Maria e Moço x 5
Ele deixou de pôr de parte a cebola nas saladas ao jantar. Eu deixei de me pentear nas manhãs preguiçosas. Passei a desvalorizar quando faz que morre por estar constipado. Não fazemos cerimónia quando não gostamos das coisas um do outro. Puxo-lhe o lençol à noite se for preciso e ele quando se vira faz tenda e deixa-me a apanhar frio nas costas. Quando digo que não quero jantar ele já não vai buscar cerejas da Patagónia à meia-noite porque é a única coisa que me apetece comer.
Ele dá-me beijinhos rápidos se comer a tal cebola. Diz que gosta de mim despenteada. Certifico-me que toma a medicação certa e cuida de si se estiver doente. Fazemos uma coisa diferente durante um bocado, se não nos interessa a mesma coisa. Ele traz-me água todas as noites à cabeceira antes de nos deitarmos e liga-me o saco de agua quente elétrico enquanto eu levo os dentes. Se for num raio de 10 quilómetros, ele ainda me vai buscar o que me apetecer jantar só para eu não ficar de estômago vazio.
Não mudámos, adaptámo-nos. E no que é essencial - o amor - nada mudou.