Tenho uma capacidade invejável de sonhar. A dormir, não acordada, que o mundo não gira movido a ilusões.
Numa noite só, sou capaz de: escalar os Himalaias com o meu pai, fugir de uma multidão enraivecida de vampiros romenos com cenas daquelas em que estamos a correr e as pernas parece que travam, estar numa despedida de solteira com amigas onde o stripper - atrevido - beija a futura noiva (na boca!) e eu fico chocada a pensar se aquilo é aceitável e eu é que sou uma puritana, ver o nascimento do bebé de uma amiga após lhe rebentarem as águas no adro da igreja da minha terra (não me perguntem o que ela estava lá a fazer). Isto foi só hoje e é o pouco que me lembro.
Às vezes gostava de fazer aquilo que alguns psicólogos sugerem: uma espécie de "diário de sonhos", onde anoto logo ao acordar as aventuras e desventuras que ainda estão frescas na memória. Depois penso que se alguém lesse aquilo me ia internar e travo o impulso. Isso e porque me dá a preguiça de manhã. Sobretudo a coisa da preguiça.
Passar uns quantos dias (não só um fim de semana) isolada neste moinho.com, da Casa do Foral, com vista panorâmica para a Serra de Aire e Candeeiros. Já lhe pisquei o olho muitas vezes, mas a carteira (100€ por noite é o diabo), o tempo, a falta de internet lá em cima e a proximidade com a minha terra natal sempre me travaram. Mas caramba, gostava mesmo. Babem comigo.
Lembrei-me disto porque vi agora um desconto. Mas não chega...por isso se não tiverem aí campanhas de solidariedade para ajudar, podem sempre criar o movimento "Um Moinho para a Maria". Se cada pessoa que me lê mensalmente der 1€ já posso passar lá 20 minutos inteiros. 'Gradecida.
Queria ter tempo e escrever para o resto da vida. É esse o meu objectivo profissional.
Foi uma jornalista e conhecida blogger que o disse, a Catarina Beato.
Li esta frase e tive um daqueles momento em que uma luz desce sobre nós - não ao género Simara com os espíritos, nem ao género "a EDP tinha-me cortado a luz e agora voltou". Foi mais: porque é que eu nunca disse isto?
A minha vida não pode estar mais longe desta realidade e mais próxima deste desejo. Tenho um emprego nove-às-seis (quando não é nove-às-oito) e a vida organizada. No outro dia o meu chefe falava-me de uma oportunidade de aprendizagem para mim, de forma a que pudesse abrir a minha própria empresa num futuro não tão longíquo. E eu dei por mim a não querer isso. Até me questionei se seria falta de ambição. Mas era só a ambição errada, percebo.
Posso ser uma excelente profissional no que faço, mas o meu sonho nunca foi ser empresária. O meu sonho é o que disse a Catarina na frase com que abri o post: viver das palavras.
Algo que nunca concebi, porque sempre fui racional demais para acreditar que se pudesse viver de algo que nos dê tanto prazer.
Dizem os clichés que o futuro começa hoje. Não penso de forma nenhuma viver de um blog, mas começo por este baby step: escrever para os outros, quando na maioria das vezes escrevo só para mim.
Este é um blog sobre a desconstrução de tudo e mais alguma coisa, com a dose de pragmatismo, sarcasmo e pretensão com que me apetecer temperar cada post. Mesmo quando falo muito a sério.