Amar sem Rede
Isto de se gostar de alguém tem que se lhe diga.
Gostar - entenda-se - de dentro para fora. Daquele tipo de sentimento que deixa de ser importante definir: dizer se é amor ou se é paixão e o que difere entre os dois. Está lá, é inegável e muda-nos para melhor. É só o que precisamos saber.
Alguém - entenda-se - que não nos é nada. Que não é um amigo de há muito tempo, não tem laços de sangue conosco, não nos salvou a vida num incêndio. É mais uma das centenas de pessoas com quem nos vamos cruzando e que de repente ultrapassa tantos nomes na lista de contactos que já lá moravam há uma eternidade.
A partir daí é um exercício complicado. Requer agillidade e prática. Mete medo estar lá em cima na corda, no trapézio: a sensação é inigualável, mas a queda é dura e mete-nos medo.
Mas se nos concentrarmos na queda - se pensarmos que temos de ter ali uma rede para nos aparar, não saboreamos a totalidade dessa elevação de espírito. Não saltamos mais alto ainda. Um dia até deixamos de saltar de todo, só a olhar para o que está em baixo, ou ficamos agarrados ao chão (se não sairmos de lá nunca caímos, não é?).
Quando é amor nós sabemos. E nessa altura vale a pena esquecer seletivamente a distância a que se está do chão.
Amar com trampolim. E sem rede.