Alguns homens comentaram em reação ao post Mulheres dizendo que também eles são seres múltiplos em funções, sentimentos e estados de espírito. Que nem sempre nós, por entre a nossa complexidade, achamos espaço para reciprocar essa compreensão e atenção que pedimos.
E, que raios, estão corretos! O post não intencionava, de forma nenhuma, armar barricadas de géneros, só falar a uma voz, que era a feminina, por esta vez. Dito isto, gostava muito de publicar um texto semelhante ao Mulheres, mas dedicado a Homens. E para isso gostava de contar com a vossa colaboração, meus rapazes.
Enviem o vosso ponto de vista para daspalavras[at]sapo.pt e eu lerei tudo para compôr (com os devidos créditos) uma defesa da vossa personalidade - sem pressupor que há ataque. E/ou escrevam sobre isso nos vossos blogs, se são donos de um e dexem aqui o link. Vamos adorar ler - atrevendo-me a falar pelas outras mulheres também (só mais esta vez).
Moro à volta dela há uns dez anos: primeiro de um lado, depois do outro. Estive para ir lá cerca de muitas vezes. Nunca fui. Filmes em exibição há 30 anos, imagine-se. No último andar a contar de cima de um centro comercial pequeno, antigo mas cuidado, com lojas de nicho. Muitos filmes europeus, mas também passam os da moda. Poucos de cada vez: duas ou três salas? A bilheteira cá em cima, os filmes lá em baixo.
Íamos a medo: esta sim seria a primeira vez. E se ninguém vai lá e é uma sala descuidada, com lixo, sei lá?...E se o ecrã não tem definição, o som não tem qualidade?...Que se lixe. Já é tarde para adiar outra vez.
A senhora pára a conversa com a menina da banca de revistas e entra na divisória para nos vender um par de bilhetes. Sem nos culpar por lhe interrompermos a sessão de codrilhice. Nós divertidos com aquela bilheteira sem filas, os lojistas à volta continuam a conversar amenamente uns com os outros.
Lá em baixo a porta da sala já está aberta e há ninguém para nos receber o bilhete. Entramos a medo. A sala simples e arrumada tem um perfume fresco. Não é mais pequena que as pequenas dos grande shoppings. Sem lugar marcado. Poucas pessoas espalhadas pelos melhores lugares. A maior parte das pessoas veio só consigo. A senhora da bilheteira espreita para reconhecer sentados todos os que lhe pagaram o ingresso.
E começa o Samba. Sem publicidade. Sem intervalos. Sem barulho de pipocas. Sem luzes de smartphones. E acaba o Samba.
Voltamos a pé, satisfeitos: o caminho desta sala de cinema para nossa casa pode fazer-se a pé e para mim isto é muito da felicidade. Voltaremos tantas vezes quando pudermos, ó Cinema Medeia do Fonte Nova. Sobretudo em noites de Verão, a pé, pela mão um do outro. Provavelmente, eu levarei um gelado que ele me oferece a caminho. Prometo que o devoro antes de entrar na sala, onde é proibido comer. Espera e vais ver.
Ele às vezes, sobretudo de noite quando já estou molinha no sofá e me sinto incapaz de migrar para a cama, pergunta-me assim:queres que te leve ao colo? E eu tremo, mas aceito porque gosto muito dos braços dele.
É que ele pega em mim sem dificuldade, mas leva-me feita trambolha a bater contra todas as ombreiras de porta e esquinas da casa, qual esfera de pinball a cumprir objetivos ao longo do corredor. No fim sou só uma passa com nódoas negras, mas não ligo para a APAV porque sei que ele teve boa intenção.