Temos mesmo muita sorte que quando vamos ao cinema não obriguem o Moço a pagar dois bilhetes. É que ele vê sempre dois filmes: o do ecrã e o da vida de toda a gente à nossa volta. Enquanto me passa tudo (literalmente) ao lado ele sabe perfeitamente quem se chateou com quem por estar na cadeira errada, quem comeu pipocas ou as deixou cair, quem estava incomodado por ter uma cabeça no caminho do ecrã- eu só sei se for eu - e a afluência de figuras públicas por metro quadrado.
Os famosos vão morrendo. Têm aquela particularidade chata de continuarem a ser humanos e, portanto, ainda que para nossa incoveniência, são perecíveis e em última instância - às vezes com umas ajudas químicas, outras vezes nem por isso - exalam o último suspiro. E eu nem julgo quem mina as redes sociais de RIP, cenas do ator, músicas do cantor e outros que tais. Certo que há sempre uns que mal conheciam a obra e são carpideiras-surfistas (entram na onda). Seja.
O que me dá torvelinhos no peito, então? Que se diga que está a ser um ano terrível (e ouvi e li tantos desabafos assim desde ontem, com mais uma morte de uma estrela). Um ano terrivel seria que houvesse tal sequência de mortes das que nos doem - ou uma só - e não das que nos chocam. Das que me fazem dizer que quem morre é quem fica vivo, porque quem parte leva consigo para a cova, para o mar onde se espalham as cinzas, para o céu, para o purgatório, para o inferno (cada um acredita no que quiser) um pedaço irrecuperável de nós.
As mortes dos artistas, atletas, figuras públicas, imortais na sua obra, mesmo que todos de enfiada e um por semana, só fazem com que seja um ano terrível, um de cada vez (sem reparar na sequência), para aqueles a quem essa morte dói de facto. E esses não somos nós. Nós abrimos a boca em espanto, sentimos talvez um espasmo de tristeza e a nostalgia abate-se. Mas continuamos inteiros.
Tenho uma péssima notícia para vos dar. Daquele tipo de coisas que muda a vida a uma pessoa e nos obriga a repensar todo o nosso futuro e pensar se o passado não terá sido apenas uma ilusão. Sentem-se, respirem fundo, tenham um contacto de emergência à mão para o caso de se sentirem mal. É isto: os camembert bites da Pans foram descontinuados.
Pronto, o homem chateou-se e agiu mal. Certo. Mas chamar-lhe "crime" acho abuso. "Crime" era ele matar a mulher e ainda deixar as despesas do funeral pendentes. Agora tratar logo de tudo, fazer o enterro, e poupar a dinheirama que se ia gastar com a Servilusa? Está ali na fronteira do serviço público, digo eu.
Se não leram as quatro partes que antecederam esta crónica nº5 cliquem aqui para verem todas de enfiada. Caso tenham lido...prossigam. E se já estão fartos disto não temam, porque já é mesmo o último post sobre o assunto.
Estava a contar-vos que comemos no El Brillante, a propósito de uma recomendação que eu tinha lido online. Como estávamos com muito tempo livre e já sabíamos que o museu que mais gostaríamos de ver era o Museu Rainha Sofia (com obras de Picasso, Miró, Dali) fomo-nos pôr na fila para o museu, que era mesma nas traseiras do tasco onde tínhamos acabado de manjar. Mas a pêga da fila não andava. Aproximei-me da entrada para ver e percebi: faltam cinco minutos para a uma e meia. E o que acontece à uma e meia de Domingo? A entrada é livre! Já tinha lido que as entradas eram livres ao fim do dia no Prado, mas nada sobre o Rainha Sofia. E é nesta alturas que quase acredito que há um ser superior a olhar por nós.
Foi muito porreiro porque fomos logo ver a Guernica do Picasso (enorme!) e os outros autores e exposições que nos interessavam sem termos o peso na consciência de ter pago um bilhete sem explorar todo o museu! Não tirámos muitas fotos, mas eram permitidas, desde que sem flash e excluindo a mais famosa.
Facto nº1: Uma das coisas que mandei vir do Continente Online e chegou ontem foi uma caixa de minis. Eu não bebo alcóol e o Moço pouco bebe, mas gostamos de ter por cá os amigos e já há algum tempo que não repunha o stock, pelo que aproveitei que alguém me vinha carregar as compras cá para casa para o fazer.
Facto nº2: Vou passar o fim-de-semana à terrinha, para preparar e estar num chá de bebe. O Moço fica por cá.
Conclusão do Moço ao ver as minis: Que amor! Já estás a preparar tudo para a festa que vou dar no fim-de-semana?
*Raciocínio falso ou pensamento ilógico. Um erro de raciocínio, mas não um ato de má fé, não devendo portanto ser confundido com um sofisma.
Está em maiúsculas porque foi uma constatação que fiz entre gritinhos histéricos. Recebi hoje compras que mandei vir do Continente Online - aproveito sempre as promoções para pagar menos portes e como não há elevador cá para casa o Moço agradece não ter de acartar sempre as compras. De quando em vez, o Continente lembra-se e manda umas ofertas à malta. Normalmente umas amostras de champô, saquetas de café, mas também já calhou ser uma tablete de chocolate.
E o que me manda o Belmiro hoje??
De certeza andou a ler os posts sobre a minha luta para beber mais água ou ficou preocupado com a minha mais recente estratégia que podia dar cabo da minha linha da cintura.
Mas tio Belmiro, agora para si diretamente: reparei que era Luso Júnior e vinha com um folhetinho todo fofo sobre crianças e teorias de aleitamento e o camandro. Lá porque agora é meu amigo , ou leitor do blog ou lá o que é, não quer dizer que me possa pressionar ou dar dicas, ok? Entretanto o que eu ando mesmo a precisar é um Wok novo, daqueles com tampa. Não digo isto por nada de especial. Lembrei-me agora e escrevi.
Não quero ninguém cá em casa sem eu saber. Nem escondidas atrás do sofá para me gritarem parabéns ou "surpresa". Guardo coisas terríveis atrás do sofá.
Não quero ninguém que seja de longe e passe a Lisboa de propósito para me agradar. Posso ter planos, sabem?
Não quero chegar a um restaurante a achar que vou manjar a dois e apanhar lá uma receção de umas dezenas. Às vezes tudo o que uma pessoa precisa é sossego, conversas em voz baixa, nenhum sorriso, com a pessoa com quem quis estar.
Uma vez um rapazinho tentou fazer-me uma surpresa. Foi buscar-me aos Expressos sem eu saber, no meu regresso a Lisboa. Já não me lembro se não se entendeu com as linhas do terminal ou se o meu autocarro chegou antes, mas não o vi nem ele a mim. Sei que me ligou já eu tinha chegado a casa para me contar da (pseudo-)surpresa e que nos tínhamos desencontrado. Mas - surpresa! - estava lá em baixo para me ver. Não o convidei para subir. Fui à entrada do prédio e dispensei-o, dando instruções para não repetir a brincadeira. Para verem o que eu gosto de surpresas.
Estão a ver o típico homem das obras, com o lápis atrás da orelha, que se baixa e fica com o traseiro descoberto? Veio hoje um assim cá a casa ver de um problema. O toque de telemóvel dele é a música She, do Elvis Costello.