Este blog não é sobre livros #3: O Navegador Solitário
Não sei exatamente dizer se recomendo ou não este livro, mais um que não escolhi, que me chegou pela iniciativa do Livro Secreto. Sei que a determinado momento quis largá-lo e fico feliz que não o tenha feito. Eu explico. Para mim, o livro divide-se em três partes, (1) o início em jeito de comédia que é o diário de um adolescente trapalhão que dá erros crassos no português como "piçarvativo" mas a quem o avô lá do além obriga a que ganhe a rotina de escrever, (2) a altura em que nos acomodamos à escrita já sem erros, o que retira parte da graça à leitura à medida que o protagonista passa a ser um jovem adulto e (3) o final em que a escrita é sublime e percebemos sem sombra de dúvida porque este livro foi aconselhado e posto a rodar.
O melhor não é a estória, é mesmo esta evolução na escrita. Do torpe para o tão bom. Brilhante exercício de João Aguiar.
E a lição, essa que não se deve perder. A que nos conta que o conceito de boa pessoa não tem fronteiras tão bem delineadas como às vezes nos fazemos crer. E que quase toda a gente se considera boa pessoa. Mesmo a professora que se envolve com o aluno. Mesmo o dono do clube que pede favores - pequenas ilegalidades - à troca. Mesmo o respeitável pai de família com segredos de breu. Todos, inclusivamente o protagonista, conseguem justificar as suas ações. Continuam a achar-se boas pessoas, na sua essência. Mas pode alguém que vende o corpo ser boa pessoa? E quem paga? E se for menor? Faz pensar.
Responde-me tu que me lês...és boa pessoa?