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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

14
Mai17

Diário de um Caracol - Parte 11

Maria das Palavras

Diário de um Caracol

 

14 de Maio de 2017


Querido Diário, 

Sei que já não escrevo há muito tempo, mas assim que acabou o mundial de futebol começámos a fazer a peregrinação para Fátima e não houve tempo a perder. A partir do Cartaxo ainda é um bela distância. Quase não chegámos a tempo e perdemos dois familiares pelo caminho. Primeiro a tia Teresa, vítima de desidratação. Ela estava sempre a beber de uma garrafa do Luso e achávamos que estava a tomar bem conta de sim, mas afinal era Gin (como é que ninguém estranhou a azeitona na garrafa?). E, já na na reta final, um primo foi esmagado pelo joelho de uma devota sobre-nutrida ali na zona de Alcanena. Tinham avisado o pessoal para ter cuidado com as beatas, mas ele no último fôlego confessou que achava mesmo que estavam a falar das pontas de cigarros. 

No entanto, não só por estas desgraças, mais valia não termos lá ido. O caracol Antunes, que é um amigo do pai e foi conosco, desapareceu quando já estávamos à entrada do recinto. Não é que quando chega o Papa é que o vemos, bem em cima do terço gigante, todo NU (sem a casca a tapar a santa trindade) a gritar pelo Benfica?

Foi uma vergonha. A mãezinha sentiu-se mal e perdeu o final da missa.  Já o Felismino gravou e queria pôr no Youtube porque diz que dá dinheiro se fizermos alguma coisa original e o segmento dos caracóis ainda não foi bem explorado. 

Eu estou só muito cansado de andar com a casa às costas de um lado para o outro. Para o mês que vem já faço 3 anos e o pai diz que posso tirar a carta de me colar a uma mota. Sinto que vai ser libertador, apesar de a mãe dizer que é perigoso. Acho que é porque uma vez um caracol lá da terra tirou carta de se colar ao carro, mas depois, sem se aperceber, colou-se a um daqueles carrinhos da feira. Ainda hoje lá anda às voltas e não consegue sair.

 

Uma ranhoca,

Martim

 

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26
Jul16

Diário de um Caracol - Parte 10

Maria das Palavras

Diário de um Caracol

 

26 de Julho de 2016


Querido Diário, 

Tenho boas e más notícias a registar.

 

A má é que não conseguimos entrar no E se fosse consigo? A Conceição Lino diz que o nosso problema, enfim, de sermos devorados crus (custa-me dizer) não é algo com que a maioria das pessoas se identificasse. Também acrescentou que este assunto estava na moda o ano passado e este ano são ataques terroristas, por isso não temos hipótese nenhuma, a não ser que o meu pai acenda um fósforo atado à casca e corra por aí a aleijar pessoas. Ele nem sabe correr, quando chegasse ao primeiro humano já o fósforo estava apagado. Nem conseguimos contra-argumentar porque ela estava a olhar para nós com uns olhos (era hora de almoço) que não nos deixou seguros.

 

Depois de uma fase muito difícil em que os portugueses andavam todos à caça de caracóis para juntar em pirezinhos de cadáveres (uma visão assustadora) e tragar enquanto olhavam para uma televisão com homens a correr num relvado, as coisas inesperadamente acalmaram. Qualquer coisa a ver com futebol, diz o Felismino. Para mim continua a ser um ritual satânico. Certo é que o Felismino foi pai e chamou Éder ao filhinho por causa disso. Disse "ele sempre me fez lembrar um caracol, mesmo".

 

Agora até conseguimos sair à rua entre os humanos e ninguém nos liga. Em vez de terem sacos, empunham o telemóvel. Quando gritam "está ali um" assustamo-nos sempre um bocadinho a pensar que é para nós. Mas na verdade apontam para o vazio e tiram fotos. Ainda não percebi para o que é bom aquele exercício, mas eles estão sempre a repetir isso: Pró Qu'é bom! Acho que é isso, pelo menos...

 

Uma ranhoca,

Martim

 

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24
Mai16

Diário de um Caracol - Parte 9

Maria das Palavras

Diário de um Caracol

 

24 de Maio de 2016


Querido Diário, 

É verdade que tenho andado sem escrever, mas também posso dizer que entre o nosso recolhimento durante a época dos caracóis de 2015, as viagens à procura de um local seguro para passar o Inverno e a minha mais recente mudança de escola (andava num privado e a mãezinha diz que agora já não posso) as coisas têm sido caóticas para os meus lados. 


