A família de esferas
Hoje o post é em honra da minha irmã e da infância super criativa que tive oportunidade de lhe proporcionar. Temos sete anos de diferença e portanto a liderança das brincadeiras era totalmente minha. Jogava com ela a coisas tão divertidas como o transporte de copos de água sem entornar (no fundo era a forma de eu obter um copo de água, mas tornava aquilo uma espécie de Jogos Sem Fronteiras e só faltava a voz do Eládio Clímaco) e o levantamento de pés (eu via televisão, enquanto ela me segurava os pés, eu de pernas esticadas, o máximo de tempo que conseguisse).
A minha mestria para inventar joos revelou-se naquela que é ao mesmo tempo a brincadeira que a minha irmã melhor recorda e a que mais a traumatizou. Vocês sabes o que são rolamentos? E esferas de rolamentos?
Pronto. Sâo peças. De cenas com utilidades algumas (não sei). Sei que o meu pai tinha uma gaveta cheia de rolamentos e esferas de rolamentos à solta.
Então eu reuniao algumas esferas de tamanhos diferentes e compunha aquilo a que apresentava à minha irmã como uma família. Uma família da qual ela deveria tomar conta. Era a esfera-pai, a esfera-mãe e duas esferas-filhas (nunca fugia muito ao nosso próprio retrato familiar).
As esferas alimentavam-se de luz solar e dormiam numa caixa de fósforos devidamente forrada de algodão. Para que sobrevivessem ela devia alimetá-las diariamente, pô-las para dormir nas horas certas e dar-lhes banho (uma gota de água diária para cada esfera).
Era imperativo que as esferas sobrevivessem. Quando estivessem mortas, apresentariam manchas acastanhadas. Que é como quem diz ferrugem. Ferrugem que ela causava diariamente ao dar-lhes o banho de gota de água que eu instruía.
Conclusão: ela dizimava família inteiras, umas após as outras. Vivia frustrada com a incapacidade de as manter vivas e sentia que
Eu acho que foi uma sorte ela ter-me como irmã.
Já ela, conta hoje em dia esta história (bem melhor que eu) com um ar mais pesaroso do logro do que divertida e saudosa. Não percebo, não percebo...