Não era de todo minha intenção apresentar uma pérola de livro com a palavra "podre" no título, mas é mesmo isto que me apetece dizer. Apetece-me que toda a gente conheça este livro. Apetece-me que toda a gente leia este livro. E o pior é que não posso dizer porquê, sob pena de estragar as surpresas que vos vão fazer viver este livro. É como quando vamos escolher um filme para ver numa lista de vários e só sabemos que são muitos bons aqueles que já vimos. Portanto vão ter de confiar em mim, dá para ser? Leiam este Chama-lhe Amor.
a) Ah e tal, não tenho tempo para ler. O livro é curtíssimo e lê-se como quem come uma bola de berlim açucarada na praia. Num instante - e ficamos a salivar por mais.
b) Ah e tal, nem gosto de ler. Lê isto primeiro e volta aqui depois.
c) Ah e tal, não gosto de surpresas.
Então lê pela escrita sublime. Pelas metáforas. Porque eu disse.
d) Ah e tal, eu cato logo os enredos e para mim não vai ser surpresa.
Isso era o que eu achava quando para aí na página 10 adivinhei o que se ia passar na página 37. Achei-me tão espertinha e visionária. E depois caí de boca.
e) Ah e tal, romances não fazem o meu género. E quem te disse que isto era um romance? Ou que era só um romance. Foi o título que achas que o denunciou? Ó melher/home faz-te à vida, compra o livro que ainda por cima está com preço jeitoso e depois vem cá dizer-me de é um romance.
Sei que acabei de ler e fiz tal cara que o Moço me perguntou se eu ia chorar (eu nunca choro. a sério, experimentem pisar-me um mindinho do pé com força). Não era vontade de chorar, era surpresa e realização. Percebi o título. Percebi a Maria. A tal "tão banal que não passa de uma tipa comum que no Sábado foi calçar umas meias."
PS.: Este não é um post patrocinado - nem achei que o fosse escrever antes de começar a ler, embora a autora esteja à vontade (e é mesmo à vontadinha) para me compensar gordamente com notas de 500€ ou waffers com gelado. Uma coisa ou outra.
Depois de lermos os dois - eu e o Moço - o livro Misery, de Stephen King, quisemos ver o filme. O primeiro desafio foi chegar ao título Louca Obsessão - Misery é um nome próprio e não deveria ter sido traduzido, mas enfim.
Sei de antemão que os filmes desiludem quem lê os livros, que a intensidade de um e de outro é incomparável. Mas gosto precisamente de perceber as diferenças, saber como uma história pensada para ser lida foi transformada em algo mais comercial, que prendesse o espetador. Ver de que outra forma foram imaginados os cenários e personagens que o livro me pintou na cabeça. Por princípio, o filme também não era, de facto, tão bom como o livro. Além de ser de 1990 e não ter já a qualidade a que estamos habituados no século XXI para vários efeitos, o filme é menos sofredor e violento. Menos 100 graus de intensidade. No entanto um pormenor mudou tudo. Um detalhe alterado muda tudo para mim, sobretudo o realismo da trama, e fez com que nem possa dizer que a história seja a mesma. O filme revelou-se melhor que o livro.
No livro, a Annie bebia Pepsi. No filme, Coca-Cola.
Cada vez mais me convenço que é quem menos tem que mais dá. Pois claro que há mlionários que entregam cheques chorudos para nobres causas, e não digo que tenham pouco valor (têm muito, pois a obrigação de o fazerem era nenhuma). Mas esse cheque não faz a mossa dos três euros que aquele casal com dois filhos dispensou agora para deixar um saco cheio de mercearias ao Banco Alimentar. Quem sente a falta e conta os tostões, quem vive todos os dias no limiar e já pensou que pode estar a menos de cinco passos do lado de lá, de quem tem fome em vez de telha, quem vive com pouco e sabe que nunca terá muito. Será até uma forma de egoísmo positivo - vêem-se naquele lugar onde também desejariam ser ajudados. São esses os que mais dão de si aos outros. Os que mais levemente partilham o pão na sua mesa. Alma cheia, mão vazia.
Estou para lá de chateada. Saiu no blog A Mãe é que Sabe o artigo sobre os pais que eu já estive a isto (juntar o polegar do indicador) de escrever sobre os homens-companheiros no geral.
