Há um tempo da nossa vida, ali na parvolescência, em que há coisas que nos fazem confusão. Ir a uma festa de Agosto acompanhada dos pais, por exemplo. Comer um algodão doce por mais que apeteça - afinal já somos crescidos e temos de o provar ao mundo. Ainda nem sabemos nessa altura que o mundo está todo com o nariz enfiado nos seus problemas e não se rala com o nosso alodão doce. Ou que quem se rala e aponta o dedo deve ser olhado com condescendência e não vergonha. Aos 30, é precisamente desses momentos que se faz a felicidade. O meu pai deu-me um algodão doce gigante. Peniquei-o com a minha irmã, enquanto a minha mãe e ele seguiam ao pé com as pipocas. Fiquei com os dedos todos colados e lambi-os. Lambi pois. Sem vergonha. Não há tempo para ter vergonhas nestes fragmentos em que a vida é doce.
Já vos disse que me estou a profissionalizar em organização de festas-surpresa, animação de casamentos e chás de bebés em geral? O mais engraçado é que tenho paciência ZERO para organizar qualquer coisa que se assemelhe para mim. Já para os outros, refilo, reviro os oslhos e...faço com todo o gosto. Porra.
Pelo que entendo, dos agradecimentos que se fazem em blogs - nomeadamente muitos -, hoje em dia, são precisas cerca de 34 empresas para uma festa de aniversário de criança: a do local arrendado, a do catering, que não é a mesma que faz o bolo em forma de castelo (com tanque de crocodilos à volta e tudo), a que faz os convites, a que dobra os convites, a que fornece os brindes, a que tira fotografias, o palhaço, o pessoal especializado que ajuda os meninos a usar o penico...
E a minha mãe que fazia tudo sozinha na garagem lá de casa?
Sou totalmente contra a crueldade animal. Embora não seja uma ativista dos direitos dos animais e até ache que ainda temos muitas causas (des)humanas para gritar antes de pensar em manifestações anti-tourada ou gatos a subirem paus ao toque de fogo, causa-me náuseas saber que tais práticas existam na sociedade sob a fachada da tradição (também era "tradição" que as mulheres não votassem).
Mas há tradições com um cariz mais subtil e que não aleijam tanto (pelo menos põem o animal em condições de igualdade) e que não me chocam. É o caso das "vacadas" - não sei se é este o termo que usam em todo o lado, mas é o termo que usam pela minha zona. É uma espécie de tourada, versão light (não faz mal à saúde). Basicamente lançam umas vacas ou uns touros mais tenros para a arena improvisada e durante algum tempo as pessoas são convidadas a fazer frente ao bicho (nada mais que uma pega, não há objetos afiados envolvidos, até os cornos dos bichos são protegidos).
Assisti a parcos minutos de uma dessas vacadas abertas ao público este fim-de-semana. Basicamente uma mão cheia de catraios pseudo-corajosos entram e saem da arena a correr assim que o animal se vira para eles. E muito de quando em vez acontece que conseguem mesmo agarrar o animal. A ideia é agarrar e largar - só provarem que são homenzinhos e estão cheios de testosterona para a seguir poderem pagar um gelado à miúda mais gira da aldeia com o peito feito. Vi mais catraios no chão do que a conseguirem mostrar alguma valentia frente ao animal. Mas houve um momento em que caiu a proteção de um dos cornos do touro e o tipo mais experiente foi organizar a pega. Lá agarrou o touro para ajeitar a fatiota-de-corno, com a ajuda de alguns dos badamecos que para lá andavam a tentar a sorte.
E de facto a tradição já não é o que era. A vacada ficou suspensa durante vários minutos. Porquê? Porque todos quiseram, à vez, tirar selfies com o touro...Graças a Deus ele não se irritou. Ou teriam conhecido o verdadeiro selfie stick.