Não tenho saudades.
Estive longe de casa por um tempo e enquanto lá estive ocupei-me e não pensei no que tinha deixado cá. Não penso na falta que me faz coisa alguma. Sei que volto em breve e concentro-me em aproveitar o que está comigo e não o que fica para trás. Não penso que preciso dos braços do Moço para me embalarem, porque quero só dormir depressa e o tempo passa, que eu sei, e logo chego outra vez. Como quando estou longe dos meus pais, muitos dias a fio de cada vez, desde que vim para Lisboa há tantos anos, e sei sempre [ingénua] que estão lá para me receber - porquê mastigar saudades? Como daquela vez em que fui passar três semanas a Paris, com amigos, e achava tonto que me perguntassem se tinha saudades de casa, do meu país, e eu - que sabia que tinha a sorte de voltar em menos tempo que os 31 riscos que se fazem do calendário - não percebia por que raio haveriam de querer que estivesse melancólica. Não tenho saudades à partida.
E é só quando chego - ao Moço, ou ao pé da família, ou ao meu sofá, ou ao Tejo - que tenho saudades. Que quero os abraços do Moço todos aos mesmo tempo sem largar, que me apercebo que não comia a sopinha da minha mamã há tanto tempo, que não terminei as frases ao mesmo tempo que a minha irmã durante tantos dias. Que o Sol de Lisboa não é o mesmo que brilha nos outros sítios. Ou que o castelo de Leiria é (seja ou não) o mais bonito do mundo. Não tenho saudades à partida. Tenho saudades à chegada. Regressei a casa há uma semana e ainda não passaram.