Claro que eu sou aquela pessoa que já esteve em Roma e NÃO atirou moeda à fonte. Estive lá e é bonito, sim senhor, pelo menos assim que aprendemos a usar os cotovelos para chegar à frente da multidão de turistas e sob pena de aparecer em 30.000 selfies de chineses em 2 minutos. Mas sou menos supersticiosa que um alho francês e não vou de modas. Assim me encontrei na Fontana di Trevi, há uns bons anos, com duas amigas e não quis gastar dinheiro para enferrujar num pedaço de água (logo na cidade onde as moedas se convertem em gelados). Fiquei a tirar a foto enquanto elas atiravam uma moeda para voltar a Roma ou duas para encontrarem o amor.
Se eu soubesse que estava a dar para a caridade talvez tivesse pensado duas vezes em deixar a moeda (talvez não, continua a ser a cidade onde as moedas se convertem nos melhores gelados). É incrível como acho que se soubessem que ia para a caridade (e não para fundar desejos próprios) a maior parte dos turistas não deixava lá tostão nenhum.
Certo é que ao saber que se reúnem 800 mil euros por anos por ter a fonte a correr, estou disposta a abusar da conta da EPAL e fazer este investimento turístico. Vou deixar correr água no bidé e dizer às pessoas que é uma fonte.Quando eu criar a página de Facebook "Fontana di Bidé", vocês façam gosto, ok?
Pensei, antes de ter planeado esta viagem a sério, que não era a melhor altura para concretizar este sonho, por tantas e tão diferentes razões. Mas afinal...haverá alguma altura que seja pouco apropriada para cumprir sonhos?
Não sei onde foi a primeira vez que ouvi falar deste destino segredado e o botei de imediato na minha check list. Muitos conhecem a Riviera Italiana, mas muito mais não a conhecem. As Cinque Terre são um tesouro, um parque natural considerado património mundial pela Unesco e não estão sozinhas para nos encantar - que a região da Ligúria tem outras surpresas para nos deliciar a vista e a alma. E eu queria mesmo saber se aquelas fotos que o Google e outros blogs me mostravam eram só Photoshop ou eram a realidade.
- Vou a Cinque Terre. - Vais onde? - A um sítio paradisíaco na costa oeste italiana, onde não há cadeias de restaurantes, nem de hóteis, onde chegas de comboio ou de barco, onde...deixa-me mostrar-te uma foto em vez de explicar. - UAU.
Manarola, em Cinque Terre (e eu, no meu melhor ângulo). Sem uma ponta de um filtro.
Itália é oficialmente o país estrangeiro onde conheço mais cidades e não me arrependo um minuto ou um cêntimo disso. A primeira viagem foi com duas amigas, um tour inesquecível de dez dias pelas senhoras-cidades mais famosas do país: Milão > Verona > Veneza > Florença > Pisa > Roma. Na segunda (que não quero que seja a última), com o Moço por companhia e ainda o comboio como meio de eleição favorito, passamos pelas Cinque Terre (Riomaggiore, Manarola, Corniglia, Vernazza, Monterrosso), mais duas irmãs menos famosas mas igualmente bonitas (Levanto e Portovenere) e a mais conhecida e rica área de Portofino (com direito a passeio desde Santa Marguerita Ligure e pit stop em Paraggi).
Sei que naquele último dia, na última das Cinque Terre, num último mergulho nas águas límpidas e quentes do mediterrâneo, fiquei muito tempo a olhar para o mar verde primeiro, azulão depois, e ao fundo a serra que se estende em curva com as outras terras. Monterrosso nos pés, Vernazza, Corniglia, Manarola e Riomaggiore na vista. Todas no coração. Fixei o olhar por muito tempo sem querer ir buscar a máquina fotográfica ou o telemóvel. Queria a imagem gravada na memória, mais sólida que a marca de biquini que me ficou no corpo, mais durável que a bateria da máquina, mais resistente que o papel. Quase palpável. Registar a certeza que nunca antes tinha estado num sítio tão belo. À exceção - claro e sempre - do meu país.
E agora, travando o impulso de publicar mais mil fotos e um milhão de palavras sobre este destino...dou o texto por encerrado.