Durante a maior parte do dia a gula não me faz confusão. Nem penso nisso. Uma pessoa está ocupada e se às vezes no meio das tarefas me esqueço do frio, do calor, de beber água ou que estou aflitinha para usar o WC também me posso esquecer que quero alguma porcaria. Mas ali à noite que sempre foi ara mim a hora oficial do "apetece-me alguma coisa, mas não sei bem o quê"...o "o quê" nunca tinha sido um iogurte.
Da fama já não me livro. Gosto de teatro infantil. Também gosto do que é exclusivamente para adultos, claro, mas cada vez mais chego à conclusão que uma peça infantil tem probabilidade zero de me desiludir. É o que tenho dito a amigos meus e quando caem numa das peças que recomendo, tendem a concordar. Já sabem que sou presença assídua das da Byfurcação (para todas as idades), mas foi meio a medo que recebi o convite para ir ver os Improvio Armandi na peça Histórias de Papelão | Edição Super Heróis. Em princípio é universal: as peças infantis divertem, mas não conhecia o trabalho destes jovens.
A peça puxa pelos pequenos (pela sua intervenção e pela sua imaginação). E são eles que dão o toque de partida ao que a história vai ser (é sempre diferente). Ao início tudo o que sabemos é que temos três marmanjos, um cenário e mil acessórios feitos em papelão e toda a gente na expectativa.
Havia um dragão voador perigosíssimo em palco, como é visível.
A primeira gargalhada é logo quando um dos atores está a explicar como funciona a peça e como vão pedir a participação do público e diz "quando eu contar até três dizem uma cor". E efetivamente ouve-se um rapazito gritar quando ele chega ao três "uma cooor".
O vilão e a doce Júlia (a de barba, como está bom de se ver).
Ri-me muito. Eles sabem improvisar, pegar nas coisas a que o público reage melhor e são muito engraçados (e só o público adulto percebe determinados detalhes). A forma como se apoiam na imaginação é muito divertida e muito estimulante para a pequenada - quem sabe assim aprendem a brincar mais ao faz de conta e menos com a consola? Eu fui criança no público e eles foram crianças em palco. Levem as vossas também (interiores ou de facto os seres com idades de um dígito). Prometo que não se arrependem - depois podem cá vir pedir-me contas se se desiludirem (é o que vos digo: as peças infantis nunca falham).
O nosso herói em plena sessão de treino.
Histórias de Papelão | Edição Super-Heróis | Improvium Armandi Teatro Turim - 6 a 29 de Janeiro Sábados às 16h e Domingos às 11h
Já tinha ouvido falar tão bem do filme por essa blogosfera fora que, depois dos Globos e já em ressaca de cinema, peguei no Moço (foi mais ao contrário) e fomos ver o tal Manchester by the Sea. E é exatamente como o descreviam: um filme poderoso, emocional, trágico, pesado, mas também com toques de humor negro e diálogos brilhantes que tornam aquilo que podia ser um dramalhão num filme sobre algo positivo: sobre como - aconteça o que acontecer - temos de levantar a cabeça e continuar.
Não chorei porque sou uma pedra, mas o filme termina e tenho aquela sensação no peito que talvez só faltasse mais uma palavra para isso. E no meio do silêncio comovente da sala, o Moço diz: