Isto é basicamente como as pessoas que dizem que não gostam de gelados porque são frios - coisa que eu nunca entenderei (videpost).
É a verdade, no entanto. Não gosto de emoções, porque me emocionam. E não gosto de estar emocionada ou de nada que se assemelhe suavemente a falta de controlo (como o auto-controlo para segurar meia-lágrima). Fujo dos sentimentalismos como o carteiro dos cães-de-guarda. Nego-os ingenuamente.
É por isso que no Sábado queria saber de uma amiga e o disse em voz alta: Como estará a fulana? E teve de ser o Moço a chamar os bois pelos nomes. Liga-lhe. A isso chamam-se saudades. Claro que neguei, saudades são para os fracos. Nem tenho tempo para isso.
Não é um erro de digitação, é isso mesmo. Abaixo a ditadura da felicidade em frases feitas.
Nunca nos deixam olhar o lado lunar em paz. Quando as coisas correm bem não nos podemos queixar. Quando correm mal há sempre quem esteja pior. Quando o que passamos é mesmo assim a tender para o pior temos de nos contentar na mesma com a ideia de que nos torna mais fortes ou que depois da tempestade vem a bonança e portanto temos de estar felizes por esta magnífica fase de viragem.
Ora porra, em teoria sabemos isso tudo. Mas deixem chorar, deixem entristecer, deixem dar corpo à dor por um bocadinho. Se não tivermos medo dela, se não a reprimirmos, se aceitarmos as coisas más como um facto e não fizermos delas um bicho papão dentro da arca do sotão, se soubermos que não faz mal que nos sintamos mal de vez em quando (mesmo que o nosso problema seja muito relativo ao pé dos meninos em Àfrca a morrer) talvez possamos ver a normalidade da coisa e tornar tudo menos gigante.
O que não nos mata, deixa-nos fartos. E desde que nos fartemos das coisas beras e não de nós, está tudo bem.
Penso sempre nisto: que é mais fácil para quem parte (se é que parte para lado algum). Quem fica vivo é que morre. Um pedaço de cada vez. Uma pessoa de cada vez.
Eu já morri por duas vezes. A primeira tirou-me um pedaço gigante. Levou-me uma parte da infância, um colo, viagens de Verão e parceiro para jogar às damas. Nunca mais fui encher os garrafões de água à fonte. Da segunda vez morri menos, mas morri muito naquele abraço interminável de quem morreu inteiro ao ver a sua alma gémea partir.