A Maria do pé-sujo
Da coleção: factos sobre mim. Ando sempre descalça. Quando chego a casa não tenho aquele impulso (vivido por muita gente) de mudar para "roupa confortável" - se a roupa não for confortável, não a visto e pronto (nem acredito que giro e confortável tenham de ser antónimos). Nem sofro da pressa para desapertar o soutien. Mas descalço-me. Logo. Não porque os sapatos me martirizem ou porque tenha o síndrome sapato-não-entra (longe disso, já vos expliquei aqui). Porque gosto, porque quero, porque posso. E não me importo se o chão está acabadinho de lavar ou a precisar de um pano (em vez de pés), se tenho de ir à varanda polinizada buscar roupa, ou se está frio. Por isso, frequentemente, tenho os pés de um mendigo morto (sujos e frios). Ou do Hobbit, mas de um tamanho aceitável e com menos dois ou três pelos. O que justifica que a par do "bom dia" ou "amo-te muito" as expressões que o Moço mais me diz são "vai-te calçar" ou "vai lavar os pés". Nobres variações do clássico de adolescência entoado pela minha mãe: "não andes descalça".