Tive uma sessão de compras em modo birra quando tive de me apetrechar para uma viagem no frio. As botas impermeáveis são horrendas, os casacos cabem todos na secção Michelin, as meias térmicas são caríssimas e a roupa interior especial para formar as camadas é só dispensável em todos os outros dias da minha vida.
Eu já não obedeço muito ao clichê das mulheres que gostam de ir às compras. Não me divirto, não vou se não tiver objetivo, não perco tempo. Prefiro comprar online - quem me dera que até o cabelo desse para cortar online. Tanto que comprei os essenciais de viagem no tal modo birra e nunca cheguei a experimentar nada - o que me valeu um par de calças de ski que me servem no mindinho e nunca usarei.
A viagem passou e tudo foi prontamente lavado e arrumado, enquanto decido se o destino é OLX ou fazer o Moço alinhar noutra ida à neve para fazer render as bichezas (alô Serra da Estrela?!).
Tudo menos...o casaco! Com a tempestade que tem estado por aí, mantém-me quente e abrigada da chuva sem fazer das tripas coração para manter um guarda-chuva a bailar ao vento. E...posso confessar? Gosto dele. Do meu casaco feio que tanto amaldiçoei. Que jurava que desprezaria. Pelo qual chorava cada cêntimo e ao qual julgo que arruinei o fecho (e nem me importo).
Desde que regressei, já o usei mais vezes que muita roupa comprada há anos com convicção de corpo e alma. Não sei quantas vezes terei feito isto a uma peça de roupa. Isto de pôr de parte sem realmente dar uma oportunidade. Ou a um filme. Um livro. A alguém? Porque até a roupa nos ensina lições.
Quando me vêem lidar com crianças de forma embevecida (coisa que sempre fiz, levo algum jeito para a canalhada) e alguém sugere que por isso devia arranjar JÁ uma para mim, lembro-me sempre da música do Miguel Araújo: Os Maridos das Outras.
Brincar com os filhos das outras também é o arquétipo da perfeição. Depois posso ir para casa satisfeita e dormir enquanto elas lidam com os problemas do ser não-tão-dócil em 24 horas completas.
Nunca tive medo de trovoada, até porque tinha noção que quando ouvia o barulho forte, já a desgraça de podia ter dado, mas lembro-me que isto era uma coisa que me assustava genericamente, mesmo que não houvesse pingo de chuva. Estamos protegidos? Dava muita importância ao pára-raios que morava no topo da igreja da aldeia e que me tinham explicado que assimilava o sacanita do raio por uma boa extensão de território. Mas quanto? E aquele espetinho seria sificiente se o raio fosse forte?
2
Atender o telefone.
Num tempo em que o identificador de chamadas não existia (pois é crianças, isso aconteceu e não foi assim há tanto tempo - a não ser que me queiram chamar velha e faço logo cara de mau-mau-maria), a pior coisa que me podia acontecer quando estava sozinha em casa era tocar o telefone. Ou, não estando sozinha, que os meus pais me mandassem atender por estarem ocupados (a minha mãe com o jantar, o meu pai com o zapping). Além disso, mesmo que fossem amigas, o telefone não se levava para o quarto e tinha de ficar a falar com toda a gente a ouvir #notcool. No entanto, mesmo com identificador de chamadas e de auscultador portátil a coisa nunca me entrou completamente. Falar com as amigas era mais por carta e tinha mais ou menos o uso que os jornais têm agora: só falavam do dia anterior, mas era mais aprofundado.
3.
Entrar em combustão espontânea.
Não sei onde foi que vi ou li que as pessoas podiam entrar em combustão espontânea. Dar-se ali um fenómeno qualquer, com determinadas condições reunidas e PUFF uma 'ssoa podia desatar a arder e finar-se, derretida. Na altura não havia Google e não sei se isso seria bom ou mau. Não pude ler mais sobre o assunto, então fiquei com a ideia que podia acontecer e nem podia ver o que fazer para evitar. Logo eu que nunca fui amiga de beber 1,5lt de água por dia e certamente isso me enquadrava no grupo de risco. Tolices de uma criança que via demasiados filmes e episódios de X-Files. No entanto, agora que escrevo este post na era do Google, também vou escolher nem ir ver se é verdade ou mito.
Quem mais se concentra tanto numa tarefa que só quando - horas depois - a dá por terminada, se apercebe que está varadinha de fome, cheia de frio ou calor e/ou com a bexiga a rebentar?*
*E antes de ir suprir as suas necessidades ainda escreve sobre isso no blog...
Estive fora da realidade por uma semana, num sítio que a minha imaginação só sabia conceber como cenários de filmes e a ter experiências que podem ser vulgares para alguns, mas foram aventuras de uma vida para mim. Vou contar-vos tudo: onde estive, o que comemos, onde ficamos e partilhar convosco o meu diário de bordo. Tiro sempre notas de viagem, coisas parvas, mesmo quando não as tenciono escrever no blog. Escrever torna as coisas mais reais e empresta-lhes memória. Também temos muitas fotos com uma amostra pequenina que já podem ver no Instagram. Também fiz muitos vídeos numa composição que pretendo editar só para mim e para o Moço, mas talvez possa fazer uma edição mais curta para vocês também espreitarem coisas das quais não dá para falar, só dá para viver. E, no meio de tanto registo, nunca nos esquecemos de dar primazia a ver com os olhos e sentir na pele. Prometo que não demoro a começar a partilha aqui, mas a verdade é que ainda não desfiz a mala, porque a realidade intrometeu-se logo no segundo em que acabei as férias. Entretanto se têm perguntas específicas ou temas sobre a viagem que gostavam que abordasse, deixem nos comentários. E preparem-se, porque agora que acabou a aventura, vou maçar-vos com o relato.