Humor negro entre irmãs
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"Mana, fiz uma coisa mesmo à Maria - sabes quando no cinema te desejam bom filme e tu dizes igualmente ao rapaz da bilheteira que está a trabalhar e não vai ver filme nenhum? - só que pior. Como já não vens à feira de Maio e a P. não podia andar comigo naquela nova diversão que faz loop e eu queria mesmo experimentar, ela lá me convenceu a andar sozinha. Então eu sento-me e o senhor que trabalha lá estava a passar por toda a gente antes de começar. Estendeu a mão e eu dei-lhe um high-five. Ele...estava só a verificar os cintos. Estendeu a mão para verificar os cintos e eu dei-lhe um high-five."
Conto-vos como me contaram.
A sair de um parque de estacionamento altamente inclinado e com paragens, o meu pai vai a forçar a embraiagem que naturalmente começa a cheirar um pouco a fumo. Ia ele, a minha mãe e a minha irmã no meu velho carrito, que já puxa menos que uma carroça de bois. Assim que a minha mãe vê um pouco de fumo, o que faz?
Foge. Sai do carro a meio da rampa do parque de estacionamento e começa a fugir atirando à minha irmã um "não vens?" a sumir-se.
Ora o meu pai e irmã sabem que a situação não é assim tão grave, embora incómoda. Lá saem finalmente do parque e alcançam a minha mãe, que segue em frente (como os malucos), encostando o carro ao pé dela.
- Entra!
- Nem pensem! Isso ainda cheira a fumo!
Então ainda andou mais uns 500 metros a pé, o carro a seguir devagarinho atrás como o carro-vassoura numa peregrinação a Fátima, até se sentir segura para voltar a entrar e seguirem todos viagem.
Quando me contam isto, entre muitos risos, uns dias mas tarde, a minha irmã diz:
- Já viste? Bela mãe! Foge do carro e deixa a filha ali, dentro de um carro que ela acha que ia explodir.
E a minha mãe, a única a manter-se séria, a recordar o pânico que sentiu nessa situação:
- Eu disse-te para vires! Não tens perninhas?!
Vamos juntar a isto àquele episódio em que veio um cão gigante (ela tem pavor de cães com tamanho acima de um garrafão de 5lt) a correr na direção dela e da minha avó e ela põe a minha avó à frente.
E ao outro em que ela ia a passear o nosso cão pequenito e vem um gato gordo a querer atacá-lo (também tem pavor de gatos) e ela se fecha no campo de futebol e deixa o cão à mercê das garras do outro bicho.
De facto as mães têm um instinto protetor bem apurado. A minha sei que tem. Para ela própria!
A minha irmã liga-me.
Ela: Tenho uma coisa para te dizer. É sério.
Eu: O quê?
Ela: A mãe morreu...
Eu: Ahahaha, sua balelas! Acabei de a ouvir tossir aí atrás. Só se se finou mesmo agora.
Ela: Estava a brincar. Mas agora a sério, liguei para te dizer uma coisa.
Eu: O quê?
Ela: O pai morreu...
Eu: Ahahahah. Esse pai que acabou de falar agora?
Ela: Não, isso foi o primo que veio cá dar as condolências.
Eu: Ahahaha. Tonta. Diz lá, queres alguma coisa ou não?
Ela: O Moço está contigo?
Eu: Não, está a trabalhar.
Ela: Ok. O Moço morreu...
Eu: Ahahahah. Esquece. Vou desligar.
Eu, a minha irmã e a minha mãe no restaurante. Isto depois de já termos abusado do Chao Min e eu ter-me aventurado com uma gelatina do buffet:
Maria: Eca, esta gelatina não é nada boa!
Mãe: Deve ser daquelas de marca branca.
Maria: Pois, Royal não é...e do Pingo Doce também não me parece.
Irmã: Acho que é gelatina do chinês...
Está bem, já percebi que a besta sou eu por não achar particular graça a darem-me os bons dias quando estou nua, suada e contrariada, a tentar fazer-me passar por despercebida, num balneário de ginásio.
Mas...se formos almoçar a casa de uns tios que já não víamos há muito tempo [a história que se segue é real e pode ferir susceptibilidades] e eles perguntarem como parte da conversa "como é que somos dos intestinos"? Também devemos considerar que é só questão de simpatia e descrever animadamente o funcionamento da flora intestinal?
Não estou a tentar comparar as duas coisas (até uma anta social como eu percebe a diferença). Estou só a tentar perceber onde traçar limites. E isto tem de ser ultrapassá-los, certo?
A minha tia a queixar-se do bacalhau muito salgado à senhora do restaurante, com ar muito sério:
- É que ainda me dá uma trombose!!
Vou com a minha irmã a uma loja meio snob - tem mesmo de ser ali, mas sabemos que não pertencemos naquele espaço.
Contra todas as expectativas a senhora da loja trata-nos como princesas, explica tudo o que temos de saber sobre o que fomos comprar, ajuda a ver alternativas e no fim, enquanto faz a conta, ainda detalha as características num papel e coloca junto às nossas compras, para se certificar que fazemos bom uso.
A despedida é cheia de palavras simpáticas, boas tardes, boas sortes e sorrisos.
Vamos as duas até ao carro a comentar, supreendidas, o calor com que nos atenderam. Normalmente assistência a mais chateia, mas naquele caso era imperativa e a senhora foi tudo o que nem sonhávamos que ia ser. Decorreram uns bons minutos de conversa e quilómetros de caminho.
Até que ela me diz:
- Nem reparei quanto é que TU pagaste, depois tens de me dizer.
Eu esbugalho os olhos:
- Eu? Não foste TU que pagaste?
Certo, ninguém pagou.
Algures entre a vergonha e o riso a bandeiras despregadas voltámos para trás. A senhora quando nos vê diz de sorrido cândido:
- Então, outra vez por aqui meninas?
- Pois...desta vez viemos pagar.
A experiência da ida à loja snob foi portanto uma aprendizagem. Excelente atendimento e sem obrigatoriedade de pagar. Há poucos sítios assim, há. Vá, SONAE, põe os olhos nestas promoções. Quais 50% em cartão, quais quê.
Quando uma pessoa deixa as chaves dentro de casa e fica cá fora diz que ficou fechado na rua.
Fechado? Rua? Ar livre? Toda a superfície livre do planeta terra? Ficamos fechados é se conseguirmos entrar.
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