A ordinária da vizinhança
Sou eu...
Já em tempos o Moço a estender roupa deixou cair para a janela do vizinho velhote uma das minhas cuequinhas pretas de renda. O vizinho nunca mais me olhou da mesma maneira.
Ontem foi a vez de me apresentar sem intermediários. A estender uma toalha, desenrolo-a e salta uma tanga verde alface (para se ver bem). Foi para o terraço da vizinha do primeiro andar. Sem stress. O vizinho do lado já nos tinha informado que era normal e sugerido que arranjássemos um acessório de pesca e uma corda para resolver o assunto. Moça prevenida, já tinha tudo em casa, montei a "cana" (que era um fio com um gancho no fim) e toca de a fazer descer até ao terraço. O vento não ajudava, não acertava nas cuecas e ainda eu estava a meio da minha tentativa quando oiço chegar...o cão da vizinha do primeiro andar. Puxei o gancho para não aleijar (ou trazer para cima) o animal e assisti impávida cá de cima ao cão a morder e esfocinhar as minhas ricas cuecas.
Fiz um minuto de silêncio pela peça de lingerie, engoli uma lágrima guardando o luto para mais tarde e segui na tarefa de estender roupa.
Estava farta de estender roupa e já só faltavam umas peças pequeninas e finas (pois...mais cuecas). Peguei em 3 e juntei-as numa mola. Assim as levei ao estendal e as deixei cair no mesmo segundo.
Pronto, não podia evitar mais. Corri despenteada ao primeiro andar para a vizinha me safar algumas cuecas.
O taradão do cão a ladrar fininho à porta. A vizinha afasta-o e pede-me que espere um bocadinho.
Entrega-me quatro pares de cuequinhas finas, rendadadas, do tipo que ela desaprova e aponta para as verdes: "estas o cão roeu".
A ordinária (que sou eu) agradece e volta para casa. Estende o resto da roupa (tudo miudezas) dentro de casa. Por hoje já mostrou roupa interior suficiente à vizinhança.
Sigam-me no Instagram - @maria_das_palavras e no Facebook aqui.