Nem tanto ao mar, nem tanto à terra
As praxes podem ser (são em 90% dos casos) estúpidas. Mas se um aluno espirrar enquanto está em praxe, não foi necessariamente o veterano que o infetou com o vírus da gripe.
No meu tempo (não acredito que estou a usar esta expressão), vesti sacos do lixo e cantei, tive crianças a pintarem-ma a cara e a darem-me papa e fui vendida em leilão. Nunca me senti ofendida, não fiz nada que não quisesse - pelo menos aceitasse (a coisa mais horrível para mim foi mesmo a papa, mas tive colegas que se deliciaram), e caso me quisessem obrigar a algo podia sempre recorrer àquela coisa chamada personalidade para dizer "não". Por exemplo, não bebo alcóol.
Bem sei que há lugares que levam estes rituais mais a sério (ou menos a sério, porque no meu caso foi mais uma integração que uma humilhação, que devia ser o real propósito da coisa), mas não acredito que não haja a opção de negar, à partida ou em determinado momento. Aliás, o que acredito é que nos casos em que não há hipótese de negar isso já não tem nada a ver com praxe. Tem a ver com seres humanos desprezíveis, inseridos num contexto que pensam que lhes dá poder - mas no fundo só lhes dá o poder que aquela centena de caloiros por cada 10 veteranos deixar. E isso é crime, e podia acontecer no campus universitário, como no café da esquina.
Digo isto pensando racionalmente e não querendo defender uma tradição da qual nunca achei que fosse fazer parte, porque no geral e da forma como é levada a cabo em muitas universidades, não me identifico com ela.