Começámos uma marcha lenta para Cannes porque o Felismino tinha visto um sítio seguro lá para nós na imprensa, uma espécia de zona montanhosa abrigada, mas parece que afinal era só o rabo da Rita Pereira que até ia voltar para Portugal em breve. E afinal também não era assim uma zona muito abrigada. Só nisto perdemos uma semana e nem chegámos a passar de Xabregas. 


Depois passámos vários dias escondidos num prédio em construção porque havia um monstro à solta. Descreviam-no como o diabo de vermelho que nunca sorria. Mas a mãe que até apanha de vez em quando a TV ligada na Sic quando vai comer sardinheiras à janela da dona Ludmila percebeu que era só a Inês Castel Branco que tinha estado mal disposta. 

Calhou na mesma noite que quase nos enganámos e fomos pisoteados no Marquês porque uma caracoleta vizinha nos disse que tinha avistado um belíssimo campo de papoilas, mas afinal eram os adeptos do Benfica a festejar um tal de título. 


A melhor novidade é que agora andamos em filmagens. Estamos a fazer a nossa candidatura para um programa de TV e o Felismino já escreveu uma carta e tudo. Vem aí a época de comer caracóis e temos de começar a pensar em estratégias de defesa. Então queremos ir ao "E se fosse consigo?". O pai acha que temos muito boas hipóteses porque acho que já passaram por lá outros animais. 

 

Uma ranhoca,

Martim

 

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04
Nov15

Diário de um Caracol - Parte 8

Maria das Palavras

Diário de um Caracol

 

27 de Outubro de 2015

Querido Diário, 

O plano de fuga para o deserto, a que o pai chama de Margem Sul, foi cancelado. Aparentemente o meio mais seguro de viajarmos até lá sem sermos pisoteados é num braco grande a que chamam cacilheiro. Mas o Felismino - eita caracol bem informado - diz que nem vale a pena que estão sempre em greve e íamos demorar mais tempo a ir nesses barcos do que a aprender a nadar e atravessar o Tejo assim. Estamos meio desiludidos mas arranjamos uma cantilena para nos animar, e voltamos para trás a entoar a rima "Soflusa, até o caracol recusa".

Uma ranhoca,

Martim

 

1 de Novembro de 2015

Querido Diário, 

Ontem apanhámos o susto das nossas vidas. Íamos a passar por uma pequena comunidade quando começamos a ver uns seres estranhos a correr de um lado para o outro às escuras. Eram afinal mini-humanos mascarados que gritavam às pessoaspara lhes darem doces. Ficámos em pânico porque a mãe pensou que os tinha ouvido a pedir "doses" e podia ser de caracóis. Começamos a correr (a quem é que eu estou a enganar? começamos a deslizar menos lentamente) em todas as direções. Perdemo-nos uns dos outros e só esta manhã conseguimos voltar a reunir-nos. A última a ser encontrada foi a Miriam, que se escondeu numa abobora aparentemente vazia mas ficou presa pela cera de uma vela que estava a queimar lá dentro. 

Uma ranhoca,

Martim


4 de Novembro 2015

Querido Diário, 

Custa-me a acreditar que estou a escrever isto. Voltamos a estar recolhidos nos esconderijos. Apesar da maior parte dos humanos não constituirem risco para nós nesta altura do ano, parece que anda uma ameaça à solta. Uma espécie de fera. Um gato fugido. Um gato muito lourinho. Um tal de Benny.

Uma ranhoca,

Martim

 

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26
Out15

Diário de um Caracol - Parte 7

Maria das Palavras

Diário de um Caracol

 

21 de Outubro de 2015

Querido Diário, 

Aproveitámos para sair do esconderijo hoje. Os humanos estavam distraídos com um tal de Netflix que ia chegar dos Estados Unidos hoje. O Felismino, que é sabido, diz que os humanos são muito de se entusiasmarem com coisas assim: vão ter a possibilidade de pagar por coisas que têm de borla e ficam aos saltos. Ele diz que é para não serem Inácios. 

Entretanto o negócio da baba de caracol está a correr de vento em popa. Literalmente. Com o mau tempo, veio uma rajada e demos cabo do stock todo. Não sei se tenho coragem para começar a recolha toda de novo. 

Uma ranhoca,

Martim


23 de Outubro de 2015

Querido Diário, 

Por esta altura as coisas já deviam ter acalmado. Em Outubro ninguém nos anda a apanhar para nos cozer vivos e só temos de ter os cuidados básicos com os humanos: sair da frente deles para não sermos pisados.

Tem-se revelado uma tarefa especialmente penosa porque os humanos iam para a direita, começamos a ir na direção contrária e eles voltaram à esquerda. Fomos nós para a direita, eles voltaram a virar-se para lá. Uma confusão. Eles não se decidem e nós não sabemos para que lado fugir. O pai diz que o importante e escondermo-nos e não dar cavaco às opiniões dos outros. Não sei bem o que quer dizer com isso.

