Cá por causa das pessoas que estão sempre a fazer surpresas umas às outras.
Não quero ninguém cá em casa sem eu saber. Nem escondidas atrás do sofá para me gritarem parabéns ou "surpresa". Guardo coisas terríveis atrás do sofá.
Não quero ninguém que seja de longe e passe a Lisboa de propósito para me agradar. Posso ter planos, sabem?
Não quero chegar a um restaurante a achar que vou manjar a dois e apanhar lá uma receção de umas dezenas. Às vezes tudo o que uma pessoa precisa é sossego, conversas em voz baixa, nenhum sorriso, com a pessoa com quem quis estar.
Uma vez um rapazinho tentou fazer-me uma surpresa. Foi buscar-me aos Expressos sem eu saber, no meu regresso a Lisboa. Já não me lembro se não se entendeu com as linhas do terminal ou se o meu autocarro chegou antes, mas não o vi nem ele a mim. Sei que me ligou já eu tinha chegado a casa para me contar da (pseudo-)surpresa e que nos tínhamos desencontrado. Mas - surpresa! - estava lá em baixo para me ver. Não o convidei para subir. Fui à entrada do prédio e dispensei-o, dando instruções para não repetir a brincadeira. Para verem o que eu gosto de surpresas.