O impensável aconteceu. Mais uma coisa impensável, aliás. Porque eu recusar uma goma de morango da Haribo não era já o suficiente. Agora foi isto: inspirei alguém a alimentar-se melhor. A vizinha do bairro verde, Caracol de batismo (na blogosfera), vai fazer um desafio de 30 Dias sem Porcarias. Já começou no dia 1 de Março e vamos ver como corre ao longo do mês. Acompanhem, como eu farei. Estarei num misto entre torcer por ela e torcer para que ela falhe - só naquela de eu ser a campeã. [brincadeirinha]
Nunca. Nunca. NUNCA. Nunca pensei que ia passar 63 dias da minha vida sem comer um gelado. Que ia chegar a 5 de Março do ano da graça de 2017 sem ter provado sequer uma colherita da minha gulodice favorita.
A dieta limita-nos de maneiras que nem percebemos. Nem sequer foi por preguiça que me coibi de convidar a minha colega para dar uma volta no Porto (já tinhamos falado nessa hipótese) na terça de Carnaval. Também foi porque ela ia de certeza querer jantar ou lanchar num sítio com delícias proibidas no meu desafio e eu não queria ter de estar a recusar outra vez...
[Isso e não tenho tido muito tempo nem para me coçar, de formas que estou a juntar uma fila jeitosa de pessoas com quem tenho de combinar coisas no Porto e arredores]
Ao sexagésimo dia apercebo-me que sou muito melhor a resistir a comida do que a matemática. Duas coisas em que estava convencida que era igualmente má. É suposto o desafio terminar na véspera da minha viagem, onde não posso (nem quero) coibir-me de comer o que bem entender. Ora a viagem começa no dia 8...O dia 66. Portanto eis a morte anunciada: no dia 66 já vou comer porcarias.
No Domingo passado quase perdia o comboio. Estivemos a encaixotar a casa toda em Lisboa e eu não tinha comido, mas ia fazer a viagem para Espinho bem em cima da hora de jantar. À volta da estação não há nada que se pareça com saúde (e se eu olhei languidamente para os hot dogs). O Moço que não gosta que eu seja nazi comigo mesma a custo de me prejudicar queria que eu comesse qualquer porcaria desde que não passasse fome. Fui firme. Com poucos minutos de sobra corri para o Celeiro no Vasco da Gama e escolhi uns quantos snacks: umas amêndoas, umas tostinhas de aveia, uma barra de granola (?), um sumo natural de ananás. Sei que fiquei saciada. Também sei que o rapaz sentado ao lado me rotulou, porque notei na sua expressão (olhando de esguelha) à medida que sacava dos meus lanchinhos. A maluca das sementes.
No Domingo à noite acabámos de fechar em caixas todas as coisas da nossa vida e saímos da casa dos últimos anos. Eu vim para Espinho, para a morada provisória. Ele ficou em Lisboa, mas já se mudou lá também para a morada provisória, para onde ia nesse dia logo depois de ver o jogo do Porto.
Quando cheguei disse-lhe: já estou em casa. Ele respondeu: eu também.
Mas sabem o mais engraçado? Nenhum de nós estava. Nenhum de nós está.