A ordinária da vizinhança III
Ainda não me tinha apresentado bem ao senhorio, não em todo o meu esplendor. Normalmente deixo que seja o Moço a falar com ele porque o homem é muito picuinhas para o meu estilo e o Moço tem mais 3kg de paciência que eu - e eu até gosto de morar aqui.
Mas na passada semana estava a acabar de fazer a sopa, num fim de tarde quente e descontraído, quando tocaram à campainha. O Moço não estava. Fui à porta, até estava descalça (adoro andar descalça), e era o dito senhorio. Vinha avisar do barulho das obras no dia seguinte, desculpar-se do incómodo, e estava mais sorridente do que é costume. Estranhei tudo: a atenção que estava a ter com os vizinhos e o sorriso - alguma vez o teria visto sorrir?
Ele disse o que tinha a dizer, despedi-me, fechei a porta e a seguir vou lavar as mãos à casa de banho. Olho para o meu reflexo no espelho. Renda de soutien colorida a saltar fora do top.
(Com isto já foram dois tipos de renda para ele, este mês...)