Chegar a Dezembro com as prendinhas todas compradas, invariavelmente. Por mais modestas que sejam (a mais barata conta com 1,45€ de gasto), são pensadas para valer mil dólares cada uma para a pessoa a quem a ofereço. E depois, no último par de semanas que antecede o Natal entristecer-me por ver toda a gente com sacos e saquinhos e morrer de vontade de ir à segunda volta. As pessoas que eu gosto só teriam a ganhar se eu fosse rica. Só vos digo isto.
Luz. Luzes nas cidades. Nas árvores de Natal e nas varandas das casas. Luzes de todas as cores e feitios. A luz que termina dos dias que morrem mais cedo e as que começam devagar, agarradas à cidade, e preenchem toda a paisagem. Luzes nos centros comerciais já de si cheios de iluminação e luzes nas pontas dos chapéus de Natal das 1001 personagens da época que aparecem a puxar os sorrisos das crianças: a maior luz de todas, o sorriso delas. Luz da estrela a quem pedimos um desejo. Não é cadente, não leva ao menino Jesus e em Belém só nascem os pastéis, mas não interessa.
Enquanto houver luz é Natal. Se não for a que é fornecida pela EDP, há-de ser aquela com que enchemos os corações.
Os pequenos pais de Natal de chocolate que enfeitavam a árvore já só com as pratas penduradas (que as mai'novas trataram de os devorar). O cão mascarado de rena. Nós todos com barretes foleiros (durante dois minutos, o que conta é a intenção). O meu tio de barriga ao léu - coisinha de fazer inveja ao próprio Pai Natal. Quatro malucas a gritar "é quase meia-noite, é quase meia-noite" das onze horas para a frente. Teatros encenados por nós à pressa - para ajudar o tempo a passar. Rituais demorados de abertura de prendas e o sorteio da primeira (mesmo que sejam só três). As prendas da minha avó embrulhadas em papel reciclado (leia-se jornais velhos e folhetos do LIDL). Ver o Shrek pela milésima vez.