Está bem, já percebi que a besta sou eu por não achar particular graça a darem-me os bons dias quando estou nua, suada e contrariada, a tentar fazer-me passar por despercebida, num balneário de ginásio.
Mas...se formos almoçar a casa de uns tios que já não víamos há muito tempo [a história que se segue é real e pode ferir susceptibilidades] e eles perguntarem como parte da conversa "como é que somos dos intestinos"? Também devemos considerar que é só questão de simpatia e descrever animadamente o funcionamento da flora intestinal?
Não estou a tentar comparar as duas coisas (até uma anta social como eu percebe a diferença). Estou só a tentar perceber onde traçar limites. E isto tem de ser ultrapassá-los, certo?
Vou com a minha irmã a uma loja meio snob - tem mesmo de ser ali, mas sabemos que não pertencemos naquele espaço. Contra todas as expectativas a senhora da loja trata-nos como princesas, explica tudo o que temos de saber sobre o que fomos comprar, ajuda a ver alternativas e no fim, enquanto faz a conta, ainda detalha as características num papel e coloca junto às nossas compras, para se certificar que fazemos bom uso.
A despedida é cheia de palavras simpáticas, boas tardes, boas sortes e sorrisos.
Vamos as duas até ao carro a comentar, supreendidas, o calor com que nos atenderam. Normalmente assistência a mais chateia, mas naquele caso era imperativa e a senhora foi tudo o que nem sonhávamos que ia ser. Decorreram uns bons minutos de conversa e quilómetros de caminho.
Até que ela me diz:
- Nem reparei quanto é que TU pagaste, depois tens de me dizer.
Eu esbugalho os olhos:
- Eu? Não foste TU que pagaste?
Certo, ninguém pagou. Algures entre a vergonha e o riso a bandeiras despregadas voltámos para trás. A senhora quando nos vê diz de sorrido cândido:
- Então, outra vez por aqui meninas? - Pois...desta vez viemos pagar.
A experiência da ida à loja snob foi portanto uma aprendizagem. Excelente atendimento e sem obrigatoriedade de pagar. Há poucos sítios assim, há. Vá, SONAE, põe os olhos nestas promoções. Quais 50% em cartão, quais quê.
Quando uma pessoa deixa as chaves dentro de casa e fica cá fora diz que ficou fechado na rua. Fechado? Rua? Ar livre? Toda a superfície livre do planeta terra? Ficamos fechados é se conseguirmos entrar.
O meu pai descobriu recentemente algo que eu até já tinha revelado ao mundo, mas muitos fizeram orelhas moucas: o bolo do caco é pão. Sem prejuízo da fama, porque é um pão maravilhoso, a designação é que está meio como aqueles comprimidos de alcachofra para emagrecer (é publicidade enganosa).
Se há coisa que o meu pai, criado no campo com uma parga de irmãos e comida muito tradicional, gosta pouco é de experiências culinárias. Nunca na vida tocou numa pizza, só vai ao McDonalds buscar gelados e nem quis saber de Bolo do Caco quando lho apresentei lá em casa.
Em todo o caso, para teimoso, teimosa e meia (eu e a irmã mai'nova). Portanto lá se viu coagido, no sentido mais ternurento que a palavra possa ter, a provar o bolo do caco. E juro-vos que foi uma cena daquelas que o dinheiro não paga. Ele repetia a cada trinca, quase a cuspir (as palavras, não o pão) "mas isto é pão! Estão a brincar comigo? Isto é pão!". Isto com os senhores que lhe venderam o dito "Bolo" a olhar (já com medo que ele os processasse, aposto, tamanha era a indignação). E ele repetia "Isto é pão!". Não é que não tivesse sido avisado.
O meu pai queria bolo. É que, à medida que os anos passam, ele tem ficado mais guloso. Ficaremos todos?