A nossa meta é chegar à margem sul porque dizem que por lá não há ninguém. Chamam-lhe deserto, mas o Felismino promete que tem plantas e não há camelos para nos pisarem. Se continuarmos a bom ritmo e os humanos pararem de mudar de direção em 2054 estamos lá. 

Uma ranhoca,

Martim

 

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17
Set15

Diário de um Caracol - Parte 6

Maria das Palavras

Diário de um Caracol

 

5 de Setembro de 2015

Querido Diário, 

o pai diz que a crise está quase a acabar e em breve poderemos sair do abrigo sem risco de sermos cozidos vivos. Há até muitos humanos a falar em dar abrigo aos refugiados e o pai pensa que estão finalmente a aceitar que temos direito à vida e a toda a alface que queremos. No entanto também há pessoas que dizem que têm de ajudar primeiro os seus mendigos. Eu percebo, nós, caracóis, ao menos temos a casa às costas. Devem estar a falar das lesmas.

Uma ranhoca,

Martim

 

9 de Setembro de 2015

Querido Diário, 

Há um alerta geral e estamos todos recolhidos novamente. Tudo porque o Felismino disse que estava a ouvir passos.

Uma ranhoca, 

Martim

 

10 de Setembro de 2015

Querido Diário, 

Afinal o Felismino estava a ouvir Passos, mas era o primeiro-ministro dos humanos. Um debate que deu à costa, ou lá o que foi. Em princípio estamos safos e a poucos dias da liberdade. 
Ainda bem, porque a Miriam não me deixa em paz. Agora viu fotos da filha do Mourinho e anda sempre com a casca toda puxada para baixo, mesmo quando está ao pé do pai. Ela entretanto começou um blog. Tem dicas de moda e beleza. Chama-se "Baba de Caracol" e chega lá muita gente todos os dias a perguntar se ela vende baba.Quer convencer-me a abrir negócio com ela, mas eu tenho medo que ela aproveite para abrir outras coisas. 

Uma ranhoca, 

Martim

 

17 de Setembro de 2015

Querido Diário, 

Fui avante com a ideia da venda de baba de caracol no blog da Miriam. Estamos a ganhar dinheiro a rodos. Tem sido bastante fácil adquirir matéria-prima - basicamente vamos junto do avô quando ele adormece (que é sempre de boca aberta) e recolhemos. O meu primo Carlos que é epilético também já se ofereceu para ajudar.

Uma ranhoca, 

Martim



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06
Ago15

Diário de um Caracol - Parte 5

Maria das Palavras

Diário de um Caracol

 

28 de Julho de 2015

Querido Diário, 

andamos todos muito mais descansados. Parece que os humanos estão a abandonar o planeta. O Felismino, que lê muito, diz que andam a fugir para um planeta longíquo chamado Albufeira, por causa do clima.

Além disso estão a dedicar-se à morte de espécies maiores. Ouvimos um caso de um leão chamado Cecílio que era até do jet set dos leões e foi caçado pelos humanos. A mãe diz que normalmente estes animais com tiques de estrela morrem mais por causa das drogas (é um mundo muito feio, o da fama) e não acredita na história da caçada. Diz que foi overdose. O meu pai acha que sim, foi overdose de chumbo.

Uma ranhoca,

Martim

 

2 de Agosto de 2015

Querido Diário, 

Está tudo em êxtase na comunidade dos caracóis! A crise acabou. O planeta está oficialmente deserto de humanos. 

Uma ranhoca, 

Martim

 

3 de Agosto de 2015

Querido Diário, 

Falso alarme. Afinal estavam todos no casamento do Jorge Mendes, mas já voltaram.

Uma ranhoca, 

Martim



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15
Jul15

Diário de um caracol - Parte 4

Maria das Palavras

Diário de um Caracol - Maria das Palavras

 

8 de Julho de 2015

Querido Diário, 

desde que estamos recolhidos aqui no sotão, não tenho tido muito com que me entreter. Então decidi aderir à recente tendência das selfies, de que ouvi falar através do Felismino. Perguntei-lhe onde tinha ido buscar essa ideia e ele respondeu:  #PorAcasoFoiIdeiaMinha - é mesmo um caracol da vanguarda. Quando reunir todas vou fazerum livro.

