Clips de vídeo que consistem em pessoas a sorrir para a câmara com bigodinhos e orelhas de gato (ou cão), enquanto balouçam a cabeça para a esquerda e para a direita. Vamos falar sobre isto?
Eu sei que falo porque sou uma invejosa: não tenho o tipo de beleza que me permite ostentar bigode. Isso está reservado para as mais fortes: aquelas que até a fazer caretas são bonitas. Agora, em podendo, em sendo dessas que ficasse sexy com orelhas a despontar do cabelo, ou estrelinhas a cintilar nas bochechas, ou (literalmente já vi isto) um chifrinho de unicórnio colorido a enfeitar-me a testa, continuo sem ver o propósito.
Parece a regressão evolução da selfie. "Agora estou farta de ser bonitinha numa foto vou ser bonita e balouçar ligeiramente o tronco e o pescoço enquanto pespego troços de cartoon em cima de mim."
Não consigo deixar de imaginar a conversa entre quem se lembrou disto e quem aprovou a ideia, possivelmente o pessoal do Snapshat, agora migrado para o Instagram Stories:
Inventor: Então chefe, agora a ideia era máscaras flutuantes para as pessoas parecerem gatinhos ou outros animais. Com olhos gigantes! Ou terem tipo setinhas de cupido a atingir-lhes a cara e corações a sair da boca em jeito de arroto…
Chefe: Humm…isso é só parvo. Que mais tens?
Inventor: Há aquela ideia antiga de as pessoas terem de resolver um problema matemático para verem cada post, para incentivar o raciocínio...
Chefe: Ó Costa*, isso não nos convém. Que mais?
Inventor: Temos a hipótese de integrar aquela funcionalidade que mostra como fica o mesmo prato de comida publicado ao fim de três meses para combater o excesso de publicações do género alimentício. Ou um filtro para vegans que sobrepõe alternativas vegetais às imagens de postas mirandesas**. Ou podemos repetir a ação de curar uma doença nefasta por cada like.
Chefe: Diz lá qual era a primeira outra vez?...
Inventor: Cenas na cara…
Chefe: Epá, parece-me brilhante. Põe isso. Pelo menos as crianças vão gostar. E se não pegar dizemos que foi uma daquelas ações de charme em que a empresa põe os filhos dos funcionários a ter ideias. A imprensa vai adorar. A NiT já partilhou e tudo.
Inventor: Ok, chefe. Mais alguma coisa?
Chefe: Olhos gigantes. Faz isso aumentar os olhos das pessoas. A minha mulher tem os olhos encafuadinhos na cara, pequeninos e malinos e faz-me espécie. Cada vez que olho para as pessoas de olhos pequenos parece que a oiço refilar comigo. Tratas disso?
E está relacionada com um casamento que tenho em breve.
Mas não é bem o que pensam. É que dava um braço (ou uma assinatura numa certidão de casamento) para não ser outra vez torturada pelo momento de atirar o bouquet da noiva às solteiras.
Enquanto a medida de sucesso de uma despedida de solteira for o grau de bebedeira e a medida de sucesso de uma cerimónia de casamento for a quantidade de lágrimas provocadas.
Sendo brutalmente honesta, compreendo que alguns "jornalistas" sacrifiquem um título de notícia - e portanto um pedacinho de reputação - por uns milhares de cliques. E digo que compreendo porque estão a fazer exatamente aquilo que o povo pede. Sabem o que escrever para cativar a audiência e usam-no em meios de comunicação cuja sobrevivência pode estar em risco, porque não vêem que podem haver outras soluções onde a qualidade de um texto se sobrepõe ao clickbait ou uma notícia com o propósito único de chocar (ou não lhes cabe fazer isso pois não gerem o meio). Fazem-no porque, enfim: têm medo de perder o emprego, porque os meios perdem visualizações, perdem anunciantes. E a estratégia mais fácil é esta.
Não serve de desculpa, mas é assim que vejo as coisas, friamente, pondo-me no lugar de um ou outro "jornalista".
Apesar disso, continuo a pôr jornalista entre aspas, porque esse ato não reflete a carteira profissional e sim um momento de desespero, de chamada de atenção. Um exercício de vale tudo a troco de nada.
A seu tempo essas estratégias deixarão de resultar. Ou então, como verdadeiramente temo, nunca deixarão de resultar. Porque somos atraídos pelo escândalo como as moscas pela luz. E por mais que se achem deploráveis algumas partilhas, haverá sempre muita gente a querer ver qual o pedaço de verdade num título enviesado.
