Regresso ao Futuro: um outro filme
Fecho os olhos.
Passaram-se 50 anos. Tenho os cabelos brancos e a pele macia. Envergo um vestido, a minha peça favorita desde sempre. Já não me molda a cintura da mesma forma, mas a mão dele está lá a abraçar-ma. A minha cabeça esta encostada no ombro dele, onde pertence, mas não se deixem enganar: discutimos afincadamente qual o filme que vamos ver agora. Ele pergunta-me o que quero ver afinal e eu protesto porque ele me pergunta sempre e nunca decide. Não chega a se rum problema. Nunca foi.
Esboço um sorriso meigo aos problemas que ficaram para trás e na altura pareciam fazer desabar o mundo. Tudo passa.
Os planos que fiz desfizeram-se e deram lugar a caminhos que nunca pensei percorrer. Contei muitas histórias. Escrevi menos do que as que me passaram pela cabeça - seria um exercício impossível.
Perdi pessoas que achei que iam durar para sempre. Ganhei pessoas que não sabia que ia ver chegar. O Natal está próximo e tê-las-ei todas à mesa.
É Outubro e já tratei da prenda dele. Incorrigível. Não resisto a dar-lha já - que Diabo, depois compro outra. Levanto-me com alguma dificuldade, que já não vou para nova e finalmente percebo o que eram "as cruzes" da minha avó. Tiro a prenda da gaveta. Ainda me envaideço a olhar para as minha mãos finas e ágeis, mesmo que agora lhes conheça uma firmeza mais desajeitada.
Passo-lhe o embrulho para a mão e ele descobre o relólógio que lhe dei - o primeiro. Um modelo quase obsoleto para a altura. Restaurado agora, ponteiros a mexer, uma inscrição "o tempo voa quando somos felizes".
Levanto-me e ele pergunta-me onde vou agora que íamos começar a ver o filme. Vou só escrever um bocadinho. Vou ao blog contar a tua reação.
Abro os olhos.
A primeira incursão já está.
Espero um dia regressar lá. A este mesmo futuro. Assim que for presente.