Uma ranhoca,

Martim

 

14 de Julho de 2015

Querido Diário, 

O projeto das selfies não tem corrido muito bem. As fotos saem todas desfocadas e meio gosmentas. Acho que o principal motivo é eu não ter bracinhos e ter de agarrar a câmara com o corpo todo. A Miriam (que é a caracoleta filha da família que está cá conosco no abrigo de caracóis) diz que devia usar um selfie stick. Perguntei ao meu pai se podia ter um e ele disse que já viu humanos a comer caracóis usando o tal do selfie stick, só que em português diz-se palito. Estou meio desanimado. O que vale é que há muitos humanos a irem de férias, portanto a ameaça de sermos cozidos vivos baixou um bocado - estamos em alerta laranja mesmo assim. A minha mãe diz que é adequado porque quando os humanos vão de férias também voltam cor-de-laranja. 

Uma ranhoca, 

Martim



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07
Jul15

Diário de um Caracol - Parte 3

Maria das Palavras

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26 de Junho de 2015

Querido Diário,

O Felismino trouxe-nos a nós e mais uma família para morar num sítio a que chamamos "o sotão", apesar de ser debaixo da terra. Inspirado pelo livro da tal Anne Frank, diz que aqui estamos mais seguros dos cozedores de caracóis vivos. Temos de andar ainda mais devagar para não fazermos barulho e nunca sermos apanhados, o que significa que escrevo aqui do meio da divisão - já estou a tentar encontrar-me com a minha mãe desde as 10 da noite de ontem, que tem ali qualquer coisa para nos alimentarmos, ao fundo da sala. Diz que é um "sumo verde". Que nos ajuda a racionar enquanto estamos aqui fechados e ainda por cima é bom para a saúde, diz ela, faz a gosma mais viçosa.

Uma ranhoca,

Martim

 

1 de Julho de 2015

Querido Diário,

Estou a dar em doido aqui fechado. Ainda por cima a caracoleta que é filha da outra família que veio para o sotão conosco está sempre a meter-se comigo. Cá para mim, é um bocadinho saída da casca. O clima continua a ser de muito medo e insegurança. O Felismino que de vez em quando vai lá a cima ao quintal, diz que somos cada vez menos na comunidade, mas que começa a haver uma certa esperança que à medida que diminuimos, os humanos se voltem para outras espécies e comecem a comer gafanhotos. Ele é mesmo muito informado e diz que uma vez rastejou numa página que falava sobre uns humanos do outro lado do mundo que o faziam.

Uma ranhoca, 

Martim

 

5 de Julho de 2015

Querido diário,

cometi uma loucura e fugi. Como agora estamos a habituar-nos a andar mais devagar também não fui longe. Assim que saí para a terra do quintal e mordisquei uma erva, apareceu uma criança que começou a cantar e a bater palmas para mim, numa espécie lenga-lenga satânica: Caracol, caracol, põe os corninhos ao Sol. Felizmente não me agarrou e eu voltei logo para trás. Aprendi a minha lição. A mãe diz que eu tive muita sorte em não ter sido apanhado, mas que fui vítima de bullying.

Uma ranhoca, 

Martim

 

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24
Jun15

Diário de um Caracol - Parte 2

Maria das Palavras

Snail-inked.gif

12 de Junho de 2015

 

Querido Diário, 

O primo César, a quem todos continuam a chamar Salvador - agora mais do que nunca - suicidou-se. A pressão mediática de ter participado na campanha "Gostava de ser cozido vivo" foi demais para ele. Também começaram a acusá-lo de colaboração com humanos e houve mesmo quem o ameaçasse. Estamos todos de luto: esfregámos as cascas num pedaço de carvão e assim andamos há dias. O pai e a mãe dizem que isto ainda torna a nossa situação atual pior, pois chamamos mais a atenção dos humanos que continuam aí a apanhar-nos nos terrenos. Em relação ao ano passado, a maior mudança que notamos é que agora não trazem sacos de plástico, por algum motivo. Apanham-nos só para as próprias mãos, o que torna a sua capacidade de transporte mais limitada e nos dá tempo para fugir entre uma remessa e outra. O Felismino das ervas altas jura que nunca se tinha arrastado tão depressa tal foi a iminência da sua cozedura.

 

Uma ranhoca, 

Martim

 

 

20 de Junho de 2015

 

Querido Diário, 

Depois de quase ter sido apanhado, o Felismino começou a engendrar um plano de sobrevivência para nós. Parece que conseguiu roer umas folhas de um livro com a história de uma tal Anne Frank e diz que nos vai arranjar um sítio para nos escondermos dos alemães. Sim, depois de ele ter lido o livro e ter relatado a história e a solução do alto da pedra do quintal, a maior parte de nós começou a chamar Alemães às pessoas e fala em genocídio - a professora não me quer explicar o que é, mas tenho ideia que ela não sabe, porque nunca roeu o livro que o Felismino apanhou.

 

Uma ranhoca, 

Martim

 

[Primeira parte aqui.]

 

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