Uma otimista, é o que sou. Eis o que nessa altura ainda não sabia:
1) O voo de remendo ia atrasar tanto que não chegaria a Lisboa antes das duas da manhã.
2) A TAP ia proporcionar-me uma experiência "conheça as caraíbas a bordo do avião".
3) A minha bexiga tem uma capacidade super-humana.
Não constitui grande supresa para mim que o embarque do segundo voo que me arranjaram, noutro aeroporto, depois de cancelarem o primeiro, se atrasasse. Era um voo de fim-de-dia. E afinal, já tinha esperado 9 horas para entrar no avião de volta a casa, o que era mais uma?
Entramos, sentamo-nos, o avião começa a mover-se para a partida. Tudo são rosas. Até que a voz do capitão ressoa no avião e diz: Senhores passageiros, devido a um problema técnico, vamos voltar com o avião à porta de embarque.
Não, caro leitor. Não é o mesmo post que escrevi há dois dias atrás. Nem o mesmo avião. É todo um avião diferente, no mesmo dia. Dois aviões, duas tentativas de regresso, dois aeroportos, duas avarias? Qual é a probabilidade? O meu pai disse mais tarde que talvez eu tenha o dom da minha mãe. Sempre que ela escolhe uma caixa no supermercado, há qualquer coisa que bloqueia a caixa (alguém com um produto sem código de barras, um problema no pagamento, etc etc). Uma comparação que é um eprfeito disparate, porque o meu poder é bem maior: dou cabo de aviões.
Durante horas aguardamos sentados nos nossos lugares, com a tal recomendação de manter o cinto, ardendo no calor das Caraíbas - o problema desta vez era o AC. As assistentes de bordo iam trazendo água e mais água. Suava por todos os poros, sentada à janela, com dois ingleses ao lado. Primeiro não me podia levantar porque tínhamos recomendação para estar sentados, depois tinha as barreiras psicológicas de incomodar o casal inglês e de usar as WC de um avião, coisa que me parece sempre um exercício à minha inteligência (a torneira liga se levantares braço esquerdo acima da cabeça, a porta abre se vires o pino encostada à parede esquerda e coisas assim). De maneiras que com a bexiga cheia de água me aguentei firme as horas que foram precisas até chegar a Lisboa.
Umas três horas depois do marcado, quando lá chega a peça do AC para voltarmos a temperaturas humanas e arrancarmos, já eu tinha chegado à conclusão que podíamos ter voado com o AC assim porque de qualquer forma, passamos tempo equivalente à viagem fechados no avião...Mas se achavam que íamos partir logo, acalmem-se: ainda vamos repor combustível. Felizmente ninguém se lembrou que já agora aproveitamos e damos uma pintura nova ao avião, senão nem hoje cá estava. Eu estava num state of mind de quase-loucura. Entre a paciência, a incredulidade e o despero. Mais ou menos assim:
A viagem decorreu com a normalidade possível para um grupo de pessoas que suaram o seu peso em bica e agradecem a Deus a ligeira constipação que apanharam no frio de Londres. Quando chego ao aeroporto de Lisboa, contive-me para não beijar o chão. Também ajudou o facto de ir com a bexiga a rebentar e ver à minha frente um autocarro ainda para me levar ao terminal certo. Tende piedade de nós, senhores, não se arranjava uma mangazita de aeroporto para esta gente que qual Moisés atravessou o deserto (versão sentada)?
Enfim. Cheguei morta, mas não literalmente, o que a julgar por todos os incidentes, foi uma vitória pessoal. E quero fazer notar que apesar de ter tido o imenso azar que tive neste dia com dois voos da mesma companhia, esta saga de posts não pretende relatar nenhuma queixa. A TAP continua a ser a minha companhia favorita (devo ser masoquista) o que pode ser o chocolatinho Regina que me deram a falar. Tento não ser como as pessoas que esquecem de tudo de bom que se passou antes, porque mancham o passado com uma má experiência - mesmo que neste caso tenham sido más experiências em cadeia. Como daqui a uns dias vou voltar a voar com a mesma companhia, ficam à vontade para reforçar a minha opinião positiva...sei lá, oferecendo-me um upgrade para primeira classe. #ficaadica
Bonito. Estava super confiante no "vamos ver como apagar a luz do painel". Nisto, voltaram a andar com o avião para o estacionar. A tripulação começou a servir águas para a secura do pessoal, sendo que como continuavamos proibidos de nos levantarmos não terá sido a coisa mais esperta a fazer para uma série de bexigas. Fala o responsável novamente para dizer que as luzes se vão apagar por um bocado porque vão tentar ligar e desligar o sistema...portanto a solução informática. Parecem-me especialistas.
