Sou menina para começar a pensar nas prendas de Natal (nas que ofereço, não nas que me oferecem a mim) lá para meados de Abril - talvez esteja a exagerar, mas Setembro sem dúvida.
Depois controlo-me porque não posso logo comprar prendas. É que depois ninguém as pode trocar se não gostarem ou se as mesmas não servirem (ou se entretanto comprarem igual - que com tanta distância assim também é possível). Em Novembro já não me aguento e antes do final do mês está tudo comprado - que é pouco e em conta, não se iludam, mas selecionado com carinho e toda a exatidão que uma menina do marketing pode providenciar lendo o seu público-alvo.
Assim sendo aturem-me. A categoria de Natal vai começar. Partida. Largada. Fugida!
Saiu de casa de saia comprida. Mala ao ombro, pasta do computador a tiracolo, telemóvel numa mão, chaves do carro na outra. Sem conseguir levantar um pouco a saia - que tinha as mãos ocupadas - tropeçou logo no tapete da entrada. Depois entalou o tecido na porta do carro. Prendeu-a nos pedais. Saiu já toda amarrotada.
Desdobrou-se em reuniões pela manhã, com intervalos para maldizer a escolha de roupa. Almoçou uma maçã sentada à secretária (havia lá paciência para andar de um lado para o outro com aquilo vestido?). Ao fim do dia conduziu para o hospital e esperou pela hora da visita sentada no carro, muito quieta. Por causa da saia.
E ao fim de um tempo lá seguiu. A tropeçar na saia, nos degraus, na vida outra vez. Entrou no quarto 303 e foi recebida com aquele sorriso tão familiar, mas já tão apagado. Mais a cada visita, a cada final de cada dia - já fazia um mês.
- Que se passa contigo miúda? - É esta maldita saia, que me atrapalha e me tem arruinado o dia. Não tenho paciência para andar com isto.
A culpa não era da saia. E ela sabia. Era só mais facil pensar assim.