Há pessoas que gostam de falar e partilhar. À primeira vista, parece que é para o bem de quem ouve, mas é mesmo só para auto-expiação dos seus demónios. Só assim entendo que estívessemos sorridentes a conversar no calor da rua, na tal despedida de solteira que vos mencionei - a noiva indisfarçada com um véu improvisado na cabeça - e que uma senhora com idade para ter juízo tenha começado assim o seu discurso:
Vais casar? Que giroooooo! (O tratamento por tu, de quem andou na costura em conjunto com a minha amiga. O tom adolescente, de quem anda à procura de recuperar anos para sempre perdidos. Mas sobretudo a condescendência na voz, como quem finge entusiasmo para poder a seguir dizer o que realmente queria. E continua..)Estava aqui a ver-vos e pensei: só pode ser uma despedida de solteira! (Uau, que perspicaz. Viu tule na cabeça de alguém e percebeu logo que não era uma terça-feira como as outras!)Olha, fiquei mesmo encantada! (Mais um bafo no cigarro - o que explica a pele mais velha que a ladaínha - e começa a desenrolar a sua história.)Sabes? Também fiz aqui a minha despedida de solteira há muitos anos atrás!(Quase parece que era um voto de felicidade com saudosismo à mistura. Wait for it...)Claro que não durou! Não sabia o que fazia, era muito nova.(Eu, mentalmente, a ver a "minha noiva" a fazer uma vénia de agradecimento. Não passava bem sem esse pedaço de informação, pois não?)Queria ir viver com o meu namorado da altura e se não casasse não podia, por isso avançámos. Correu mal. E a despedida de solteira foi aqui, tal e qual como a tua!(Já não sabia como lhe agradecer a comparação, mas uma traulitada na cabeça começou a parecer-me apropriado.)
A noiva sorriu e ela desejou muita felicidade, toda a que houvesse no mundo. E pronto, lá nos deixou em paz, já tinha dito o que queria. Quase parecia um episódio de simpatia e talvez ninguém tenha levado a mal, senão eu, que sou cínica.
Não sou apologista convicta do casamento, mas acredito no amor de uns e nas más intenções de outros. Claramente, o que faltava à senhora da primeira, sobrava-lhe na última.
Por causa deste post em que queria ilustrar com algumas peças como ainda era cedo para começar a dizer adeus ao Verão, andei a passear (mais do que devia) no site da La Redoute. Conclusão: desgracei-me.
O vestido já tinha visto há uns tempo (adoro este género de camiseiro - ou lá o que é, a blogger in não sou eu) e estava pornograficamente a metade do preço. A blusa, em vermelho, sorriu para mim por menos de 10€, e comecei logo a imaginar-nos felizes, a dar longos passeios na marginal, abraçadas. O outro vestido...enfim, combina lindamente com o meu cadeirão amarelo da sala: como resistir a esse match made in heaven?
Tinha prometido a mim mesma que ia começar a poupar para umas férias das BOUAS (assim mal escrito e tudo, para verem o nível de qualidade) e vocês fazem-me isto (obrigam-me a andar no site da La Redoute para ver conteúdos para o blog).
Ao menos elogiem as peças. Vejam-nas lá e digam nos comentários: ui, adoro esta e sei como não conseguiste resistir àquela. Qualquer coisa que me convença que fiz a coisa certa.
Qual é a vossa favorita? Ou qual é que eu devia mandar devolver? Sejam fofos e repondam, respetivamente: todas e nenhuma.
Para que servem, afinal? O que estou a fazer de errado? Isto interessa-me para alguma coisa? Provavelmente as respostas são: pouco, nada e não. Mas ainda assim, por gentileza, sigam este link para a minha contribuição de hoje no blog Aprender uma coisa por dia, sobre hastags de Instagram e erros crassos que custam a vida às bóias de flamingos.
Trouxe uma gripe da despedida de solteira (estou velha para sítios que tresandam a tabaco e sol na cabeça às horas erradas). Foi piorando ao longo do primeiro dia até me deixar de rastos. A garganta inflamada, dores no corpo todo, febre alta - tudo a que tenho direito. O Moço foi trabalhar, foi ao ginásio e andou à caça de uma canja para mim. Sorvi uma tigela com dificuldade e tomei um Brufen que só depois vi que tinha validade expirada desde Maio. Durante a semana tive frio e calor, sem me decidir quando ter o quê e depois uma tosse desgraçada a toldar-me a garganta. Fiz quase nada do que queria e precisava, perfeitamente desconcentrada entre as dores que não matam mas moem e as tentativas de aguentar a tosse. Passo a citar-me, frase da passada quinta-feira: Sempre que não estou a tossir, estou a pensar como evitar tossir.
Assim, já melhor, senti-me culpada ontem ao deixar a casa do avesso, tanta coisa por fazer e nem sequer estar a sair para ver família, amigos, adiantar alguma ação ou alguma presença.
Tudo pr'ó diabo e só nós os dois, como às vezes tem de ser. Afinal temos um norte fantástico, que antes estava longe para explorar em escapadinhas de fim-de-semana, ao nosso dispor.