Neste ponto eu já só queria que continuássemos com a luz acesa. Queria regressar à minha terrinha e estava capaz de assinar um termo qualquer de responsabilidade a dizer que sim, fui eu que pedi para apagarem a tal da luzinha do painel e me sujeitava ao regresso sem resolução do que fosse que a tivesse acendido.
Só que ninguém me ofereceu essa saída. Ofereceram-me foi a porta do avião. Senti logo que estavam a acabar comigo de mansinho. Primeiro vai para ali, que no lounge do aeroporto estás mais confortável. Depois sim, a notícia que não ia dar entre nós. Estava esfomeada porque tinha saído à pressa do hotel sem tomar pequeno-almoço e não comi no aeroporto para ter fome para a comida do avião. Portanto, sem ter comido e enquanto esperava notícias corri a ir buscar comida. Quando regresso, estão a dar vouchers para quem quiser ir buscar comida à borla. Fixe.
Foi o tempo de acabar com a comida que PAGUEI para ter a tal notícia: o voo está cancelado. Disseram qualquer coisa como "agora vamos levar-vos à saída e vão remarcar o voo com a companhia" mas eu só ouvi "safem-se". Numa fila que avançava uma pessoa a cada 20 minutos, com 40 pessoas à frente (e mais umas 40 atrás) para remarcar voo liguei para a TAP. Ao fim de 23 minutos de espera alguém me resolveu o problema. Aceitei o voo no aeroporto do outro lado da cidade, pois claro, melhor que nada e saí da fila, para me meter num taxi onde deixei a herança que nunca tive para chegar só ao comboio que me levaria ao segundo aeroporto.
Se acham que acabaram os problemas atentem nisto: tinha comprado algumas coisinhas no Duty Free do primeiro aeroporto. O que significa que tinha agora excesso de bagagem e...excesso de líquidos. Nada de perfumes, líquidos de gente pobre, mas não tanto que fosse deitar fora. Lá um inglês na fila da TAP que me chamou princess (tudo bem, já estava por tudo) me ajudou. Pediu à menina do guichet para me pôr a mala de mão no porão e sugeriu-me que trocasse umas coisas de forma a que os líquidos fossem para lá. Muito agradecida, escarrapachaei a mala ao pé deles, de onde saltaram logo as cuecas que tinham sido as últimas a entrar, seguidas de uma meia de dormir rota no dedão. Fiz as trocas e baldrocas, tendo de usar um segundo saco de desporto que tinha sido uma borla que hesitei em trazer do sítio onde tinha estado nos últimso dias (um saco feio e bambo, de ginástica). Fiquei com saco e mochilinha, onde tinha já os meus líquidos. Despachei a mala, onde tinha os líquidos em excesso das compras que tinha feito.
Fui para a filinha dos tristes, onde verificam a bagagem, muito descansada - ou tanto quanto podia estar depois de tanta aventura. Só até me lembrar que o pack de SEIS vernizes que comprei também calha a ser o quê? Líquido! Lá fiz a ginástica número dois para os separar e encaixar na minha bolsa de higiente. Coube tudo, não sei bem como, nem quero olhar agora porque posso ter um desodorizante pintadinho de verniz vermelho.
Agora aguardo. Não sem antes ter deambulado pelo aeroporto, fazendo compras de chocolatinhos e inutilidades para mim e para a família que me desgraçaram até ao fim do mês - sendo que é só dia 10 no momento que escrevo e tenho uma viagem (férias!) na última semana para me desgraçar ainda mais. Estou cansada, farta, despenteada, carregada. E continuo a achar que arriscava em ir com a luzinha do painel aceso. Mas a minha mãe não deixava.
Eu sabia que a viagem não podia ser grande espingarda porque ia estar uns quantos dias em Londres sem tempo nenhum para visitar a cidade. Está bem que já conhecia (até já publiquei aqui um guia rápido) mas ir cumprimentar o Big Ben nunca fica mal.
Claro que começou a correr pior quando percebi que ia ficar num hotel com condições desumanas. Porque tinha um cheiro estranho? Porque tinha lixo debaixo da cama? Não. Porque só dava 30 minutos de wifi grátis por dia. E não vale a pena esperar pela meia-noite, porque a próxima meia-hora era mesmo só 24 horas depois.
Ontem apanhei um taxi para ir jantar ao sítio combinado, com as pessoas necessárias, à hora que Deus designou para o Homem dormir e não para começar a comer (22h). O senhor taxista tinha ar de quem me ia esfolar viva para vender no Camden Market em sandes mas no fim até foi simpático e deu-me o número dele para o caso de precisar de regressar entretanto. Felizmente. Porque dei por mim sem telemóvel. Tinha ficado no banco do táxi. E não fosse o brilhantismo do homem a dar-me o número numa tentativa de superior exploração do cliente...tinha ficado logo aí bem embrulhada a viagem. Tinha o número, liguei do telefone de um colega, em pouco tempo ele deu a volta e devolveu-me o telemóvel. Nem me lembrei de lhe dar gorjeta. Não sou de dar gorjetas (acredito que as pessoas praticam o bem e a simpatia porque sim). E talvez tenha sido ele a rogar-me a praga de hoje.
