I rest my case
Um dia uma doente disse-me que os filhos só são difíceis nos primeiros quarenta anos da vida deles.
Disse a Joana, no seu Palavras que enchem a barriga.
Agora, deixem-me em paz, quero ser só tia por um bom tempo bocadinho.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Um dia uma doente disse-me que os filhos só são difíceis nos primeiros quarenta anos da vida deles.
Disse a Joana, no seu Palavras que enchem a barriga.
Agora, deixem-me em paz, quero ser só tia por um bom tempo bocadinho.
Pode dar jeito se precisarem mesmo de o/a acordar de supetão por qualquer motivo. Imaginem, vós mulheres, que querem trocar uma lâmpada (querem que ele a troque) e ele nunca mais se levanta. Imaginem vós homens que não sabem do pólo que queriam vestir e se a acordam pela milésima vez para perguntar onde está uma peça de roupa sabem que ela até vai ladrar. Usam as chamadas frases-com-despertador-integrado e depois dizem "e já que estás de pé...". Mas também convém não defraudar (muito) as expetativas...prometido?
A ela:
1. Amor, fiz-te o pequeno almoço. (acompanhar com aroma de pão quente - ou sementes de linhaça quentes ou lá o que comem as outras saudáveis)
2. Tenho uma surpresa para ti na sala. (e desaparecer sem permitir mais perguntas - que a surpresa não sejam vocês em pelota, isso ela podia ver no quarto sem se levantar)
3. Mas o que é que se passa ali na rua? (a olhar à janela, de mãos na anca e ar intrigado - boca aberta opcional, a incitar à veia cusca feminina)
A ele:
1. Vou tomar banho, queres vir? (a deixar cair a primeira peça de roupa)
2. Vou tomar banho, queres vir? (já a ligar a água)
3. Vou tomar banho, queres vir? (só assim)
Não basta a perseguição que nos fazem na passagem de ano, ainda têm de me minar o Dia do Bolinho.
Como contei, na minha terra (e no meu tempo) o 1 de Novembro é o Dia do Bolinho e é com essa premissa que pedimos doces às tias - que aqui não são as queques de Cascais, mas as velhotas simpáticas que sabem amassar bolos. Reza a tradição quer eram bolinhos ou merendeiras que se davam nesse dia, mas felizmente já na minha altura eram mais doces.
Ainda assim, quem sabe fazer bolinhos, fá-los nessa altura: broas de mel, merendeiras de noz, bolinhos de abóbora ou batata...
A minha mãe veio a Lisboa e trouxe-me um saco cheio deles, de várias origens (várias tias).
Problema? As passas. As malditas passas que me transformam num esquilo a desfazer cada bolinho aos bocados para não provar nenhuma. Quem as ache boas, que as coma. A mim estragam-me a experiência desta deliciosa broa de mel a acompanhar o chá da tarde.
Quando fomos passear a Setúbal encontrei no mercado da terra uma preciosidade: caramelos de pinhão El Caserio. Daqueles de partir os dentes e chorar por mais. Comprei uma macheia, muito feliz, e partilhei com os meus companheiros de viagens. O meu avô trazia-mos de Espanha, quando eu era pequena, e vendiam-se em muitos poucos sítios. Hoje em dia tenho ideia que até há no Continente, em embalagens, mas...não é a mesma coisa (é, mas não é).
O meu Moço viu o encanto de menina que eu trazia nos olhos quando os encontrei no mercado de Setúbal. Então roubou um ao colega que trouxe caramelos de Barcelona e trouxe-mo, para alegrar o meu dia. Abençoado. Trouxe-me sabor a caramelo, a pinhão e às viagens do meu avô.
Se são tão famosas as terras com nomes ordinários (como a boa e velha Picha) e se sexo e amor vêm de mãos dadas, salvo seja, porque não partilhamos também as terras com nomes mais ternurentos?
Lá perto da minha terra natal tenho duas jeitosas: os Parceiros e claro...Amor, onde eu ia encher garrafões de água à fonte com o meu avô.
E vocês? Conhecem alguma assim com nome supé-fofinho-sei-lá? Acho que não me ganham...
