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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

14
Fev19

Se rima, é verdade.

Maria das Palavras

Reza a lenda que neste dia
O amor se deve comemorar.
E pensou esta Maria
"Vou fazer um belo jantar!"

 

Comer fora, nem pensar,
Só se gostarmos de comer apressados,
Que cada restaurante tem que sentar
Algumas 3 centenas de namorados.

 

Por isso coloquei o avental
(é mentira, nunca uso)
E soltei o meu Masterchef interior,
Que normalmente é um recluso.

 

Ora para prato principal
Algo afrodisíaco, com malagueta,
Mas nada que caia mal
e que impeça o canguru perneta.

 

Caiu a malagueta toda no tacho
Só reparei tarde demais
Quando provei: "oh diacho!
Isto nem para dar a animais".

 

Comprei uns lindos cortadores:
Moldes em forma de coração.
Comecei a cortar fruta com eles...
Pareciam rabos com infeção.

 

Quis compensar o desastre culinário
Com um presente ostentoso
Mas na loja era tudo ordinário
Ou nível Toy de piroso.

 

Virei-me para outra opção
Considerando trabalhos manuais.
Não daqueles que imaginam,
Mas que ele talvez ele apreciasse mais.

 

Um bonito postal desenhado
Com dois corações enlaçados,
Que ao fazer o recortado
Deixei visivelmente destroçados.

 

Com tudo a sair ao contrário,
nesta data tão infame,
Vou rasgar a página do calendário 
E rezar para que ele não reclame. 

 

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11
Fev19

A tua opinião é que importa (a não ser que seja diferente da minha)

Maria das Palavras

Algo diferente no meio de muitos iguais.


Há uns tempos separei - para dar - a minha camisola de malha cor-de-rosa favorita. Uma camisola com riscas e gola alta, muito antiga (tanto que era da Kiddy's Class, quem se lembra?), mas estava em condição impecável. Sempre gostei dela, sendo a minha camisola de recurso para me sentir confortável sem me sentir mal vestida. Entretanto ganhou um ou dois borbotos, mas até a esses ganhei carinho. Era gozada por andar sempre com a camisola (não andava sempre, mas como disse era a minha camisola de recurso). Lá comecei a pensar que talvez fosse tempo de me desfazer dela. A única razão para me livrar dela seria que outros não gostavam dela. Mas eu sentia-me bem com a camisola e, pondo as coisas em termos "MarieKondianos", a peça fazia-me feliz. 

Que interessa que fosse a única a apreciar a camisola, se gostava genuinamente de a envergar?


Cortei o cabelo. Cortaram-mo. Toda a gente diz que está muito bom (e nem é fingimento, pelo menos nas pessoas a quem o sei reconhecer). Fica-me muito bem e o Moço em particular, acha que é o corte que gosta mais de me ver. Não gosto e diz-se que sou dramática por isso, visto que repudio um corte que toda a gente elogia. "Deixa-te disso". "Fica-te bem". Como se o facto de toda a gente gostar tivesse de me convencer a estar feliz com esta forma de cogumelo capilar. 

Que interessa que o cabelo curto me fique melhor, se me faz sentir pior? Se acordo de manhã e não gosto do que vejo e é assim todos os dias? 


Quando aconselhamos os outros dizemos sempre: faz o que achares melhor, a vida é tua, não é dos outros. Mas se à força, nisto que são futilidades, me querem mudar a opinião porque estou em minoria - logo, não estou "certa"; imaginem como se dá este mesmo processo em tantos outros fatores. A nossa profissão, as pessoas com que nos damos, as experiências que vivemos, são certamente condicionadas pelo que os outros acham que deve ser. São certamente limitadas pelo socialmente aceitável, que exige menos energia, porque não é preciso contrariar. Gostamos porque a maioria gosta. Pelo menos, muita gente gosta. Mesmo quando tentamos ser do contra, mas somos do contra ao pé daquela fatia de gente que também é. Esses que não entram em rebanhos, mas se olharem para o lado vêem-se dentro da cerca com outras ovelhas negras.

 

Vocês vão dizer-me que não são assim. Eu também digo. Mas afinal, dei a camisola cor-de-rosa.

(mas certamente não vou manter o corte Hiroshima)

 

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