Atire a primeira pedra #49
Quem nunca, em gaiata, pegou nos catálogos La Redoute da mãe para maquilhar "melhor" as senhoras com marcadores Molin.
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Quem nunca, em gaiata, pegou nos catálogos La Redoute da mãe para maquilhar "melhor" as senhoras com marcadores Molin.
Spoiler alert: Este post contém reflexões sérias, publicidade descarada e uma boa dose de mimalhice.
O meu sobrinho emprestado (que na verdade é sobrinho do Moço) é viciadão no tablet. Não tem ainda dois anos e navega pelo Youtube (go Panda) e pelos seus jogos favoritos como um ás. Isto tem uma componente muito gira de o ver tão desenrascado e outra muito feia de uma criança tão pequena já estar tão agarrada à tecnologia. Ele também gosta de folhear livros (às vezes fica mesmo com as folhas na mão) e brincar com legos e pescar peixinhos com íman e tocar no xilofone e toda uma panóplia de coisas que não envolvem estar agarrado ao ecrã, atenção. Mas na hora da birra é o tablet que o sossega. Eu sinto-me muito dividida com isto (ele devia ou não mexer no tablet? O tablet devia ou não ser arma de chantagem e objeto de recompensa ou castigo?) mas não me atrevo a julgar, que não sou mãe - e os pais em geral já têm demasiada gente a julgá-los. Não se coíbam, no entanto, de deixar a vossa opinadela em baixo.
Mas se há coisa que me faz doer o coração é o pimpolho usar um tablet que na verdade é o iPad do pai. Ora eu não uso iCoisas mas sei o que elas custam e só de o ver a pegar no bicho, com as suas mãozinhas gingonas antevejo logo mil desgraças. Já para não falar das asneiras que ele faz a denunciar vídeos sem querer ou a clicar para comprar jogos da Apple Store (nunca compra, porque tem de pôr o pin, mas dêem-lhe mais um bocadinho a ver se ele não o aprende também).
E depois há a coisa que me faz derreter o coração que é ele chamar a tia (eu! eu!) para se sentar ao pé dele a ver os vídeos (já sou pró em músicas do Panda, da Xana Toc Toc, Heidi, Abelha Maia, até Sónia Araújo, só não nos chegamos ao Avô Cantigas que o pequeno tem medo!) ou pedir-me para o ajudar nos jogos de puzzles de animais.
Por isso não resisti, assim que o vi no shopping Odisseias, a mandar vir cá para casa este tablet especial para crianças para depois oferecer ao catraio. Tem na mesma ligação à net, tem uma série de aplicações já pensadas para a pequenada, tem Youtube (e Youtube Kids, já com vídeos selecionados para a criançada), tem uma capa de silicone boa para agarrarem (e mandarem ao chão) e o Kidoz que é um software pensado para os mais novos. Confesso que o que me venceu foi a ideia de mimar o miúdo mais giro do planeta Terra, que fica de beicinho quando os tios têm de ir embora, mas também fico mais descansada se souber que ele pode mexer nos vídeos e nos jogos que gosta sem pôr em risco um "brinquedo" tão caro como um iPad.
E agora? Fiz bem ou estou a alimentar ainda mais um vício que devia ser travado?
E a minha sogra, avó do gaiato? Vai ficar contente pelo neto ou vai-me rogar pragas por ter sido eu a mimá-lo desta maneira?
Pr'ó diabo com as questões: estou é ansiosa por lho dar e ser a pessoa favorita dele.
Disclaimer: Nenhum animal (de peluche) foi magoado no decorrer da composição deste post. Uma nota de agradecimento ao Gerevásio por ter servido de show girl para mostrar o tablet às pessoas. O post não foi escrito em parceria com ninguém, porque eu sei escrever sozinha.
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Pelo que entendo, dos agradecimentos que se fazem em blogs - nomeadamente muitos -, hoje em dia, são precisas cerca de 34 empresas para uma festa de aniversário de criança: a do local arrendado, a do catering, que não é a mesma que faz o bolo em forma de castelo (com tanque de crocodilos à volta e tudo), a que faz os convites, a que dobra os convites, a que fornece os brindes, a que tira fotografias, o palhaço, o pessoal especializado que ajuda os meninos a usar o penico...
E a minha mãe que fazia tudo sozinha na garagem lá de casa?
Acho mesmo que alguém devia falar sobre isto e talvez possa ser eu. Vou falar diretamente para as pessoas que têm um bebé a caminho nas redondezas, por entre amigos e família, e estão a pensar nessa dádiva (literalmente) gigante que o bicho entufado de pelúcia em proporções gigantescas, à medida do seu carinho pela criança que aí vem: estão-se a passar ou quê?!
Além de acumular ácaros para burro e potencialmente desenvolver doencinhas de pulmão às crianças, e a não ser que os pais da criança presenteada morem num palacete, respondam-me a esta perguntas:
1. Gostavam de ter um mostrengo gigante a ocupar-vos o espaço de uma peça de mobília numa das divisões?
2. Querem mesmo ensinar a criança, de pequena, a confiar em entidades grandes e peludas?
3. O que é que acham que os pais vão fazer aquilo quando o anjinho virar pré-adolescente e quiser uma decoração rock-punk do quarto?
E agora? Ainda acham um bom presente?
Vá, amanhem-se lá com qualquer coisa entre o útil e o mais-fácil-de-esconderarrumar e enviem as toneladas de carinho na forma de algo que não incomode tanto. Sei lá, beijinhos. Não, isso também não...
Em como hoje muitos pais têm mais um pedaço de lixo em casa (para o qual olham com carinho e do qual nunca se conseguirão desfazer).
Em como, volvido um mês, os 30 brinquedos que as crianças receberam no Natal em êxtase já estão arrumados a um canto onde ninguém lhes pega?
...quem nunca desejou dar um sedativo a uma criança.
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