Quem morre é quem fica vivo
Penso sempre nisto: que é mais fácil para quem parte (se é que parte para lado algum).
Quem fica vivo é que morre. Um pedaço de cada vez. Uma pessoa de cada vez.
Eu já morri por duas vezes. A primeira tirou-me um pedaço gigante. Levou-me uma parte da infância, um colo, viagens de Verão e parceiro para jogar às damas. Nunca mais fui encher os garrafões de água à fonte. Da segunda vez morri menos, mas morri muito naquele abraço interminável de quem morreu inteiro ao ver a sua alma gémea partir.
Morrer é muito difícil para quem fica vivo.