Por entre as mudanças encontrei uma moeda guardada há anos, de um euro. Uma moeda que tinha um selo do Museu do Sexo, trocada em Amsterdão. E pronto, soa mal, porque a moeda do museu do sexo me faz lembrar as amigas com quem fiz a viagem. Mas não sejam ordinários, é mesmo isso, da forma mais inocente e verdadeira possível. Na altura, sem saber onde arrumar a moeda pu-la...na carteira.
No outro dia quis comprar um selo na máquina dos CTT. Mas não havia meio de a máquina me aceitar as moedas. Experimentei pelo menos três vezes dinheiro trocado e as moedas caíam sempre. Assumi que a máquina estava a funcionar mal e preparei-me para desistir. Antes disso fiz só mais uma tentativa com uma moeda de um euro, em vez de dinheiro trocado. Assim que deixei o tostão escorregar apercebi-me: era a moeda de Amsterdão!
Mas não faz mal, certo? Porque a máquina não estava a funcionar? Pois, pois.
Já tinha ouvido falar do Louis C.K., comediante, pela voz de muita gente. No outro dia caí no erro de ver um pouco de um show dele na Netflix. Foi mesmo um baita erro. Comecei por torcer o nariz nos primeiros minutos e agora tenho devorado tudo dele no Netfllix e no Youtube. O homem não tem limites no humor (coisa que eu adoro), mas para além disso tem muitos episódios reais (exagerados, não duvido) para contar e muitos raciocínios refrescantes. Por exemplo, este do título: só é permitido bater nos filhos.
Não se pode bater na mulher ou num colega de trabalho ou a um estranho na rua, adultos formados (até aqui nada contra). Constitui um crime. Mas podemos bater num ser indefeso, desproporcionalmente pequeno em relação a nós, que ainda não compreende totalmente o que motiva a agressão. E esta, hein?
[Este post encontra-se livre de julgamentos, é só para nos fazer pensar.]
Eu cheguei adiantada à estação e ela já lá estava, para um comboio no sentido contrário que já estava atrasado (muito). E o comboio que não passava. E ela ao telefone com a mãe, a jurar que era o comboio, não ela, quem estava a faltar à hora marcada. E a mãe a não acreditar. E ela de voz embargada, a perguntar à mãe porque não confiava nela.
E eu a pensar como eu ou a miha mãe (ou as duas) somos muito sortudas. Nunca ela duvidaria se eu dissesse que o comboio se atrasou. E nunca precisou de duvidar.
Não esperava confesso. Se tivesse de apostar diria que seria o gelado (louca dos waffles com gelado aqui). Todas as porcarias que fui voltando a provar me souberam bem. Mas provei-as como quem se deleita com algo que ainda ontem tinha comido e é familiarmente bom. Provei-as como um regresso a casa depois do trabalho. Agora esta menina? Esta menina nos lábios - a Coca-Cola - foi como regressar a casa depois de sete anos na Sibéria. Foi um "como consegui viver sem isto?!". E note-se que não bebo muitas vezes - uma por semana, vá (até porque não bebo sempre que me apetece). Só que - caramba - tão bom. Como é que alguma vez me vou habituar a gostar de água, quando esta substância corrosiva, pouco saudável, cheia de gás e açúcar e cafeína, mas deliciosa existe? Ai...
Aos 18 anos emancipei-me (uma expressão totalmente enganadora, porque continuei a ser dependente dos meus pais, mas à distância). Desde essa altura fiz dezenas de viagens - durante muitos anos, semanalmente. Aos poucos, Lisboa passou a ser casa. Não era o sítio para onde eu ia, era o sítio para onde regressava. Ia passar o fim-de-semana a Leiria, que passou a ser a terrinha.
Agora, mais uma vez, viajo a cada sexta que chega. Ao Domingo regresso. E é-me absolutamente estranho que o regresso não seja para Lisboa. Esse, é "só" o sítio onde vou passar o fim-de-semana.
Qual é? Aquela típica de plástico das esplanadas que abana com o peso? A do dentista? Uma cadeira de tortura medieval com espinhos de ferro ao nível do traseiro? Nop. Tentem de novo: é a cadeira do salão de cabeleireiro, onde nos lavam o cabelo.
Ora este fim-de-semana decidi que ia ao cabeleireiro - um novo, já que ando deslocada de tudo o que conhecia. Ora chega-se a parte de lavar a cabeça e uma pessoa fica logo com os nervos do pescoço a titilar. Sabemos que vai doer, mas normalmente passa rápido e é amenizado por massagens no couro cabeludo.
Qual foi o problema desta vez que me faz trazer o assunto da cadeira à baila? Eu explico. Vocês sabem os condicionadores de cabelo? Que servem para hidratar as pontas? É suposto ter aquilo no cabelo 2-3 minutos antes de enxaguar. Ora quem tem 2-3 minutos no banho para aguardar? Ninguém! Além disso, eu, no banho estou SEMPRE a enxaguar. Mas um enxaguamento integral, senão ganho frio. Portanto o cabelinho estava essencialmente desidratado e a cabelereira decidiu pôr-me a fazer uma cura com toalhas quentes (não sei, não perguntem). Só sei que ela diz "pronto, fica aqui então um bocadinho a relaxar, que está deitada e tudo".
