As mortes que chocam e as mortes que doem.
Os famosos vão morrendo. Têm aquela particularidade chata de continuarem a ser humanos e, portanto, ainda que para nossa incoveniência, são perecíveis e em última instância - às vezes com umas ajudas químicas, outras vezes nem por isso - exalam o último suspiro. E eu nem julgo quem mina as redes sociais de RIP, cenas do ator, músicas do cantor e outros que tais. Certo que há sempre uns que mal conheciam a obra e são carpideiras-surfistas (entram na onda). Seja.
O que me dá torvelinhos no peito, então? Que se diga que está a ser um ano terrível (e ouvi e li tantos desabafos assim desde ontem, com mais uma morte de uma estrela). Um ano terrivel seria que houvesse tal sequência de mortes das que nos doem - ou uma só - e não das que nos chocam. Das que me fazem dizer que quem morre é quem fica vivo, porque quem parte leva consigo para a cova, para o mar onde se espalham as cinzas, para o céu, para o purgatório, para o inferno (cada um acredita no que quiser) um pedaço irrecuperável de nós.
As mortes dos artistas, atletas, figuras públicas, imortais na sua obra, mesmo que todos de enfiada e um por semana, só fazem com que seja um ano terrível, um de cada vez (sem reparar na sequência), para aqueles a quem essa morte dói de facto. E esses não somos nós. Nós abrimos a boca em espanto, sentimos talvez um espasmo de tristeza e a nostalgia abate-se. Mas continuamos inteiros.