Tu não sabes o que é a vida
Terá sido a frase que o meu pai mais vezes me repetiu face às minhas investidas de chica-esperta. Falo sempre muito assertiva, como quem conhece os cantos ao mundo - isto para aí desde que aprendi a dizer frases inteiras e o Sr.Zé do café da rotunda me chamou grafonola. É difícil que quem me ouve não ache que eu sei do que estou a falar só pela segurança com que o digo, mas o meu pai nunca se deixou enganar: tu não sabes o que é a vida.
Ocorreu-me no outro dia, que finalmente sei o que ele queria dizer - e, caramba levou-me 28 anos e um período reforçado de trágico-comédias para perceber isto. Levou-me 28 anos para chegar a este estado de alerta geral: em todos os minutos carrego todas as responsabilidades do mundo. E o grande segredo de se ser adulto é ter este estado de consciência que pesa mais do que todos os quilos que tenho no corpo, e ao mesmo tempo seguir com a vida. Ser feliz apesar da mochila das preocupações nos estar colada ao corpo, porque a tiracolo levamos a bolsa de ânimo. Não podemos largar nenhuma.
Não há pausas nem intervalos para encontrar a alegria por entre a confusão. Não há uma hora para sorrir e outra para chorar: todas as horas são de tudo ao mesmo tempo. Otimismo e pessimismo são conceitos que se confundem e deixam de fazer sentido: é a realidade que nos alimenta e nos faz crescer.
Já sei o que é a vida: é não saber nada da vida.