Acordei às 7h, mesmo pertinho do aeroporto de onde ia voar. Se tudo correr bem, chegarei às 22h30 a Lisboa. Isto porque escrevo ainda do aeroporto (mas já não é o mesmo) e estou sem internet porque o wifi não está a colaborar (e surpresas?). Logo não vou publicar isto em tempo real.
O pior foi mesmo que estava tudo a correr bem. Eu já sentia o almoço em família em Lisboa nas papilas gustativas, um abraço ao sobrinho, a seguir a fugida para estar com o meu pai, aniversariante esta semana, e no dia a seguir o regresso a casa tranquilo. Check-in, embarque, e tudo e tudo. Fiquei no lugar da saída de emergência e estava com muito espacinho para as pernas...até que a senhora do outro banco me pede para trocar para ir naqueles quatro lugares com a família toda de quatro (pai, mãe e duas crianças). Sim senhora, olha para mim a ser querida. Mudei. Mas só até vir a assistente de bordo lembrar que naqueles lugares de saída de emergência não podem entrar crianças. Troquei outra vez. Viva a dança das cadeiras.
Avião em pista, arranca com toda a força e ali mesmo antes de levantar...trava! Como a pista não era enorme supos que fosse azelhice do comandante. O que não é espetacular para quem vai atravessar o mar com ele a pilotar, mas ao menos é algo que me permitiria estar em casa menos de três horas depois.
Pois bem, fala o capitão logo para dizer para ficarmos calmos...o que é logo coisinha para deixar a pessoa em pânico.
Eu, felizmente, não tenho medo de voar, e portanto estava numa atitude muito: sim, sim, despacha-te lá. Fala ele novamente então para explicar que havia uma luzinha no painel que acendeu antes de levantar voo e iam ver como apagá-la.
O primeiro fim-de-semana de Setembro é sempre um daqueles momentos do ano em que me dava jeito o poder da multiplicação, da omnipresença ou do teletransporte. Desta vez, são 4 eventos em 3 dias. Em 4 pontos diferentes do país, nenhum deles separado por menos de 100km, alguns por quase 400km. Todos de importância extrema. Não vou poder chegar a todos e, à data que escrevo (impossível que fosse hoje) prevejo discussões com o Moço acerca das prioridades e da ideia de que chegar a tudo é igual a não aproveitar nada. Desejem-me paciência, genica e preços baixos nas bombas de gasolina. Não vai ser fácil, isto que era suposto ser bom.
Não, não é para fazer publicidade, embora esteja a aceitar este mantimento de forma vitalícia. É mesmo para chamar sacana à bolacha...
Quando estive em NY comprei uma embalagem de Oreos finininhas, as Thin. Já as tinhas visto num vlog qualquer e achei que ia adorar. Não as comi lá porque tinha mais com que me entreter (mais guloseimas, entenda-se), mas dei-me ao trabalho de arranjar espaço para elas e estimá-las como um tesouro. Chegaram cá inteirinhas, todas.
Ainda não tinha saboreado a primeira quando vejo o anúncio: as Oreo Finas chegaram a Portugal. Para a próxima trago algo mais certo de ser mais comum lá do que cá. Tipo um revólver.
Precisava de estar impecável à hora de almoço. Por isso saí de casa com nódoas gigantes de desodorizante que tomei por água, ao longo da manhã juntei uma nódoa de manteiga ao tecido e esfreguei os olhos lambidos de rímel negro. Parece que ter o nariz assado dos últimos dias de constipação podia não ser suficiente para me olharem de lado. Mas só para ter a certeza que causava má impressão tossi que nem uma tuberculosa durante o almoço todo por causa do ar condicionado. Estão mesmo a ver-me num evento da Boticário ou marca que o valha, não estão?
Uma vez fiz e não correu lá muito bem. A senhora começou logo por me dizer que ia ser complicado porque eu tinha as pestanas curtinhas. E eu gritei-lhe: Ó ESPERTEZA SALOIA, SE AS TIVESSE GRANDES TAMBÉM NÃO PRECISAVA FAZER EXTENSÃO, NÃO ERA? Talvez tenha dito só "está bem".
Quando saí de lá, depois de uns minutos a castigar as pálpebras, aquilo parecia só rímel mal posto, todo em grumos. Cheguei a casa e recordei a recomendação da senhora: agora não passe água por 24 horas para secar. De maneiras que encharquei a cara até tirar aquela porcaria dos olhos.