A relaxar? Naquela cadeira do inferno? Sabia que era castigo por não hidratar o cabelo, mascarado sob forma de tratamento. Enfim. Pensei que não podia ser muito mau, afinal têm de liberar a cadeira para outras clientes, que é Sábado e a fila tem de andar. Só que não estavam com pressa nenhuma. Vem ela e...humedece a toalha outra vez e diz que fica mais um bocadinho. É neste momento que me torno religiosa e começo a rezar pelo fim da minha provação.
Ao fim de um tempo a pessoa deixa de sentir o tronco e as coisas melhoram.Ok, pensei, sou só uma cabeça. E como me vão pentear, talvez até dê um busto bonito e me deixem ficar a adornar o parque. Ela aproxima-se e eu adivinho o fim do sacrifício. Vai que me troca a toalha outra vez, a safadona! E não contente com isso, começa desta vez a pressionar-me a cabeça com as mãos. O que é fantástico quando estamos numa cadeira com uma divisória ao nível do pescoço, que parece efetivamente capaz de nos deixar deixar tetraplégicos. Entreguei a alma ao criador (já que desde há uns minutos atrás tinha-me tornado devota) e aguardei para ver São Pedro.
E parou. Finalmente parou. Creio que mesmo, mesmo antes de eu ver o portão dourado.
Já foi há uns dias e só agora sei que no fim até saí com o cabelo bonito - na altura tinha o sangue a voltar à cabeça e, portanto, a vista muito turva.
Se eu sou uma exagerada? Pode ser que sim. No entanto, se a primeira alminha me explicar porque é que aquelas cadeiras têm almofadas duras (quando têm) que nem cornos de bode velho, eu nunca mais falo deste assunto. Está prometido...Não está não...
É libertador confessá-lo, porque sinto que é uma coisa muito mal vista na sociedade. Mas ao ver um mundo cada vez mais ciente da igualdade de direitos quanto ao género, a raça, a preferência sexual e outras que tais (clubística ainda não) sinto que devo poder dizê-lo sem ser vista como leprosa auditiva.
Não me entendam mal, sou grande apreciadora de jazz & blues e sinto que há momentos na vida onde quase todos os géneros musicais são adequados. E sim, há músicas que me tocam (especialmente de gente morta) e me despertam recordações e me causam um "ah". Mas no dia-a-dia não sinto falta dela, como muita gente. Não a uso de fundo para trabalhar, nem de companhia quando estou sozinha. Nas viagens prefiro um livro e não preciso de auriculares nos ouvidos para esquecer o resto do mundo (isso e tenho pavor de falarem para mim ou acontecer qualquer coisa e eu estar sem a audição ativa). Não conheço o que anda a ser ouvido e nunca ouço rádio. Aliás, o carro é mesmo o único sítio onde gosto de ouvir música (porque não posso mesmo fazer mais nada), mas quero ouvir a mesma de sempre e cantá-la se o ouvido alheio não for muito sensível. Não sei nada do que está na berra, nem de bandas, nem de nada. Se fosse ao Quem quer ser milionários perdia a dizer que DAMA era um tipo de alfinete (sim, sim, sei que é "de ama"). E sempre que o Moço me pergunta "sabes que banda é esta?" respondo Beatles. É raro mas acerto, como os relógios parados que ainda assim estão certos duas vezes por dia.
Gosto de música mas não me alimento dela. Espero que possam continuar a tolerar-me depois de saberem desta terrível verdade. Deixo para outro dia a revelação: não tenho aquela cena de querer ver o mar.
Sabia que ia atrasar-se na chegada, porque uma parte do percurso era assegurada por autocarro. Mas não sabia que ainda antes da transferência ia esperar uma hora sentada no comboio e depois mais meia ao frio, sem autocarros à vista. Sabia que não chegaria às dez, mas não sabia que chegaria já no dia seguinte. Sabia que sairia no Alfa, sem imaginar que chegava num Intercidades.
Tudo isso foi cansativo e frustrante. E mesmo assim, com a mala a rebolar na calçada da cidade à uma e meia da noite, depois de chegar finalmente à minha estação, não era de mim que tinha pena. Não era daqueles que estavam a viajar aos poucos, como eu, sem saber a que horas chegavam ao seu destino. Mas daqueles que estavam parados, a receber e responder a centenas de pessoas ao longo do dia, sem respostas melhores que as verdadeiras (só temos estes autocarros, já não há Alfas, não sabemos qual será o atraso).
Bem sei, se a culpa não é dos colaboradores, pois certamente que também não será dos utentes. Mas será o sítio e a forma certa de reclamar esta que inclui antagonizar as poucas pessoas destacadas longas horas para ajudar a orientar uma situação de improviso?
Não correu bem, não. Hoje pedi o reembolso do meu bilhete e aguardo uma resposta positiva, pela falta de um serviço alternativo decente. Ontem, limitei-me a seguir as instruções, tentando facilitar a chegada a casa.