SOU PARVO
Sou parvo, gosto de escrever ideias pré-concebidas para ter os meus minutos de fama. Os meus avós (produtores de bom vinho, ao contrário dos avós dos lisboetas) poderiam confirmá-lo, apesar de ser eu que tenho os títulos pomposos e um nível de instrução que me permite ser parvus honoris.
Sou parvo e gosto de dizer que os lisboetas têm o L, sem me informar devidamente acerca do que isso é ou onde se usa (ou quando se usou). E também não tenho bem noção se o elétrico anda ou não na segunda circular a empatar o trânsito.
Não cuspo no chão - como os lisboetas - mas cuspo para o ar todas as idiotices que me vêm à cabeça.
Não atiro beatas às janelas - como os lisboetas - mas atiro bocas aos alfacinhas, que é de gente instruída.
Apanho as cagadelas dos canitos - ao contrário dos lisboetas - porque é assim que acumulo tanta merd* para escrever.
Aproveito os sinais vermelhos para escrever crónicas à pressa - só pode.
Sou parvo e, até conheço os meus vizinhos, mas nenhum fala comigo e não consigo perceber porquê - devem ser lisboetas. Dou sempre gorjetas e esmolas. E lições - gosto tanto de dar lições.
Sou parvo e não tenho medo de greves dos transportes - provavelmente estas crónicas pagam-me o combustivel para não ter de depender delas. Não tenho orgulho em ver celebridades, porque me acho uma. Mas não vão passar por mim de qualquer forma, porque vocês estão todos enfiados no Colombo e eu esse chão não piso.
Sou parvo e não entendo que o mal não está em chamar alfacinhas aos lisboetas (que é para o lado que dormem melhor) mas sim no tipo de atitude com que se o faz,
Sou parvo, sou o que quiseres, agora lisboeta é que não sou.
(Eu não sou lisboeta - só emprestada e já vi cuspirem o chão em várias cidades. Este tipinho atiçou-me o nervo, como atiçou despropositadamente mais polémicas regionais. É só ironia? Pois bem, também o meu texto. Assim rimo-nos todos.)
Tens um passarinho frágil na mão. As asas dele sabem voar, mais alto até que os outros, apesar de empedernidas.
Sozinho ele não dará o impulso - já caiu tantas vezes, quando o medo lhe toldou os movimentos.
Tens de o largar e obrigá-lo a seguir caminho. Há Primaveras para encontrar.
E se o soltas desamparado ele voa ou ele cai? Não sabes as probabilidades para esta aposta. Não há ninguém com um placar digital a fazer a contagem decrescente para o momento certo. Sabes da vontade do passarinho e da tua. Da força dele. Também das feridas que ainda tem para lamber. Sabes pouco afinal. Sabes quase nada.
Uma decisão não tomada também muda o curso das coisas. Tic tac.Tic tac.
Fita-cola que pega tanto como as desculpas de maus pagadores. Nada.
...a pesquisar por "que o meu namorado me vai pagar um gelado da ola".
Ó melher, tu guarda-o!
Para já, arranjar quem nos pague qualquer coisa com esta crise, mesmo em fase de engate, é uma descoberta ao nível do Pedro Álvares Cabral a chegar ao Brasil em 1500.
Depois nem é Camy, nem nenhuma marca fajuta, é logo a nossa querida Olá que nunca desilude. Não abuses do rapaz e pede um Super Maxi em vez de um Magnum para ser mais em conta. E não te atrevas com o Calippo, sua ordinária.
Trata-o bem e - ouve o que te digo - um dia destes ainda te paga um Häagen-Dazs.
Sortuda!
Às vezes temos dentro de nós chuvinhas insistentes e serenas ou tempestades com toda a violência dos seus trovões. Ventanias imensas.
Depois olhamos pela janela e esperamos ver algo que condiga com o nosso estado de espírito: céus cinzentos, convites ao recolhimento.
E é especialmente revoltante quando o céu se abre num sorriso soalheiro e nos ilumina a face marcada pela chuva interior.
Especialmente em Novembro.
937 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.