E se não mentíssemos?
Vi o filme mais delicioso, sem querer, na tarde de Sábado.Escrito, dirigido e protagonizado pelo génio da comédia Ricky Gervais. Chama-se A Invenção da Mentira e relata a vida numa sociedade onde ninguém mente. O conceito não existe, sequer. As pessoas não mentem, não fingem, não ocultam. A publicidade à Coca-Cola diz "Beba porque queremos vender mais" e a da Pepsi diz "Beba quando não há Coca-Cola. Os filmes neste mundo são factos relatados por um homem sentado numa cadeira a falar para a câmara (qualquer tentativa de reprodução seria um fingimento).
Choca ao início, que haja tamanha frieza nas reações aos: "és gorda", "não tenhas esperanças", "odeio trabalhar contigo". Tudo o que há é honestidade e as pessoas estão habituadas a ela. Depois o protagonista inventa a mentira e tudo muda para ele e para o mundo, numa sátira à sociedade e à religião (revi um pouco de Saramago, será possível?).
É uma comédia ligeira, mas também um exercício de reflexão pesado. Um mundo sem little white lies parece-me agora horrível. Julguem-me se quiserem. Mas depois vejam o filme para verem a importância de um "vai ficar tudo bem" quando não sabemos se isso é verdade. Sem um pouco de fingimento, não há otimismo. Sem alguns segredos, não há boas surpresas.
A minha irmã escolheu-o ao acaso no menu das gravações automáticas, na Fox Movies, e pode ser que ainda o apanhem lá. E foi bem melhor que o filme que eu tinha escolhido primeiro (e não vimos mais de 5 minutos). Não sei em que mundo é que o "Caçador de Trolls" me pareceu uma boa opção.