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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

07
Dez15

A Maria e o Principezinho

Maria das Palavras

O pequeno príncipe louro, a rosa, o piloto que desenhou uma caixa porque não sabia desenhar uma ovelha e decidiu que ela estava ali dentro. Um livro que é lido com diferentes mensagens, por pessoas diferentes, de idades diferentes. Um livro de crianças, também escrito para adultos. Um livro que nos ensina coisas sobre a vida. Tantas, dizem.

O Principezinho
Sei que tinha pelo menos sete anos, porque foi no Continente de Leiria, que só abriu em 1993. Sempre que a minha mãe ia aviar-se para o mês, normalmente à boleia dos meus avós (que era Sábado e aos Sábados o pai trabalha), eu ia com eles e ficava sentada na secção dos livros a ler. Via todos, pegava num que me parecesse bem, sentava-me ao fundo de uma prateleira (às vezes da secção da roupa, onde me podia afundar um bocadinho) e lia. Era como estar numa biblioteca e pelo menos nunca ninguém me chateou por fazê-lo. Nem tinha porque fazê-lo que eu estimava os livros como se fossem meus. No fim das compras (e sabe Deus que eles conseguiam passar horas naquele exercício desinteressante de passear pelos corredores a escolher a melhor embalagem de papel higiénico - ainda hoje penso que seja esse trauma que me faz preferir as compras online) passavam lá para me ir buscar para a caixa, para pagarmos e sairmos. Na altura não deviam raptar crianças no supermercado, estou aqui eu a pensar. 

Nesse dia peguei n'O Principezinho. nem sei explicar porquê. A capa não era assim tão gira e a história, vista daqui dos meus 29 anos, sem mais interpretações (que a criança de pouco mais de 7 anos que eu seria, não alcançava simbolismos), é meio tosca, digo eu, a contrariar o terceiro maior fenómeno de vendas a nível mundial.

 

Em todo o caso a criança que fui era aparentemente mais esperta que a adulta que sou e percebeu o fenómeno do livro, mesmo sem nunca ter lido no Google sobre ele e sem saber que era suposto aquele conjunto de páginas conter uma história capaz de encantar muitos milhões.
Quando a minha mãe e os meus avós me foram buscar para nos encaminharmos para a saída, não correu tão bem como das outras vezes. Queria levar o livro comigo. Abri birra. Lembro-me de chorar no supermercado, logo eu que nem gosto de chorar, muito menos à frente de seja quem for. Logo eu que nunca fazia birras à minha mãe. Não sei o que me deu. Tenho imagens desse episódio na cabeça. As minhas lágrimas ruidosas. Ali nós todos à beira da prateleira dos livros que hoje em dia já não é no mesmo corredor.

A minha mãe foi impassível. Suponho que não quisesse premiar o mau comportamento e, ao mesmo tempo, bem sei que as compras iam sempre de tostão bem contado: as coisas da lista para comer e para a casa e um pequeno "luxo" que era praí uma peça de roupa da Zippy (que era necessária, afinal) ou uns chocolates para experimentarmos todos. Não vale a pena perguntar-lhe se foi isso que tenho a certeza que não se lembra. 

Então o meu avô disse que me dava o livro. O meu avô, a estragar-me em mimos, à neta mais velha, menina dos seus olhos. Tanto que só partiu quando eu deixei de ser menina - como se alguma vez eu fosse deixar de ser menina para ele, enfim.

 

O Principezinho

 

Tão longe que fui para ter esse livro, que fiz uma cena no supermercado. Para ter esse livro que, sem saber na altura, me deveria ensinar sobre a vida. Não valeu a pena. Hoje, que até sei o que são metáforas e posso interpretar o livro, continuo a não saber nada sobre ela. A vida.

 

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