Mind-f*cking-fulness
Aquilo que há uns anos atrás era mal visto pela sociedade hoje é uma moda. Havia o cliché cinematográfico da solteirona desesperada que lia o livro de auto-ajuda. Hoje em dia foi substituído pela mulher de sucesso tão consciente de si que pratica mindfulness. Claro que na primeira versão a sessão de meditação é substituída por um litro de gelado comido diretamente da caixa, mas vocês percebem a comparação.
Cuidar da nossa mente, procurar conselhos de quem a estuda e aos nossos comportamentos era uma fraqueza associada a quem precisava de ajuda (auto-ajuda). Hoje é um hábito inteligente de quem quer equilibrar todos os pontos da sua vida e ser ainda mais completo (mindfullness).
Ao contrário do que sugere o título, estou tentada a acreditar que isto é uma coisa boa e não um esquema para os estúdios de yoga fazerem mais uns trocos. Numa sociedade cada vez mais acelerada e cheia de estímulos tecnológicos, o ato de parar a sentir o presente parece-me essencial.
Digo isto talvez influenciada pelo meu próprio ritmo cada vez mais frenético. Pela minha consciência de que vivo sempre a pensar no que tenho de fazer ou onde tenho de ir a seguir.
No outro dia vi uma coisa chamada Diário da Gratidão. Aparentemente há resultados benefícios em manter um registo diário das coisas pelas quais agradecemos (desde arranjar um lugar de estacionamento a estarmos vivos) porque muda o nosso mindset e o nosso foco no negativo. Considerei por um segundo. Ontem o Instagram apresentou-me um anúncio da app de meditação - ou mindfullness - Calm (uma dessas mais famosas, não necessariamente a melhor) que entre outras coisas nos ensina a respirar (seria de esperar que aos 30 já fosse capaz, certo?). Considerei por um segundo.
Isto depois de ter feitos duas aulas de pilates - ignorar que não ponho lá os pés há duas semanas - quase é dizer que estou uma mulher nova. Há uns meses atrás teria torcido o nariz a qualquer uma das três ideias e desdenhado dos praticantes. Não me interpretem mal, ainda estou capaz de desdenhar (inclusivamente se tentasse e me rendesse). Mas considero ou considerei as três. Não sei se é uma evolução minha ou uma necessidade. Estarei a crescer?
Sei que há qualquer coisa de muito irritante nisto. Tem a ver com aquele sentimento de estarmos muito enervadas e alguém dizer "tem calma". É que é preciso admitir que preciso que me digam para ter calma para praticar o tal do mind-f*cking fullness. E isso provoca-me tanto stress quanto a potencial tranquilidade que daí poderá advir.