Um homem não deve ajudar a mulher em casa: nem na lida do dia-a-dia, nem com os filhos. Porque o verbo "ajudar" pressupõe que a obrigação está de um só lado. Não deve sequer fazer tudo o que a mulher pede (pôr a roupa a lavar, fazer a carne que ela pôs a descongelar) dever ser parte igual na organização e tomada de decisões, como na execução. Às tantas um orienta melhor a comida, outro a roupa, outro leva sempre o lixo (ele, ele!), outro faz as camas...mas ninguém ajuda ninguém: os dois fazem pela sua família, pelo seu lar.
Vá, vão lá ler, mas sob protesto. Que quem queria ter escrito isto primeiro era eu!
andamos todos muito mais descansados. Parece que os humanos estão a abandonar o planeta. O Felismino, que lê muito, diz que andam a fugir para um planeta longíquo chamado Albufeira, por causa do clima.
Além disso estão a dedicar-se à morte de espécies maiores. Ouvimos um caso de um leão chamado Cecílio que era até do jet set dos leões e foi caçado pelos humanos. A mãe diz que normalmente estes animais com tiques de estrela morrem mais por causa das drogas (é um mundo muito feio, o da fama) e não acredita na história da caçada. Diz que foi overdose. O meu pai acha que sim, foi overdose de chumbo.
Uma ranhoca,
Martim
2 de Agosto de 2015
Querido Diário,
Está tudo em êxtase na comunidade dos caracóis! A crise acabou. O planeta está oficialmente deserto de humanos.
Uma ranhoca,
Martim
3 de Agosto de 2015
Querido Diário,
Falso alarme. Afinal estavam todos no casamento do Jorge Mendes, mas já voltaram.
Uma ranhoca,
Martim
[Todas as entradas do Diário do Martim Caracol, aqui.]
Lá diz o ditado (que acabei de inventar) que os precoces vão em Junho, os poupados vão em Julho, os populares vão em Agosto e os sábios vão em Setembro. Sábios porque os últimos a rir, riem melhor. E se é verdade que vão sofrendo enquanto vêem todos os colegas e amigos progressivamente virar de cor de lula a dourado invejável, têm sempre a tal semana em mente. Os outros vão ter de saber lidar precocemente com o fim das férias.
Felizmente estou cá para ajudar. Jovem, se regressaste de férias e te apetece mais enfiar a cabeça na máquina de lavar roupa em modo de centrifugação do que voltar à rotina, este texto é para ti. Segue os seguintes passos e faz uma transição mais suave:
Vai buscar areia à praia mais próxima (ou compra daquela dos gatos no Continente) e espalha à tua volta, no sítio onde passas mais tempo. Se é em casa e ainda moras com a tua mãe, explica que é para efeitos terapêuticos e depois ela terá oportunidade de aspirar. Se é no trabalho, diz ao chefe que no dia seguinte pode trazer a pazinha e brincar contigo. Aposto que lhe vai apetecer trazer a pá.
Arranja daquelas lâmpadas que usam para fazer crescer os pintaínhos e emitem uma luz muito forte e liga uma ou mais junto de ti. Tornas assim obrigatório o uso de protetor solar e óculos de sol. Vais suar que nem um porco...mas um porco em modo pseudo-férias.
Continua a vestir roupa de banho, adicionando progressivamente camadas. De forma que no primeiro dia estás só de calções (ou biquíni), no terceiro já envergas uma camisa de padrão floral e no sétimo já tens o fato completo com havaianas.
Arranja gravações que repitam os sons que se tornam familiares em ambiente de férias e põe a tocar ao longo do dia. Por exemplo, se passas férias no Algarve, colocas no background pessoas a falar Inglês. Se passas férias em Itália, colocas em background pessoas a falar brasileiro. Se foi uma semana a passear em Évora, uma gravação em loop com porreiro pá! de voz anasalada. E por aí adiante.
Reserva uma hora por dia em que possas estar sozinho, fecha-te na despensa e chora baixinho repetindo "para o ano há mais, para o ano há mais", libertando assim as energias negativas todas de forma concentrada. Se conseguires, chora para dentro do frasco onde guardas o arroz e já fica temperado.
Podia pedir desculpa pela dose de parvoíce desmedida neste post, mas como compreenderão, também estou a tentar sobreviver à TPF (Tensão Pós-Férias). Agora se me permitem, vou ali à despensa.